quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A Violência e a Manipulação da Mídia: Uma ‘Guerra’ Carioca

Allan Mahet, CartaCapital

"Muito providencial um dos itens das 10 Estratégias de Manipulação através da mídia por Noam Chomsky. Criar problemas e depois oferecer soluções

Esse método também é denominado “problema-ração-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” previsa para causar certa reação no público a fim de que este seja o mandante das medidas que desejam sejam aceitas. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o demandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para forçar a aceitação, como um mal menor, do retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços púbicos.

De modo algum pretendo aqui expor que as ações violentas dos últimos dias tratam-se apenas de ampla manipulação midiática. Elas são reais, graves e inaceitáveis, mas não podemos que os fatos ceguem nossa criticidade.

O problema reside nas falácias do discurso governamental e reproduzidas por toda a grande mídia, que são acatadas sem qualquer parcimônia pela população bestificada diante dos carros e ônibus incendiados diariamente e maravilhada com o avanço de tanques e caveirões. População esta que a pouco pode conferir nos cinemas uma verdade sem muitas maquiagem sobre a questão da violência no Rio.

A primeira mentira é a de querer nos fazer crer na total organização e coordenação das ações criminosas. Existem milhares de escutas telefônicas, algumas centenas de X-9 e profissionais infiltrados no tráfico que conseguiriam identificar tamanha mobilização. Se considerarmos essa possibilidade como viável, das duas uma. Ou governo realmente mente ou nossa inteligência policial não é tão inteligente assim. E para mim é inadmissível uma inteligência menos inteligente do que eu.

Posteriormente, em todo o discurso faz-se uma defesa da ideia de desarticulação do tráfico de drogas. MENTIRA !! Se fosse o Padre Quevedo iria falar: “é charlatanisse, isso non ecxiste”. É impossível acabar com o tráfico. Existindo consumidores existirá demanda, existindo demanda haverá venda. Havendo venda… é trafico.

Existindo o playboy do condomínio de luxo que faz passeata pela paz abraçando a Lagoa, o Leblon, o Cristo Redentor, que dá sua cheiradinha dominical, existirá tráfico. Existindo o juiz que aprova o habeas corpus dos realmente grandes traficantes, existindo a policia corrupta arregada do tráfico, existindo a criminalização da pobreza, existindo a vista grossa de nossa ‘polícia de fronteiras’, existindo o mega empresário que negocia com os narcotraficantes internacionais e existindo vossas excelências polítcos fichas podres, existirá o tráfico de drogas. Chega a ser indecente as manchetes intitulando as ações à Vila Cruzeiro, como o Dia D da guerra ao tráfico (O Globo de 26/11/2010) e chamá-las de ataque decisivo. O tráfico, como dito, continuará existindo, invadindo a Vila Cruzeiro, o Alemão ou a Rocinha. Esta simplicidade que a mídia tentar nos empurrar é inverídica.”
Foto: AE
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