quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Buraco da crise nos EUA é mais embaixo

por Heloisa Villela, de Washington, para o R7

Finalmente!

Hoje tive certeza de que não sou um ET. Ou, se sou, ao menos não estou sozinha…

Faz tempo que venho discutindo com amigos, parentes e colegas: por que tanta ênfase nos bônus dos executivos de Wall Street? A resposta é óbvia. Eles estão levando para casa o dinheiro do contribuinte já que foi o governo americano que tirou todos eles do buraco. Isso todo mundo sabe. Mas repito: por que tanta ênfase no que é aparente e não na estrutura, na substância? Sempre achei que o mais importante é o que o Congresso americano NÃO está fazendo e as instituições financeiras estão super organizadas para evitar que aconteça: a volta das regras para evitar que o jogo se torne uma ciranda especulativa sem fim.

Foi o que mais se falou no primeiro momento da crise. “É preciso regulamentar os bancos”, gritavam todos. Foi assim nas reuniões do G-20, no Congresso, na Casa Branca… Mas na chamada hora do vamos ver, nada.

Para minha grata surpresa, a principal colunista de economia do New York Times, um jornal que ninguém pode acusar de ser de esquerda, foi taxativa: cortar os salários exorbitantes, em Wall Street, não vai salvar o mundo de um novo desastre.

Gretchen Morgenson, a colunista, já trabalhou em Wall Street, na revista Forbes, na revista Money e na revista Vogue antes de aceitar o convite do New York Times em 2002. Ganhou prêmios de jornalismo (Pulitzer e Gerald Loeb) e escreveu livros. Hoje, disse que reduzir os salários dos executivos é a medida populista, que deixa o governo de bem com o eleitorado, irritado de estar financiando a bonança dos ricos. É uma conversa que todo mundo entende.

Mas pouca gente pode acompanhar uma discussão sobre o funcionamento dos derivativos, instrumentos financeiros altamente especulativos que circulam longe da vista das autoridades reguladoras. Antigamente, até metade do governo Bill Clinton, os bancos comerciais não podiam comprar e vender papéis considerados arriscados, altamente especulativos. Justamente para não correrem o risco que correram nos últimos anos. E que deu no que deu.

Outro problema que o socorro aos bancos não resolveu, muito pelo contrário: foi preciso salvar instituições financeiras porque elas eram consideradas “grandes demais para quebrar”. Agora, se tornaram ainda maiores. E se essa mentalidade é a que vale, esses super bancos (uns compraram os outros na crise) devem estar tranqüilos. Aconteça o que acontecer, serão sempre socorridos com o dinheiro da população.

A conclusão da colunista, e de vários economistas americanos, é preocupante: por enquanto estão criadas todas as condições necessárias para mais uma grave crise. Semana que vem, as crianças americanas vão sair de porta em porta, brincando de assustar os adultos no Dia das Bruxas. Mas meu medo é outro…




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