Então, vamos ver o que aconteceu hoje, dia quente no Velho Continente......
As Mentes Pensantes reunidas em Bruxelas pensaram, pensaram muito, e o resultado foi este: nada.
Provavelmente pensaram demais, o que pode ter provocado um sobreaquecimento.
Herman Van Rompuy, Presidente do Conselho Europeu, deu a notícia no Twitter (o novo canal oficial das Mentes Pensantes? Zona Twitter em lugar da Zona Euro?) de forma breve e o comunicado oficial não acrescentou qualquer informação substancial em relação ao encontro.
Entretanto começou outra reunião, desta vez com os Ministros das Finanças dos vários Países Membros. Também neste caso nenhuma novidade, mas apenas porque a reunião será longa.
A pequena Waterloo
Enquanto as Mentes pensam, fora é uma pequena Waterloo.
Não a canção dos Abba, mas a batalha de Napoleão.
As Bolsas europeias fecham em perdas, todas, com destaque para Lisboa (-4,28), Milano (-3,96), Paris (-2,71), Madrid (-2,69), Frankfurt (-2,33). Também Wall Street nesta altura está em perda (-1,20%).
Não é uma boa situação.
Mas pior do que isso: as possibilidades de bancarrota sobem. O mercado dos credit default Swap (seguros contra o risco de falência) está ao rubro: Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha, Italia e Bélgica.
Estes os números (um valor mais alto indica uma situação mais próxima da bancarrota):
Grécia 84,51 %
Portugal 60,34 %
Irlanda 55,5 %
Espanha 25,49 %
Italia 21,41 %
Bélgica 15 %
Se a situação de Atenas e Lisboa não são novidades, o mesmo não se pode dizer de Madrid e Roma: aliás, estas são as capitais dos Países que mais sobem em termos percentuais, apesar de Portugal, por exemplo, ter hoje atingido o valor mais alto de sempre.
Mas porque riscos assim elevados?
A resposta é simples, e façam o favor de esquecer as "más" agências de rating: o peso da dívida pública no PIB (Produto Interno Bruto) da Irlanda é de 1000 % (mil por cento!), em Portugal e Bélgica mais de 200 %, na Grécia 170 %, em Italia 120 %.
Estes Países, todos, gastam mais, muito mais da riqueza que conseguem produzir. É uma questão matemática: X entra, X sai. Se X entrar e XXX sair, a única solução é contrair dívida, o que leva até situações como aquela de cima, onde Portugal e Bélgica, por exemplo, gastam o dobro do que produzem.
Caso aparte o da Irlanda: segundo os números Dublin gasta 10 vezes mais a riqueza que produz, por isso apresenta um relacionamento PIB/Dívida de 1000 %. Mas o que os media não gostam de realçar é que neste caso a maior parte da dívida foi contraída para salvar bancos privados, obviamente sem antes consultar
os cidadãos.
Situações que têm recaídas nos juros da dívida.
As taxas de juro das Obrigações do Tesouro (OT) a dez anos estavam hoje a negociar, ao final do dia, em 13,33 %, o valor mais alto desde a entrada de Portugal no Euro; os juros da divida a cinco anos atingiram 17,3 % e a dois anos chegaram aos 18,68 %.
No caso da dívida a três anos, as taxas bateram mesmo a marca dos 20 %.
13, 17, 20 % ? Mas o que representa afinal?
Simples, representa quanto Portugal terá que pagar de juros por cada Euro que consegue recolher nos mercados. Pois a dívida custa, e neste caso custa mesmo muito.
Solução: matamos o homem da bomba!
E enquanto a Zona Euro estremece, as Mentes Pensantes continuam a pensar. E a encontrar soluções, cada vez melhores.
A Comissária Europeia para a Justiça, Viviane Reding, propôs hoje o desmantelamento das três principais agências de rating norte-americanas, a Standard And Poor’s, Moody’s e Fitch.
Resumindo: o carro anda pouco e gasta muito? Matamos o homem da bomba da gasolina.
Este, ao que parece, é o top das ideias em Bruxelas.
Doutro lado, nesta altura encontrar um culpado é uma prioridade. Caso contrário, sobra apenas uma solução: admitir as próprias falhas. Incomodativo, não é?
Muito, muito melhor matar o homem da gasolina. Não só, mas melhor ainda é agitar-se, debater, falar do assunto e gritar, para que ninguém pergunte: mas como foi gerida esta raio de moeda única ao longo dos anos? Quem foram os incapazes que deixaram os Países entrar no poço negro e sem fundo da dívida? Como chegámos até aqui? Muito, muito incomodativo, sem dúvida.
Não, melhor tentar matar o homem da gasolina. Ou criar um nova bomba, que, se possível, não faça pagar o combustível.
O presidente da Comissão Europeia considera que o consenso sobre a necessidade de criar mecanismos de regulação das agências de rating está a ganhar força na Europa e confirma que Bruxelas vai apresentar propostas concretas nesse sentido no Outono.
A ideia duma agência de rating europeia não é má, bem pelo contrário. O problema é que surge agora, o que é bastante suspeito. As três irmãs, Standard And Poor’s, Moody’s e Fitch, portam-se mal, e disso não há dúvida. Mas qual credibilidade pode ter uma agência europeia que nasce como resposta às criticas das homólogas americanas?
A China criou a sua própria agência em tempos não suspeitos, e agora está a ganhar credibilidade: acabou de classificar a dívida dos Estados Unidos como "lixo" e ninguém pode acusa-la de limitar-se a responder aos ataques das várias Moody's, Standard, Fitch....
A propósito: também a Dagong, a tal agência chinesa, prepara o downgrade de Italia. Mas não era uma conjura das agências americanas?
O coelho e a morte do Euro
O que acontecerá nos próximos dias?
Roma precisa duma manobra de austeridade (olha a originalidade), já formulada e apresentada, que será implementada nas próximas horas.
O que preocupa é que a Chanceler alemã, Angela Merkel, disse que o governo italiano está a agir bem e que resolverá os seus problemas: as mesmas palavras utilizadas no ano passado para a Grécia e este ano para Portugal...
E a Grécia? Alguns Países da União têm dúvidas, talvez algo mais do que dúvidas: faz sentido continuar a deitar rios de dinheiro numa causa perdida como a grega?
E a Espanha, outro País em forte tensão hoje?
E a Bélgica? E a Irlanda?
A realidade é que os próximos podem ser os dias mais importantes da Zona Euro: ou as Mentes Pensantes conseguem extrair o coelho da cartola (deve ser um coelho bem grande e em tempos extremamente rápidos), ou o Euro já será historia.
E pode bem ser desta.
Ipse dixit.
Fontes: Público, Corriere della Sera, Expresso, Jornal de Negócios
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