Existe alguma cidade, em especial, em que a eleição municipal de 2012 precisará ser acompanhada de perto por quem se interessa pela presidencial de 2014? Onde tudo que vai acontecer, no ano que vem, poderá ser relevante, desde as movimentações preliminares aos resultados finais?
Talvez seja cedo para responder, mas parece que sim. Muitas cidades passarão por eleições que poderão ter impacto na política nacional, reforçando ou enfraquecendo lideranças, aproximando partidos ou provocando rupturas entre eles. Em uma, no entanto, o significado deverá ser maior.
É em Belo Horizonte que os primeiros lances da próxima eleição presidencial serão jogados para valer. Por uma razão: o principal candidato das oposições, o senador Aécio Neves, é um ator decisivo na sucessão da capital mineira....
O que Aécio vai fazer (ou deixar de fazer) em Belo Horizonte, em outubro de 2012, tem consequência direta na montagem do tabuleiro da eleição de 2014. Esse é o motivo da escolha do próximo prefeito da cidade ser especialmente significativa.
A afirmativa pode soar estranha para quem está acostumado a achar que a eleição do prefeito de São Paulo é sempre a mais importante. Por ser a maior cidade, a capital do estado mais rico, aquela com o maior orçamento, muita gente supõe que a escolha de seu prefeito tem impacto decisivo nas eleições presidenciais.
Não precisamos ir muito longe para verificar que a hipótese não se sustenta. Ganhar ou perder em São Paulo, na eleição de prefeito, não quer dizer nada (ou quase nada) para a eleição presidencial subsequente.
Assim foi em todos os casos desde a redemocratização, seja nas vitórias tucanas ou nas petistas (os candidatos a prefeito do PSDB foram derrotados em 1992 e 1996, e Fernando Henrique venceu em 1994 e 1998; os do PT perderam em duas -2004 e 2008- das três que antecederam as vitórias de Lula e Dilma).
Quem também pode estranhar o raciocínio são os que apostam que Serra será o candidato tucano em 2014. Para essas pessoas, é perda de tempo prestar atenção naquilo que Aécio faz.
Na capital de seu estado, ele se defrontará com uma situação até certo ponto parecida com a que estava à frente de Serra em 2008: lançar candidato próprio, egresso do PSDB (ou de qualquer um dos diversos partidos a ele ligados na política estadual) ou apoiar a reeleição de Marcio Lacerda, o atual prefeito.
Serra havia começado a fazer seu jogo na eleição de 2004, quando compôs chapa com Gilberto Kassab, então um jovem quadro pefelista. Seu objetivo era tranquilizar os setores conservadores e de direita, que o viam (naquela época) como excessivamente estatista e anti-liberal. Pensava, é claro, em aliar-se a eles em alguma eleição presidencial, seja na de 2006 (da qual acabou desistindo) ou de 2010.
Quando Kassab resolveu disputar a reeleição (o que era previsível), ele o apoiou, apesar de seu partido ter candidato. Em um gesto que deixou indignada a mídia serrista, Alckmin cometeu um crime de lesa-Serra e contrariou os planos do governador. Perdeu, Kassab ganhou e Serra ficou como o grande arquiteto da vitória, consolidando suas pontes em direção à direita. Acabou com o Índio.
Na eleição de 2008 em Belo Horizonte, Aécio fez diferente. Moveu-se para a esquerda, aliando-se ao prefeito Fernando Pimentel, do PT. Juntos, apresentaram um mesmo candidato, Marcio Lacerda, filiado ao PSB (por orientação de Aécio). Seu companheiro de chapa foi indicado pelo PT.
Marcio faz uma gestão aprovada pela grande maioria da cidade e é um natural candidato à reeleição.
Qual vai ser o comportamento de Aécio? Na eleição mais visível do estado onde está sua base eleitoral, voltará a apoiar um candidato do PSB? Insistirá em uma aliança à esquerda, consolidando seus vínculos com lideranças como Eduardo Campos e Cid Gomes? Ou vai conduzir o PSDB para uma candidatura própria e buscar uma composição mais ao centro ou à direita?
Se apoiar Marcio, como será a convivência com o PT mineiro? E que consequência terá uma vitória do atual prefeito na sucessão estadual em 2014, quando Anastasia não poderá concorrer e Aécio, muito provavelmente, disputará a Presidência da República pelo PSDB?
Quem dividiria o palanque com ele, como candidato ao governo do estado?
É esperar para ver. Pelo que tudo indica, em Belo Horizonte, um capítulo importante de 2014 começará a ser escrito dois anos antes.
Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
via Com textolivre
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