segunda-feira, 5 de maio de 2014

Danilo Gentili, Rachel Sheherazade, inveja e projeção: Carl Jung explica


o carro da pessoa mais invejada do mundo, segundo ela mesma
Diário do Centro do Mundo 

“A sua inveja é o combustível para o meu sucesso.”

Se você presta atenção nos carros ao andar pela rua, certamente vai encontrar algum com um adesivo desse tipo.
É também provável que encontre na sua timeline do Facebook alguém que postou uma frase parecida ou alguma imagem com a mensagem.

São pessoas que odeiam a inveja que os outros sentem delas. Ao menos é isso que a mensagem diz. Mas é quase certo que isso seja ao menos parcialmente fantasioso. O mais provável é que essa inveja seja fruto de projeção.

Há um bom tempo ver esse tipo de adesivo em carros tem me provocado refletir sobre o assunto. “Será que essa pessoa é tão bacana assim?” Bem, a simples preocupação em expor isso responde que não. Algo está mal resolvido, senão, ainda que houvesse uma grande inveja por parte de alguém, seria ignorada.

Eu havia esquecido do assunto até ter, na semana passada, uma conversa política com um grande amigo. Nós discutíamos o posicionamento de Danilo Gentili e Roger Moreira (ele trabalha com ambos em seu programa noturno de TV, e por razões obvias não vou falar seu nome – embora estivesse defendendo os caras).

Para encurtar uma história longa, Gentili e Roger, segundo este amigo, acham que as críticas que recebem são provocadas por inveja – caso das bananas incluso. Não compreendem a discordância objetiva de ideias. Só pode ser inveja. Chegaram lá com trabalho e merecimento, e agora esses caras ficam enchendo o saco como se eles não pudessem falar o que bem entendem.

Danilo Gentili
Pretensão? Talvez. Mas tenho o mesmo palpite do pessoal dos adesivos: projeção.

Há alguns anos, descobri o site Ted. Como a maioria hoje deve saber, é uma comunidade virtual de palestras. Ideas worth spreading. “Ideias que valem a pena que se espalhem” é o slogan.

A primeira palestra que assisti no Ted foi de um psicólogo italiano radicado nos EUA chamado Mihaly Csikszentmihalyi (o nome é húngaro, mas ele nasceu na Itália mesmo).

Essa palestra falava sobre o conceito de flow, que é algo do meu interesse. Mas isso não vem ao caso. A questão é que ele conta a história de quando passou a se interessar por psicologia: foi assistindo a uma palestra do estudioso e teórico da psicologia Carl Jung sobre discos-voadores.

Ele era jovem e, ao ir ao evento, esperava ouvir alguém falando sobre homenzinhos verdes. Jung, no entanto, falava sobre projeção.

Acontece que na Europa durante o pós-guerra, houve muitos relatos de OVNIs. Jung interpretou isso como projeção, isto é, as pessoas que durante a guerra se preocupavam com bombas vindas do céu, passaram a ter necessidade de “encontrar” coisas inexistentes quando a guerra acabou.

Uma estrela, um avião, um satélite, ou mesmo nada, passavam a ser discos voadores para seus olhos. Essas pessoas tinham, literalmente, que preencher um vazio emotivo.

Aplicando a idéia de Jung nos adesivos de carros, quando alguém projeta a inveja alheia sobre si mesmo, ela provavelmente deseja ser invejada. A sensação de se sentir invejado gera uma emoção da qual a pessoa necessita por um ou outro motivo. E isso não precisa ter absolutamente nenhuma ligação com a realidade. São discos voadores. Se você quer encontrar, você vai, quer eles estejam lá ou não.

No caso de Gentili, pode ser simplesmente por não suportar que achem que ele fala absurdos. Então projeta inveja – sem notar que as pessoas que ele critica poderiam muito bem fazer o mesmo. Talvez façam – o que não quer dizer que ele não tenha críticas objetivas a essas pessoas.

Algo sintomático é a reação de fãs. Quem cuida dos comentários do DCM sabe o quanto acham que tudo é inveja do Gentili quando se critica o apresentador do SBT. O mesmo se aplica a Rachel Sheherazade.

Rachel Sheherazade
É uma reação puramente emotiva. Se fosse lógica, eles poderiam supor que Gentili e Sheherazade também seriam movidos a inveja em suas falas sobre quem quer que critiquem.

Ou poderiam achar que ambas as falas advém de diferenças de ponto de vista. Mas não. Ali é objetivo, aqui é inveja. Ou pior, recalque (quem inventou essa palavra ridícula?)

A verdade é que a inveja existe. Mas ela está muito mais em quem se sente invejado do que em qualquer um."

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