Mário Augusto Jakobskind
O ministro Nelson Jobim abriu o jogo. Mas independente de ter revelado que na eleição presidencial do ano passado votou em José Serra , Nelson Jobim jamais poderia ser ministro de um governo que se propõe progressista e com credibilidade. De qualquer forma ainda está em tempo de uma faxina.
Mas, como assinalam os mais críticos, em um governo que tem como ministro Moreira Franco, mesmo ele sendo uma figura decorativa, tudo é possível, inclusive Nelson Jobim ser ministro da Defesa.
Se Dilma, e antes Lula, defende Jobim no Ministério da Defesa, é sinal que nem tudo são flores no processo democrático do País. Resta saber exatamente o motivo pelo qual este cidadão acima de qualquer suspeita ocupa o cargo por tanto tempo seguido.
Jobim é capaz de fazer de tudo, inclusive certas coisas que muitos poderiam até duvidar como, por exemplo, confessar, vestindo a toga de ministro do Supremo Tribunal Federal, que quando era deputado do PMDB e relator da Constituinte redigiu dois artigos relacionados com a questão orçamentária que não haviam sido votados ou sequer discutidos em plenário....
O mesmo Jobim, já na condição de ministro da Defesa, de forma ridícula e ilegal, vestiu uniforme militar de campanha. E os meios de comunicação deram a maior cobertura, não censurando a atitude, mas colocando a foto em destaque, como se fosse algo natural e salutar.
Mas fatos desabonadores contra Jobim não param por aí. Há poucas semanas documentos do WikiLeaks revelaram que Jobim informou a diplomatas estadunidenses que os então ministros Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães eram “antiamericanos viscerais”. E tudo ficou por isso mesmo. Até pior, Jobim continua ministro e os dois mencionados deixaram de ser.
Jobim, em suma, desabona qualquer governo, talvez não o de Fernando Henrique Cardoso. Sua continuidade no cargo deve ser analisada com mais rigor e remete a uma pergunta que muita gente deve estar querendo formular: Por quê? Será alguma imposição? E qual o motivo de Lula ter se empenhado tanto para mantê-lo como ministro da Defesa no governo Dilma?
Não resta dúvida que por detrás do pano têm fatos escondidos a sete chaves. Jobim se sente tão seguro que se julga no direito de fazer e dizer qualquer coisa, inclusive que votou no adversário da atual presidente, mesmo sendo ministro de um governo que apoiava a candidata. E será que tanto faz este ou aquele na Presidência para Jobim se manter no cargo? Será Jobim fiador de alguma coisa que os brasileiros desconhecem? Quem o banca?
Já que falamos em fatos escondidos, vale também lembrar a atual crise na Líbia, que caiu em total silêncio, quando a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) segue diariamente bombardeando a capital daquele país do Norte da África e provocando vítimas.
Pelo menos dois congressistas estadunidenses se posicionaram enfaticamente contra a participação dos Estados Unidos na guerra contra a Líbia: Cyntia Mckney e Dennis Kucinich, ambos do Partido Democrata. Cynthia passou duas semanas na Líbia e voltou indignada pedindo o fim desta mais recente aventura bélica estimulada pelo complexo industrial militar. A mídia de mercado, para variar, praticamente silenciou sobre o posicionamento dos dois parlamentares. É que a verdade muitas vezes contraria interesses e por isso não raramente ela é mantida escondida.
Neste sábado, dia 30, foi bombardeada a sede da TV estatal líbia provocando a morte de três pessoas e ferimentos em outras 15. O alvo da Otan é atingir o dirigente Muammar Khadafi. Por isso, os mísseis “inteligentes” têm feito vítimas civis e destruído bairros inteiros, o que mereceria também alguma manifestação de qualquer tribunal internacional, sobretudo o de Haia.
Os rebeldes reconhecidos por vários países ocidentais tinham dado um prazo, já esgotado, para Khadafi deixar o país. O dirigente líbio avisou que não atenderá ao pedido do gênero bravata, porque os próprios inimigos do dirigente sabiam que por mais apoio que tenham da Otan, o ultimato não seria cumprido.
Na área internacional vale lembrar ainda que setembro se aproxima e com a chegada deste mês a Organização das Nações Unidas (ONU) terá de se definir em relação à proposta de criação do Estado Palestino. Será a forma de se tentar romper o impasse que se arrasta há anos e já deveria estar resolvido. Os Estados Unidos, como acontece sempre, procurarão exercer seu poder de veto, cedendo às pressões dos defensores incondicionais de Israel.
P.S.: O jornalismo perdeu uma grande figura: Procópio Mineiro, o jornalista que na rádio JB comandou a equipe que decifrou o enigma da Operação Proconsult, um esquema fraudulento organizado para dar a vitória ao candidato do regime autoritário, Moreira Franco, em 1982, e evitar assim a ascensão de Leonel Brizola. Se não fosse isso, o setor de inteligência do regime associado a TV Globo elegeria o governador do Estado do Rio.
Mário Augusto Jakobskind é escritor, correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha e integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato.
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