terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O poderoso lobby do etanol

por Luiz Carlos Azenha

O etanol pode mesmo ser uma boa forma de enfrentar ao mesmo tempo a poluição causada pelo combustíveis fósseis e a escassez de petróleo. É uma questão discutível. Mas antes a gente precisa considerar quais são os impactos ambientais da produção de etanol: quanto de água exige a produção de um litro de etanol, por exemplo? O mundo deve mobilizar recursos naturais para trocar petróleo por etanol? É ou não trocar seis por meia dúzia?

Feito isso, devemos perguntar: o mundo deve mobilizar terras que poderiam ser usadas para a produção de alimentos para encher o tanque de automóveis? Quais terras? Quem vai se beneficar disso?

Precisamos ter claro, igualmente, quais são as forças mobilizadas para emplacar o etanol em escala mundial. Sabemos que tem gente no Brasil e nos Estados Unidos trabalhando para criar um mercado mundial de etanol. Um mercado que, em tese, beneficiaria o Brasil.

Mas antes de tudo beneficiaria a indústria automobilística, que quer reproduzir em outras praças a experiência do motor flex. Os principais lobistas em defesa dessa ideia são o irmão do ex-presidente dos Estados Unidos, Jeb Bush, e o ex-ministro da Agricultura do governo Lula, Roberto Rodrigues.

A família Bush, que fez fortuna trabalhando nas bordas da indústria do petróleo, de novo aposta as fichas numa roleta viciada. E patrocina essa conjunção de interesses dos produtores de etanol de milho dos Estados Unidos com os produtores de etanol de cana de açúcar do Brasil.

Seriam os grandes "abastecedores" desse mercado mundial. O projeto de Brasil e Estados Unidos obedece a uma lógica neocolonial: mobilizar terras na África e na América Central. Terras baratas e mão-de-obra barata para contribuir com o esforço dos produtores de álcool dos dois países.

Não estranho, pois, que tanto José Serra quanto o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, tenham defendido o etanol, hoje, em Copenhague. Pode ser que ambos tenham feito isso por convicção política. Ou ecológica. Talvez ambos acreditem que o Brasil e outras partes do planeta tem mesmo terra e mão-de-obra disponíveis para turbinar a produção de etanol em escala mundial. Talvez ambos acreditem que é possível produzir alimentos e etanol ao mesmo tempo. Repito: é uma possibilidade. Mas que fique claro quem representa o interesse público e quem são os lobistas, se ainda houver distinção entre eles.

Vi o mundo


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