sexta-feira, 16 de abril de 2010


A "GRANDE MÍDIA", EM FILME DE 1979

Jarbas (Flávio São Tiago) e Mateus Romeiro (Tarcísio Meira) acertam ponteiros em "República dos Assassinos".
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Considerações do jornalista Jarbas (personagem do ator Flávio São Thiago) no filme “República dos Assassinos”, de Miguel Faria Júnior, de 1979:

“Uma das coisas que aprendi nesses anos todos é que a missão de um jornal não é dizer a verdade. Cada frase, cada foto, era arrumada nas páginas com uma determinada intenção: emocionar, fazer rir ou chorar, deixar trêmulos de medo e ansiedade os oprimidos. E informar aos privilegiados, através de códigos cifrados e pessoais, sobre quem eles deveriam temer ou contra quem eles deveriam lutar. Sim, o jornal tinha apenas um objetivo: contribuir para que o mundo dos poderosos se firmasse. Para a grande maioria, restava apenas acreditar que nas notícias estava o mundo em que eles viviam.”

“República dos Assassinos” é baseado no livro do mesmo nome escrito por Aguinaldo Silva, repórter policial no início de sua carreira profissional e hoje autor de telenovelas. Um filmaço. O elenco é de primeiríssima linha, com nomes como Tarcísio Meira, Anselmo Vasconcelos, Ítalo Rossi, José Lewgoy, Paulo Villaça, Milton Moraes, Rogério Fróes, Tonico Pereira, José Dumond, Sandra Brea, Sílvia Bandeira (gatíssimas e no auge da beleza física) e Elba Ramalho (fazendo uma ponta como mendiga). A trilha sonora é de Chico Buarque e inclui joias como “Não sonho mais” (apresentada na abertura em versão instrumental, cantarolada por Elba em sua curta participação e pela dupla Elba/Chico no encerramento) e “Sob Medida” (cantada – ou dublada, não sei ao certo − por Sandra Brea no filme, a música fez sucesso na voz de Fafá de Belém).

Jarbas faz suas reflexões depois de cair em desgraça ao ser tornado público seu conluio com Mateus Romeiro (Tarcísio), policial retratado à maneira dos integrantes do “Esquadrão da Morte” (no filme, "Os Homens de Aço") e de policiais corruptos da vida real − é muito clara a inspiração em Mariel Mariscott. O acordo entre Jarbas e Mateus é muito simples: o primeiro recebe do segundo, de antemão e com exclusividade, a data, horário e local em que um bandido será executado. Em troca, Jarbas exalta a “coragem” de Mateus em textos fantasiosos, que transformam marginais de menor monta, assassinados sem chance de defesa, em perigosos meliantes mortos ao "reagir à ação da polícia". Tudo com a anuência do dono do jornal, o oportunista Gilberto (José Lewgoy), que depois passa a combater a força policial que ele próprio ajudou a promover.

Quaisquer semelhanças entre Jarbas (e sua posterior análise do papel da imprensa), o empresário de comunicação Gilberto e a “grande mídia” não são mera coincidência. Concorda ou discorda?

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