segunda-feira, 5 de maio de 2014

Toda a estupidez da pena de morte


NÓS MATAMOS PESSOAS
QUE MATAM PESSOAS
PORQUE
MATAR PESSOAS 
É ERRADO
Marcelo Carneiro da Cunha 
Estimados leitores, para algumas coisas serviu a Constituição de 1988, entre elas, transformar a pena de morte em algo proibido por cláusula pétrea no nosso país.
Com isso, nos juntamos a todos os países do mundo ocidental, com a exceção de um, e justamente daquele que adora berrar pro mundo ouvir o quanto eles são bacanas, sensíveis, democráticos e adoradores dos direitos humanos. Justo quem jogou uma bomba atômica em japoneses desarmados, segregou os negros até os anos 60, ainda proíbe o casamento de gays, colocou gente por uma década sem julgamento em Guantánamo, e fritava, enforcava, fuzilava ou gaseificava pessoas condenadas à morte até pouco tempo atrás. Hoje, eles preferem amarrar os condenados a uma cama e injetar drogas neles até morrerem, ou algo pior acontecer.

Isso, estimados leitores, acontece no nosso Grande Irmão do Norte, os Estados Unidos onde, na semana passada, um homem sofreu por quarenta e três minutos até o seu coração estourar, cheio de drogas que simplesmente não funcionaram na sua missão impossível de matar de forma humana. 
Quarenta e três minutos de sofrimento, até morrer por causas que não as planejadas. Isso é bárbaro até mesmo para Oklahoma, um dos mais atrasados estados americanos, que suspendeu outras execuções enquanto pensa no assunto.

No Brasil a pena de morte é proibida e a Constituição garante que isso siga assim para sempre. Entre outras coisas, a Constituição nos proíbe de nos tornarmos algo horrível, que é sermos carrascos, (embora nos permita ser tão horríveis como os criadores dos comentários que vocês certamente vão ler aí abaixo). Em um lugar onde existe a pena de morte, todos somos executores, assim como na escravidão, todos éramos escravos ou escravagistas, sem escolha. Em um sistema onde impera a barbárie, ela contamina a todos, e não apenas às suas vítimas diretas. A escravidão manchou o Brasil e o tornou um lugar pior, muito pior, pela doença implantada em todos nós e da qual a gente custa tanto para se libertar ainda hoje. 
A pena de morte não é diferente. Ela nos torna a todos péssimos seres humanos – os que aprovam, os que executam, os que precisam conviver com esse horror. Entre outros motivos, porque onde existe pena de morte, inevitavelmente, inocentes são condenados e mortos. Quem clama pela pena de morte no Brasil não pensa que inocentes, quem sabe algum dos seus entes queridos, vão morrer. Alguém aí sabe da qualidade do sistema policial e jurídico no Brasil? 
Matar um inocente é inaceitável, concordam? Matar um inocente não é o que justifica, para quem acredita nisso, a pena de morte? 
Então, se matamos a um inocente, não merecemos todos a pena de morte?

Os americanos fazem que não, que não é com eles, que quem morreu é porque fez por merecer, apesar de todas as evidências em contrário. Quem morre costuma ser pobre, com um histórico de problemas legais, usuário de drogas, sem acesso a um advogado decente ou a um júri mais ou menos imparcial. As chances de erros em julgamentos desses são enormes, e ocorrem, invariavelmente. E ainda, assim, a estupidez é tal que eles seguem condenando e executando, culpados e inocentes.

Curioso é que tanto nos Estados Unidos como aqui, quem mais aprova a pena de morte são os religiosos fundamentalistas. Essa gente tão cristã adora ridicularizar o que Cristo ensinou, aquelas coisas de perdão e dar a outra face e amar a todos. Eles gostam mais é da sangueira bíblica, da crueldade do Velho Testamento, escrito por tribos antigas e bárbaras. 

Não existe nada que justifique a pena de morte. Ela é terrível para uma sociedade, que se torna assassina de pessoas amarradas a alguma coisa, ela não resolve o problema da criminalidade, e ela não resolve o problema essencial de vingar uma morte inocente porque nada é capaz de fazer isso. Podemos discutir os limites das penas, porque eu até acho justo que alguém que tirou estupidamente uma vida pague de forma muito dura por isso, e não acho certo que alguém ganhe de volta o que outra pessoa nunca mais vai ter. Sol, luz, vento, liberdade e vida. Mas esta é outra discussão.
Matar alguém é algo que criminosos fazem. Não somos criminosos, e não queremos nos tornar criminosos. Uma sociedade sã não se organiza para matar pessoas de forma industrial. 

Na semana que passou, um homem foi submetido a um tratamento horrendo, por um estado que agiu de maneira totalitária e desumana, e sabem por quê? Porque os laboratórios europeus que produzem as drogas que eles usavam para matar gente não as vendem mais. Porque os europeus têm vergonha na cara e não matam pessoas ou deixam que suas drogas o façam. E os americanos simplesmente substituíram as drogas por outras não testadas. Que explodiram uma veia desse condenado e o fizeram sofrer horrivelmente por quarenta e três minutos, antes de desistirem da execução e ele morrer de ataque cardíaco. Essa cena que eu descrevo é compatível com uma sociedade digna? 

Os americanos adoram promover a sua superiodade  boicotando todo mundo por qualquer motivo. Pois eu acho que seria um bom momento para eles provarem do próprio remédio. Isso seria, no mínimo, correto, e mostraria a eles o que são: uma sociedade com muitos méritos e falhas graves, que precisam ser corrigidas se eles querem ser o que dizem que são. O resto são palavras vazias e mais gentes morrendo injustamente. E o tempo disso, estimados leitores, estimados americanos, passou.
no, http://esquerdopata.blogspot.com.br/2014/05/toda-estupidez-da-pena-de-morte.html

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