quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Quando a mídia se torna golpista, a vítima é a verdade



Em 64, em nome de ameaças à democracia que não existiam, o que se queria era justamente acabar com a democracia que existia
Eu não sou jornalista. Faço um blog de opinião, que não é uma concessão pública, como é uma emissora de televisão. Mas nenhum de meus leitores viu ou, espero, verá este blog mentir deliberadamente e distorcer fatos por interesse político ou ideológico.

Domingo, ao tratar da polêmica sobre o Plano Nacional dos Direiros Humanos, fiz questão de transcrever os trechos que estavam gerando, encomendada ou não, reações.

Considero isso não um dever jornalístico, do qual estou desobrigado, mas um dever de honestidade e ética, ao qual todas as pessoas estão obrigadas.

Muito mais ainda um concessionário de serviço público de comunicação.

Ontem, no blog Viomundo, o jornalista Luís Carlos Azenha faz a transcrição da inacreditável “matéria-entrevista” feita com o advogado Ives Gandra Martins, um dos porta-vozes da direita. Ele poderia dizer o que quisesse. A emissora, não. Opinião, poderia ter todas, mas não fazer afirmações que sabia serem falsas.

O jornalista Bóris Casoy, mesmo estando em época em que devia ser mais humilde, depois dos episódio onde menosprezou e humilhou os garis, abre a matéria (que você pode ler na íntegra aqui ) com um texto que é pura calúnia:

“O novo decreto de Direitos Humanos do governo federal é criticado pela sociedade e até mesmo por ministros de estado. A lei estabelece censura aos meios de comunicação, atenta contra o direito de propriedade e ainda liberdade religiosa.”

Num país com instituições plenamente democráticas, o apresentador e a empresa deveriam estar, neste momento, sendo judicialmente interpelados para provarem suas afirmações ou desmentí-las, sob as penas da lei civil brasileira. Não é preciso uma lei de imprensa para definir o que é calúnia.

Mas aqui, cumprir a lei seria instituir a ditadura sobre a imprensa.

Reparem que, com todas as críticas, não disse o mesmo naquele episódio do artigo de Cesar Benjamin. Ali, a responsabilidade é pessoal do cidadão que fez a afirmação e um jornal não é uma concessão pública.

Um canal de TV, ao contrário, é.

Animada com o exemplo da Band, ontem a Globo fez o mesmo, mas de maneira mais sutil, se é que se pode chamar de sutil um tipo de manipulação de baixos propósitos como esta, que o mesmo Azenha analisa muito bem em outro post.

Compara os planos de Direitos Humanos de Fernando Henrique e o de Lula. O primeiro, democrático; o segundo, totalitário, sobretudo, no tratamento à imprensa

Veja os textos dos decretos de Lula e de FHC e veja, veja se consegue perceber, neste item sobre os meios de comunicação, alguma diferença neste sentido:

a)”Promover o mapeamento dos programas radiofônicos e televisivos que estimulem a apologia do crime, a violência, a tortura, o racismo e outras formas de discriminação, a ação de grupos de extermínio e a pena de morte, com vistas a identificar responsáveis e a adotar as medidas legais pertinentes”.

b)”Garantir a possibilidade de fiscalizacão da programação das emissoras de rádio e televisão, com vistas a assegurar o controle social sobre os meios de comunicação e a penalizar, na forma da lei, as empresas de telecomunicação que veicularem programação ou publicidade atentatória aos direitos humanos”.

c)”Elaborar critérios de acompanhamento editorial a fim de criar um ranking nacional de veículos de comunicação comprometidos com os princípios dos Direitos Humanos, assim como os que cometem violações”.

Alguém consegue dizer qual dos três textos é do decreto de Lula por algum traço autoritário que contenha?

A verdade é que, desde que a imprensa se reuniu às forças conservadoras para derrubar o Presidente João Goulart, a imprensa nunca foi tão livre para se opor a um Governo quanto é agora. Falar que a imprensa é reprimida pelo Governo, que o governo cerceia as tevês, rádios e jornais é mais que uma piada. É armação.

Esta suposta crise, como venho dizendo há dias, é uma armação político-eleitoral – por enquanto, eleitoral. É a esperança de parte da direita, de sua parte mais elitista e subnegocial – porque vive e quer viver das sobras dos grandes negócios, que de forma alguma foram prejudicados pelo Governo Lula – que não se conforma com nada que seja o coronelato que exerce sobre a política.

Ontem, ainda bem, o presidente Lula disse que não espera ser chamado, na campanha, de “Lulinha Paz e Amor”, como venho afirmando há tempos não seria. E disse que espera “chutes na altura do peito”. Acho que aí, está enganado. Serão abaixo, muito abaixo.

Cada vez que este país se encaminha para transformações, as reações desta parte da elite são estas. Agora, nossas vivandeiras de quartel têm como diferente, apenas, o fato de serem eletrônicas. Mas a “democracia” que defendem é a mesma que nos deram a partir de 64.

Brizola Neto

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