sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Quando um Mustang não é apenas um Mustang


mustang

Esse filme você já viu. Em mais um caso de carrão de bacana contra veículo frágil pilotado por alguém não tão bacana, a frase da irmã da vítima é a que melhor reflete a situação. “Eu queria que a mãe dele (motorista) soubesse que se fosse o contrário e meu irmão atropelasse o filho dela, ele estaria preso.” Alguém duvida? Alguém discorda?
Aroldo Pereira Oliveira tinha 30 anos, trabalhava como motorista durante o dia e no check-in do aeroporto de Congonhas à noite. Sua jornada era das 6h às 23h todos os dias. Na manhã de sexta-feira, já chegando ao local de sua primeira ocupação, no rico Itaim Bibi, Aroldo teve sua moto atingida por um Mustang avaliado em 200 mil reais, conduzido por Fabio Alonso que voltava da balada e fugiu sem prestar socorro. Aroldo morreu.
São muitos os casos emblemáticos e semelhantes. No ano passado o estudante Alex Kozloff Siwek igualmente vindo da balada atropelou, na ciclovia da avenida Paulista, o pintor de paredes David Santos decepando-lhe o braço (que foi tenebrosamente jogado num rio). Era uma manhã de domingo e enquanto um voltava para casa curar a ressaca o outro estava indo trabalhar.
Quando soube que Alex não iria a júri popular, Davi revoltou-se. “Achava que a lei ficaria do meu lado, mas ela ficou do lado dele. É uma injustiça e uma incompetência da Justiça. Só alimenta a impunidade para pessoas que cometem crime no trânsito. No final, elas saem pagando uma cesta básica. É muito injusto, não só comigo, mas com outras vítimas de acidente de trânsito.”
Em junho deste ano Alex Kozloff Siwek foi condenado a seis anos de prisão em regime semi-aberto mas poderá recorrer em liberdade.
Bom, aconteceu de novo e a alusão às cestas básicas também se repetiu. A mãe de Aroldo (atropelado e morto pelo Mustang), disse que a vida do filho “não é uma cesta básica”, em referência a uma possível pena alternativa.
Por que tanta desconfiança com a seriedade da justiça? Porque ela não é imparcial nesses casos.
A ocorrência retrata a desigual batalha entre as classes alta e média contra os de baixa renda que tem nos acidentes de trânsito sua mais perfeita tradução. Como disse Adriana Peccora, irmã de Aroldo, se a situação fosse inversa o desfecho seria diferente.
As penas para os acidentes de trânsito precisam parar de priorizar modelo e ano de fabricação do veículo e sim atentar para a gravidade e grau de prejuízo causado. Enquanto algumas famílias perdem seus arrimos, outras ficam em casa curando a ressaca.
Sobre o Autor
Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.


http://www.diariodocentrodomundo.com.br/quando-um-mustang-nao-e-apenas-um-mustang/

Nenhum comentário:

Postar um comentário