quinta-feira, 4 de agosto de 2011

De novos ricos a novos pobres


Mario Queiroz, IPS / Envolverde

“A crise é só para alguns”. Esta é a frase mais ouvida e lida em Portugal após os ajustes impostos em maio pela União Europeia (UE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para conceder um resgate financeiro de US$ 112 bilhões. De fato, enquanto os vendedores de automóveis esportivos de luxo se queixam de não poderem atender aos pedidos no prazo desejado pelos clientes, o Banco de Alimentação contra a Fome (BAF) enfrenta problema semelhante, por não poder realizar integralmente seu trabalho.

Até 2009, os usuários exclusivos do BAF eram as famílias mais pobres.Atualmente, no entanto, recebe pessoas da classe média que, rompendo a barreira da vergonha, pedem alimentos e apoios médico e espiritual. A organização Defesa do Consumidor (Deco) recebe diariamente pedidos de ajuda feito por pessoas incapacitadas de cumprirem suas obrigações junto a bancos e demais entidades financeiras que, somente em junho, retomaram por falta de pagamento as casas de aproximadamente três mil famílias.

A economia de Portugal, que nos últimos 25 anos conseguiu abandonar a sina de país periférico e apresentava um futuro promissor, caiu no fundo do poço da crise em 2009, com o inevitável aparecimento de milhares de novos pobres, antes membros da classe média, principal vítima dos aumentos de impostos, das reduções salariais e dos prêmios em dinheiro, bem como demissões de um dia para outro.

Desde sua entrada na UE, em 1986, Portugal registrou um claro avanço. Porém, todos os economistas hoje concordam que este êxito foi mais virtual do que real. O crédito fácil sustentado nos rios de dinheiro proveniente do bloco se refletiu na proliferação dos telefones celulares, canais de TV a cabo, rodovias, automóveis e casas adquiridas a prazo.”
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