terça-feira, 4 de outubro de 2011

A indigestão de Gaia




Com o aquecimento global, os furos na camada de ozônio e outros quizilas do planeta, a Teoria de Gaia de James Lovelock vem ganhando credibilidade junto à comunidade científica. Vamos aproveitar então admiti-la como válida.
Segundo essa corrente de ideias, a Terra seria um sistema auto-regulável de interações complexas entre organismos vivos e não-vivos. Assim como nosso corpo que tem parte orgânica e mineral, trocando figurinhas o tempo todo. É bom lembrar que a quase totalidade do planeta é constituída de material não-vivo e só uma pequena crosta, a biosfera, tem o dom especial de abrigar a vida. Para Lovelock a terra seria um bicho vivo, como um boi, um coral, um jumento ou um cupim.
Lembre-se,pesquisas asseguram que o planeta Marte já teve fartura de água e presença de vida, pelo menos microscópica. No entanto, por alguma avaria climática, cuja causa ainda não se conhece, a água evadiu-se para local incerto e não sabido e a vida desapareceu por completo. Portanto não é alarme de ecologista sem noção de que a vida na Terra possa a qualquer instante entrar em declínio, por causas naturais ou por ação e mérito de seu habitante mais interventor: o homo Sapiens (eu, você, o Bill Gates, a Gisele Bündchen, o doidinho da carrocinha). Um bicho bruto como nós, é bem provável que habitamos o centro fabril do animal planetário: o sistema digestivo. Somos uma lombriga. Uma lombriga anfíbia que oscila entre as relações cooperativas e parasitárias....

Poderíamos aventar que, até o advento da Revolução Industrial, o ser humano manteve com a Terra uma relação cooperativa, de proveito a ambas as partes. Éramos apenas um fornecedor de enzimas para catalisar a digestão. Todavia, com a entrada em cena da Revolução Industrial e suas máquinas malucas, queimando carvão e petróleo e expelindo dióxido de carbono, revolvendo o meio ambiente feito louco, o homo Sapiens sofreu uma metamorfose endiabrada. Digamos que antes a gente era só uma espécie de Triconinfa (um protozoário dócil que fornece a enzima que quebra a celulose na digestão bovina). Mas, com a mutação, nos convertemos numa espécie de Tênia Solium, a terrível lombriga solitária, que exaure o organismo hospedeiro para se sustentar, impingindo-lhe a desnutrição crônica. E o que é pior: ainda laça ovos peçonhentos no sistema nervoso central, causando doenças incuráveis e letais.
O planeta Terra é um ser portador de neurocisticercose, uma quase vaca-louca. A gastrite, as úlceras, as náuseas, os vômitos, as diarréias e sons estranhos em todo o intestino causam desconforto para quem o habita. Sem contar as perturbações de seu sistema nervoso que nos deixam confusos das ideias. As doenças mentais, como o estresse e a síndrome do pânico, já são as mais abundantes em nossos dias
É muito fácil alegar que nada podemos fazer para reequilibrar o clima na Terra. Podem argumentar que a vida em Marte extinguiu-se sem alcançar o apogeu e lá não havia o homo Sapiens com a tirania de suas interferências. Eu vos digo, porém, não vamos misturar as coisas. Realmente não se conhecem as razões do desaparecimento da vida em Marte, nem as razões porque a vida não medrou em outros planetas, mesmo nos mais distantes, de outros sistemas, supostamente detentores de clima salubre e ameno, como o do nosso planeta. Mas uma coisa já se sabe, e é sabido sobejamente: a intervenção humana está passando em muito da capacidade de tolerância do planeta, a tal ponto de cientistas abalizados quererem apelidar a nossa era geológica de Antropozoica. Ou seja: um momento da história terrena em que o ser humano é capaz de determinar a sorte do planeta.
Uma coisa é certa: no processo evolutivo, somos os únicos bichos dotados de raciocínio, aprendizagem em larga escala e acumulação cultural. E foi nesse processo que Deus surgiu, como a cereja metafísica do bolo criacional.
No entanto, até agora, a inteligência, que nos faz tão especiais, tem vergado a espinha aos ditames da estupidez e vem trocando as condições de sobrevivência do planeta por míseros trocados. Para quê? Para comprar bugigangas no Shopping.
Será que seríamos dotados de inteligência, mas uma inteligência de... lombrigas? Diante de tal situação, é como diria aquela velha propaganda de fitoterápico digestivo: assim, o buchino de Gaia não vai aguentar, não.

revista Bula

Nenhum comentário:

Postar um comentário