terça-feira, 15 de dezembro de 2009


por Otávio Dias – Em uma das cenas mais emblemáticas do cinema, somos expostos a um fictício passado da Terra, quando criávamos e melhorávamos nossas primeiras ferramentas, e levados diretamente a uma enorme estação espacial, tudo ao som de Strauss. O filme é 2001: Uma odisséia no espaço (1968), e esta cena é uma das mais icônicas da história cinematográfica.

De um passado remoto a um futuro ainda distante, somos levados a uma viagem de sensações causadas por Kubrick e Strauss. Fomos lançados ao futuro, pelo cinema hollywoodiano, através de filmes como De Volta para o Futuro II (ano de 2015), e deslumbramos possibilidades apocalípticas e pós-apocalípticas numa porção de outras franquias, como Matrix e O Exterminador do Futuro, que indicam o fim próximo da humanidade para este século XXI em que vivemos.

Recentemente foi lançado o filme 2012, de Roland Emmerich, diretor especialista em filmes apocalípticos. Não me parece nenhuma grande novidade em termos temáticos: Exterminador do Futuro, Matrix, O Dia Depois de Amanhã, Armageddon, Impacto Profundo, Def-Con 4, são todos filmes que tratam sobre nosso fim. Eu não diria que Hollywood é uma fábrica de bobagens, considerando os filmes citados, porque a ideia de que chegaremos a um fim faz parte do inconsciente coletivo; os mitos relacionados à nossa morte, como espécie, estão espalhados nas mais diferentes culturas e através dos séculos.

No século II d. C., os seguidores de um tal Montano declaravam que o fim do mundo estava próximo. Como prova de suas capacidades divinas, Montano mostrava-se hábil ao falar diferentes línguas (uau!). Numa das raras ocasiões em que os viventes do continente europeu e os ingleses concordaram em alguma coisa, no século XVI d. C., esses povos aguardaram ansiosamente pelo fim do mundo previsto por astrólogos e oráculos diversos para o ano 1524; afinal, um alinhamento de planetas aconteceria naquele ano, em peixes (sinal óbvio de que o mundo acabaria em água!), e por isso milhares de ingleses abandonaram Londres em busca de terras mais altas (se era o fim do mundo, que diferença fazia estar em terras baixas ou terras altas?).

Sabbatai Zevi (1626-1676) misturou uma porção de religiões e declarou, depois de fazer cálculos: “O mundo vai acabar em 1648!”. Não aconteceu, ele refez seus cálculos cabalísticos e mudou a data pra 1666 — e continuamos a existir, independente de cálculos errados, incêndios em Londres e a peste que devastava a Europa. Pro século XX, uma dezena de profecias não verificáveis, porque reveladas aos escolhidos, foram deixadas para trás e esquecidas pela gente.

Voltemos ao futuro, 2012. Muito buzz tem sido feito. Gratuito? Uma ova! Tem muita gente ganhando um bocado de dinheiro com o tão declarado fim do mundo. Dizem, os profetas do Apocalipse, que os maias previram o fim do mundo pro dia 21 de dezembro de 2012, em seu calendário. “Tinham conhecimentos astronômicos avançadíssimos,” dizem sem pudores (e não sem alguma razão) os gurus de uma nova era. E vendem livros. O que não dizem é que nunca foi encontrado qualquer registro de que o mundo chegará ao fim em 2012. O que se pode afirmar, com certeza, é que o calendário maia chega ao fim. E que esse fim não é muito diferente daquele a que nosso calendário chega, todo ano, como quando acaba um ano e começa o outro.

O calendário maia, usado para a apocalíptica previsão conta um período enorme de tempo, numa contagem dos dias bem diferente da que fazemos hoje. Considerar que o mundo acabará porque, ao acabar o ano presente, não tenho uma folhinha do ano futuro, é tão tolo quanto considerar que o mundo acabará porque os maias não acharam necessário considerar outro período de tempo. Da mesma forma que seria uma tolice acreditar que o mundo continuaria a existir porque acabamos de encontrar registros em ruínas maia de um novo período de tempo. Ou que o mundo há de acabar logo porque passamos por uma série de desastres naturais nos últimos anos – como se desastres não estivessem sempre presentes na história da humanidade. Queremos, todos, segurança. Alguns – aqueles que vêem sentido – ligam as profecias a moralismos, escolhas de vida e explicações sobre a vida, a morte e tudo mais.

Ignoro 2012, estou aguardando pelo ano 2015: quero meu par do Nike McFly Hyperdunk. Não ter um até lá, isso sim será o fim do mundo.

do blog Amálgama

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