sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Como não fazer absolutamente nada e achar que está ajudando em uma rede social



Virou moda no Facebook e vários foram atrás. Propuseram o seguinte: "coloque no seu perfil a imagem de um desenho animado, para protestar contra a violência infantil". 

Fazer uma campanha para doar brinquedos para abrigos de crianças? Propor doação de sangue? Pressionar o Ministério Público para ser mais rápido e ágil nos processos envolvendo violência contra crianças? Não. Tudo isto é muito trabalhoso e exige que o nobre usuário saia do computador, tenha que talvez gastar dinheiro para comprar brinquedos e tenha que "gastar" alguns neurônios.
Bem mais fácil é trocar a foto do perfil por algum desenho dos anos 80 e dizer que isto é um protesto é bem mais fácil.
Protesto? Espere, deixe-me recuperar o ar, depois de tanto rir. Este aí consegue ser mais inútil que aquelas passeatas onde a classe-média garbosa e cheirosa se veste de branco e vai para o meio da rua, dizendo que "quer paz".
Não, vocês não estão protestando.
Apenas estão sendo papagaios e repercutindo a campanha de marketing de uma empresa. Enquanto colocam a imagem dos "Padrinhos Mágicos" no perfil, uma conversa mais ou menos assim ecoa em uma sala de reuniões:
-Viu só, Flávio? Tá todo mundo trocando a imagem do perfil. Aquela desculpa do "protesto contra a violência infantil" foi um sucesso.
-Internauta brasileiro adora seguir tendência, acha que fica pra trás se não copiar os outros. Fizemos no Facebook o que já fizemos antes no orkut.
-Nem precisamos gastar nada com crianças. Eles já estão achando que vão acabar com os problemas assim. Público brasileiro é volúvel e burro. Gringo jamais seria otário de cair nessa.
-Tem razão. Vamos almoçar? As ações já estão subindo.


Como teste, criei uma campanha simples, propondo que as pessoas compartilhassem em seus murais a foto de alguém famoso que faleceu de câncer, mas fez muito pela humanidade e que as pessoas espalhassem em seus Facebooks informações sobre a doença, incentivassem a doação de sangue e de medula etc. Poucas compartilharam.
A fórmula "pouca filosofia+compartilhar sem pensar" é mais fácil de ser digerida.

Espalhar coisas inúteis está sempre em voga.Porém, o mais engraçado é que quando eu e alguns amigos provamos que trocar a foto do perfil é um gesto completamente inútil, os "seguidores da tendência" ficaram bravos.
"Como ousam questionar a massa?", devem pensar.

Vamos abrir um parênteses: Alguns usuários colocaram a foto de um desenho apenas para lembrar a infância. Ao menos estes, conscientes, sabem que não vão resolver nenhum problema das crianças. Já os que trocaram achando que estão salvando o mundo..os publicitários agradecem.

E aí? Vai procurar um abrigo de crianças da sua cidade (coisa fácil de se encontrar pelo google), visitar uns orfãos e levar uns brinquedos? Ou vai continuar acreditando que o inconsciente coletivo da sociedade verá suas imagens do Cartoon Network e pensar " opa, espera aí, estão colocando isso para protestar contra a violência. Vamos parar. Acabou toda a violência infantil. Viva o Brasil"?
Reflitam sobre essa MÚSICA

JORNALISTICAMENTE FALANDO

Nenhum comentário:

Postar um comentário