sábado, 19 de dezembro de 2009

Ali Kamel inunda os pobres

por Luiz Carlos Azenha

Não foi por opção pessoal, mas por obrigação profissional. Vi a cobertura do Jornal Nacional sobre as novas enchentes em São Paulo, na quarta-feira (16).

Choveu muito. Choveu torrencialmente. Choveu oito dias em quatro horas, de acordo com o JN.

O JN dedicou boa parte das reportagens, com gráficos e tudo, a provar que os pobres invadiram o Jardim Pantanal e, portanto, merecem o que estão sofrendo.

Sim, sim, os pobres da zona Leste de fato invadiram as várzeas do Tietê. Mas, não foram os únicos. São Paulo fez oficialmente a opção de ocupar as várzeas do rio Tietê quando construiu a marginal Tietê sobre as várzeas que serviam para a expansão do rio durante a cheia.

Ali Kamel, não o ator pornô, o guia do Jornalismo Nacional, reprisou em São Paulo a teoria que gosta de pregar, sempre de forma dissimulada, no Rio de Janeiro: a remoção dos pobres.

Eles são um estorvo. Poluem o cenário.

A certa altura o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, aparece na reportagem para dizer que não pretende mais bombear as águas do lugar alagado. Na singela explicação para o descumprimento da promessa, uma fala risível: se a gente tirar a água, mais água vem. Ora, ele não deveria ter pensado nisso antes de fazer a promessa?

Chove muito. Os pobres estão onde não deveriam estar. E sofrem por isso.

Essa é a lógica da cobertura do Jornal Nacional: culpar a população.

Assim como o governador de São Paulo, quando fala no assunto, enfatiza: a culpa é da população, que joga lixo na rua.

Aliás, onde anda o governador José Serra? Ah, sim, não vale misturar o governador com assuntos tão prosaicos como a limpeza da calha do Tietê, uma verdadeira desocupação das várzeas que atinja também os ricos ou um sistema de controle de vazão dos rios Tietê e Pinheiros que não puna apenas os bairros pobres.

Ele está em Copenhague, resolvendo os problemas climáticos do planeta.

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