terça-feira, 12 de julho de 2011

Tributo ao pênis


Certa vez, um escritor  já falecido contou-me que jamais abriria mão do prazer sexual. Não posso revelar aqui o nome do sujeito. Vai que a família desgosta e pronto: leva-me às varas da justiça. Hoje em dia, todo vacilo é motivo para se arrancar trocados de um cidadão descuidado. Até dizer a verdade tornou-se um perigo.
O vate teve a língua amputada cirurgicamente por conta de um câncer na boca, e já não conseguia a ereção ideal para penetrar uma fêmea, devido ao tabagismo inveterado e a cirrose que lhe arruinava o fígado. Próximo da ceifada da Senhora Morte, ele se conformava com o fato de ainda possuir vinte dedos (dez nas mãos, mais dez nos pés), com os quais poderia facilmente “se virar”, mantendo a sexualidade em dias. “Se for preciso fazer sexo anal pra sentir prazer, não tô nem aí”, ele brincava entre goles de uísque que lhe aumentavam o bom humor, o edema nas pernas e a barriga d’água.
Recentemente, li um divertido texto-desabafo da escritora Carolina Mendes, publicado na Revista Bula, intitulado “Eu, eu mesma e minha vagina”. Fiquei tão excitado com o texto (excitado, assim, no sentido “agitado, alvoroçado, impelido”) que decidi, embora sem procuração da classe, escrever uma réplica em defesa dos homens, pobres diabos que, regra geral, morrem primeiro que as mulheres. Coincidência, meninas?! Até que nos é bem feito. Concordo com vocês.....

Uma vez que os ânimos entre gays e anti-gays andam exaltados na mídia, vou logo avisando que não se trata de um manifesto em defesa dos homens que preferem homens, nem dos machistas que se sentiram machucados (ai!) após a leitura da crônica de Carolina.
O título “Tributo ao pênis” pareceu-me anatomicamente adequado e foi o que me ocorreu à primeira vista. Não sou supersticioso, mas também não sou tolo o bastante ao ponto de desperdiçar uma inspiração repentina ou uma ereção matutina, ainda que urinária.
 
Farei este breve relato utilizando a primeira pessoa do plural. Conversar com a genitália, entrevistá-la, parece-me tão bizarro quanto dialogar com uma árvore ou um guarda de trânsito enquanto ele preenche uma multa. Ainda não atingi tal estágio de sublimação.
A relação de amizade entre nós (eu e meu pênis) começou em tenra idade, ainda na infância, durante a reconhecida “fase fálica freudiana”, período no qual eu manipulava o pequeno Hans, na falta de coisa melhor que fazer como, por exemplo, sugar as tetas da minha genitora. Dizem os estudiosos que as mulheres lactantes sentem uma espécie de prazer sexual ao amamentarem os seus filhotes. Credo, mamãe!
Prossigamos. Nascidos e criados na cidade grande, nós escapamos do corriqueiro “troca-troca” entre moleques no ribeirão, um tipo de companheirismo esquisito em que os meninos se divertiam esfregando os pênis nos traseiros um dos outros, simulando um coito. De acordo com especialistas, tudo isto é normal, assim como se masturbar, fazer sexo com uma mulher grávida e duvidar que o Homem pisou na lua.
Então, após alguns vacilos bem típicos dos inseguros, deitamos com uma mulher nua pela primeira vez na vida. Mulheres, mesmo aquelas que possuem vagina, mentem. Lembramo-nos bem que era uma mulher negra, pobre, mal nutrida e maltratada pela sociedade (naquela noite, por nós dois, por que não?!). A profissional contratada às pressas, à meia luz, sobre a calçada, garantiu que gozava de saúde perfeita. Confiamos naquela mulher e adquirimos a nossa primeira blenorragia.

Atraiçoados por vaginas fingidas, embora adoráveis, passamos então a nos proteger utilizando artefatos de látex. Pobre nobreza medieval que se defendia da sífilis e da plebe com camisinhas feitas de seda... Hoje em dia, graças a Deus, temos a penicilina e a polícia militar...
Cansado de ser ludibriado pelas mulheres solteiras, casamos, plantamos sementinhas (mais conhecidas como “espermatozóides”) na “mãe-do-corpo” (cientificamente denominada “útero”, um órgão muscular oco situado ali na pélvis, acima da vagina, o tubo elástico quente-úmido que acolhe os pênis de toda estirpe, inclusive os arrogantes e os bem intencionados) da nossa esposa.
Cara escritora, não chegaremos, eu e meu membro (detesto este termo pornográfico) ao absurdo, à ousadia, ao disparate de convidá-las (você, você mesma e sua vagina) para tomarmos um café com creme de nistatina. Não. Além de desrespeitoso de nossa parte, não seria nada ético. Quem sabe, num ímpeto altruísta e sincero, a gente possa convocar outras vaginas e falos (por que não convidarmos também cérebros e corações, ainda que sejam órgãos de menor importância no contexto social) para um grande seminário anatômico, a fim de trocarmos experiências, fluidos, micróbios e fobias.  Seria um evento do caralho (leia-se “sensacional”)!
Olha, Carolina, o seu texto ficou mesmo incrível. E posso assegurar (se é que isto lhe interessa) que eu e meu pênis passamos a respeitar muito mais as mulheres e suas vaginas, após assistirmos a uma delas parindo um feto de três quilos e meio. Você, sua vagina, e todas as demais vaginas do planeta são admiráveis. Mesmo durante a TPM, quase sempre vocês têm razão. Parabéns, viu?!
Revista Bula

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