terça-feira, 2 de agosto de 2011

A internet que conhecíamos morreu



A verdade está lá fora

Por Bruno Medina

O post de hoje começa com uma pergunta cuja resposta parece ser relativamente óbvia: ao utilizar a internet, você considera sofrer algum tipo de censura? A maioria dos leitores, suponho, diria que não. Baseariam suas argumentações no fato de vivermos num país regido pela democracia e pela liberdade de expressão, princípios que por si só asseguram aos seus cidadãos acesso pleno a qualquer tipo de informação disponível na web, certo?.....

Bom, era assim que eu pensava até muito pouco tempo, mais precisamente desde que fui convencido de que a Internet, como a conhecíamos, morreu. “Como assim, Bruno, tá louco? Hoje mesmo eu chequei meu e-mail várias vezes, conversei com meu primo via Skype, tweetei com amigos, publiquei umas fotos do fim de semana no Facebook, ou seja, passei o dia todo na web…”.

Uma pequena correção: o hipotético autor da afirmação passou o dia todo navegando através de aplicativos, os mesmos que estão progressivamente substituindo a internet aberta e irrestrita por plataformas de acesso controlado. A verdade é que, por mais que amássemos a sensação de liberdade propiciada pela “world wide web”, aceitamos trocá-la por serviços que simplificam o dia-a-dia, ou que apenas se adequam melhor às nossas necessidades triviais.

Tá, mas o que há de tão errado nisso?

Bom, aí depende, digamos, do seu apetite pela “verdadeira informação”; consideremos como exemplo o impressionante relato de um especialista no assunto, Eli Pariser, durante apresentação realizada no TEDdo ano passado: dizia ele que, ao acessar o Facebook, começou a notar que amigos de orientação política distinta da sua começaram a desaparecer do feed de notícias, sem qualquer explicação; mais tarde veio a descobrir que isso aconteceu porque o site conhecia a inclinação partidária de Eli e de alguns dos seus conhecidos, e que portanto decidiu de maneira arbitrária que pessoas de correntes políticas contrárias não deveriam receber informações constantes uma das outras.

Não satisfeito, Eli resolveu ir um pouco mais a fundo. Propôs a dois colegas que buscassem simultaneamente a palavra “Egito” no Google e que salvassem as telas que exibiam os achados das pesquisas para posterior comparação. Apesar de tratarem-se de homens com idades semelhantes, ambos residentes na cidade de Nova York, surpreendentemente, os resultados obtidos não poderiam ser mais discrepantes. Enquanto um recebeu dicas de restaurantes e passeios turísticos disponíveis no Cairo – nada muito relevante – o outro obteve diversos links de reportagens sobre os protestos que ano passado culminaram com a renúncia de Hosni Mubarak.

Ao buscar explicações para o estranho acontecimento, Eli soube por um técnico do Google que o site analisa nada menos do que 57 sinais, tais como modelo de computador, browser e localização geográfica para filtrar resultados das buscas que eu e você realizamos todos os dias. A conclusão aterradora é a de que não existe um resultado padrão do Google, mas sim um que varia de acordo com enigmáticas conjunturas.

Do jeito que a rede se estabeleceu atualmente, o universo do que enxergamos na internet é delimitado apenas pelo que esta acha que desejamos enxergar. É como se estivéssemos dentro de uma grande bolha, que utiliza nossos presumidos gostos para filtrar toda a informação do entorno, sem nos dizer como ou por que. Não é o caso de fazer apologia ao fim dos diversos filtros que incidem sobre nossa jornada pela web, afinal seria não só ingênuo como também impraticável conceber a ausência de qualquer tipo de controle. Talvez uma reivindicação mais plausível, e também mais realista, seria cobrar dos senhores que controlam as portas de entrada e de saída das informações que circulam na web a divulgação dos critérios que utilizam para tal.

Para terminar, proponho uma nova reflexão sobre a pergunta que abre este texto. Será que sua resposta ainda seria a mesma?


Bruno Medina é músico da banda Los Hermanos e escritor nas horas vagas. 
Aldeia gaulesa

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