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O que leva uma pessoa a acordar de madrugada, pegar dois ônibus, chegar às sete horas no trabalho, enfrentar um dia estressante, engolir 17 sapos do chefe, pegar mais dois ônibus e chegar tarde em casa? Uma rotina estafante, que ninguém deseja. Mas o trabalhador executa-a e ainda fica feliz porque rala, mas está empregado.
As obrigações diárias, a luta por uma vida melhor e o dinheiro para pagar os remédios da filha doente são fatores que levam uma pessoa a arrancar do corpo aquele “a mais” quando ele já clama por descanso.....
Esses desejos que funcionam como mola propulsora, direcionando-nos pelo caminho A ou B, logicamente, são diferentes para cada pessoa. Sinto-me feliz ao escrever uma crônica. Não preciso receber elogio, mas se vier, cai bem. Em contrapartida, tenho um amigo que fica com os olhos brilhando quando fala do seu “Celtinha”. Há gente que se não sai no final de semana, fica angustiado. Para muitos, futebol no domingo à tarde é uma terapia inadiável. Também pode ser a compra da bolsa namorada há semanas.
Buscamos insaciavelmente a felicidade, o elixir da longevidade, o nirvana que pusemos em nossas cabeças que alcançaríamos quando crescêssemos. Deixamos a infância, a adolescência e a vida adulta, atingimos a maturidade e falecemos atrás dessa fórmula mágica. De acordo com a reportagem de capa “O que te motiva?”, da Revista Galileu deste último junho, essa busca, por si só, é um fator motivante.
É incrível que, ao mesmo tempo que atingimos os nossos objetivos, aquela vontade que se apossava de nós some rapidamente. De acordo com a reportagem, a insatisfação permanente é um recurso que a natureza inseriu em nós e que manteve a evolução das espécies. Certamente, pois se nossos ancestrais se contentassem apenas com o que caçavam no dia, não fariam reservas de alimentos e pereceriam nas épocas em que a comida era mais escassa.
As perspectivas mudam ao longo da vida e o que não era interessante, torna-se algo de muito valor para alguém. Não há motivação maior que a própria sobrevivência. Se for para manter-se vivendo decentemente, não titubeamos em fazer uma terceira jornada de trabalho. Que o digam os professores, profissionais que costumeiramente complementam a renda familiar com esse terceiro tempo do jogo.
Longe dessas preocupações financeiras e na contramão da busca pelo sucesso, há algumas semanas presenciamos a decadente despedida dos gramados, de Ronaldo Nazário. Brilhante nos tempos áureos, Ronaldo Fenômeno recebera a alcunha que, à época, justificava tamanha exaltação. Mas o dinheiro transbordando dos bolsos e a exposição extenuante da sua imagem banalizaram os próprios objetivos. Ele e muitos jogadores que emergiram da pobreza lutaram arduamente até se firmarem no cenário esportivo. Melhorar de vida, poder tirar a família da situação de miserabilidade foram razões muito presentes na ascensão. Motivos louváveis.
Mas depois que o dinheiro ficou fácil demais, querer manter-se como “Fenômeno” e, quem sabe, equiparar-se a Pelé e Maradona, deixaram de ser desejos contundentes. Ronaldo aposentou as chuteiras movimentando milhões, mobilizando multidões e muito acima do peso necessário para desempenhar bem a sua função.
Nossos rumos seguem caminhos que pouco controlamos. E inseridos em um novo contexto, objetivos, intenções e motivações demonstram-se totalmente maleáveis. Muitos irão criticar novas posturas, alguns apoiarão, mas apenas nós mesmos é que saberemos se andamos na estrada certa ou pegamos a rua errada. Conquanto haja algo que nos motive, tudo fica mais possível de alcançar.
A vida em prosa
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