domingo, 25 de outubro de 2009

Carlos Nobre: por um BRIC tropical

por Afra Balazina, n'O Estado de S. Paulo, 25/10/2009

O Brasil precisa se distanciar das nações do Bric, composto também por Rússia, Índia e China, e de outros países em desenvolvimento. Deve criar um GTropical, grupo que reuniria nações que possuem florestas, e liderar as demandas daquelas que são ricas em biodiversidade e recursos naturais nas negociações para um acordo climático em Copenhague (Dinamarca) durante a conferência do clima que ocorrerá em dezembro.

A opinião é de Carlos Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que acaba de ser nomeado para a presidência do conselho diretor do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas.

[...]

O que o senhor espera do Brasil na conferência do clima?

Minha expectativa é que o Brasil assuma um papel de liderança mais afirmativa. O Brasil tem tudo para ser um importante líder, como foi em Bali, quando o ministro Celso Amorim quebrou o gelo dizendo que os países em desenvolvimento poderiam assumir não metas, mas compromissos voluntários verificáveis, quantificáveis (de redução das emissões). Em 2007, o gelo foi quebrado com uma proposta audaciosa para a época, e isso precisa ter continuidade. Mas liderar sempre significa assumir responsabilidades. Uma liderança efetiva, não somente discursiva, implica assumir responsabilidades. Você não imagina o impacto que terá o País anunciar, em Copenhague, que cortará em 80% o desmatamento da Amazônia. Até agora, a proposta está no plano nacional de mudanças climáticas. Mas será um compromisso internacional, perante todos os países, e isso trará repercussões imensas, provocará uma onda de choque nos países tropicais.

De que forma o Brasil tem de mostrar sua liderança?

O Brasil não pode só olhar para o Bric. É lógico que não poderíamos deixar de estabelecer uma parceria forte com esses países, mas temos de ter um desejo de liderar uma revolução em regiões tropicais. O Brasil - o único Bric tropical - tem a melhor condição para isso. O País não pode colocar todos os ovos no cesto do Bric ou do G-77 (grupo que reúne os países em desenvolvimento). É preciso haver um GTropical, que não existe ainda. Os tropicais têm muitos recursos naturais, biodiversidade, floresta. Todos são países em desenvolvimento e estão no G-77, mas têm peculiaridades. Essa pujança de recursos naturais dos países tropicais foi mal aproveitada até agora. O Brasil é hoje o único que tem a capacidade de monitorar o que acontece em florestas tropicais.

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