quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Análise do Discurso de Posse da Dilma

Não pretendia analisar o Discurso da Dilma, porque andam insinuando que sou Dilma de carteirinha, o que obviamente não sou. Só me sinto na obrigação de concordar quando uma futura candidata defende teses que sempre defendi. Estou no fundo agindo em causa própria.
Não entendo a grande imprensa quando não percebe que é do interesse dela defender ideias inteligentes mesmo vindo da oposição, e ajudando assim a implantá-las.
As análises que vi do discurso da Dilma foram chocantes. A maioria dos grandes colunistas estavam de ferias natalinas, e nada comentaram. Um jornal fez uma análise de nuvem de palavras únicas, achando o máximo.
Outros criticaram as suas omissões, ou os chavões, e Reinaldo de Azevedo escreve As Verdades e Mentiras onde fez uma análise destruidora que mostra que o ódio continuará desde o primeiro dia. Assustador.
Discursos de Posse são mais autênticos do que promessas eleitorais, embora ainda contenham monte de platitudes para não "esquecer ninguém".
Vou me concentrar naquilo que ela não precisaria dizer, mas disse porque são coisas que ela acredita, que precisavam ser ditas, segundo ela.
Eu gostei do discurso para o Senado, mas para aqueles que gostam do negativo, vamos começar com o termo Presidenta, que ela não precisaria dizer, mas disse.
A grande imprensa já havia pegado no pé dela, e todos usaram o termo Presidente nas suas manchetes.
Dilma portanto comprou sua primeira briga com a imprensa.
Como nunca tivemos uma mulher na Presidência, quem garante que os jornalistas estão certos, ou simplesmente conservadores.
Usar analogias como "residente", não convence. Eu já criei novos termos na lingua portuguesa, como "acabativa", porque a Dilma não poder fazer o mesmo ?
Confronto com a imprensa na minha opinião será uma constante no seu governo. Como já alertei, Dilma não leva desaforo para casa, e sua relação com a imprensa será péssima, não necessariamente por culpa dela.
Lula é criticado pelas suas alianças com Sarney e etc, mas eu sempre lembro que Lula escolheu as suas batalhas, como reza a boa administração.
Brigar por tudo, como muitos de esquerda e direita acham correto, é contraproducente.
O estilo de Dilma é outro.
Ela vai comprar muito mais brigas do que Lula, ela é capaz de comprar todas as brigas possíveis, algo que não recomendo, mas é sem dúvida o estilo dela.
E é o que um bom turn around manager tem que fazer, por isto normalmente não duram muito.
Agora vamos ao que interessa, o que ela não precisaria dizer, mas disse.
O que mais me chamou a atenção, porque ela citou isto 3 vezes, é que ela iria "gerar oportunidades".
Isto é a essência do discurso liberal por excelência.
Os liberais acham que as oportunidades é que precisam ser bem distribuídas, enquanto a esquerda, o PSOL, o PSDB, até o PMDB, acham é que a é a renda que precisa ser bem distribuída.
"Gerar oportunidades" significa dar educação, estabilidade econômica, juros baixos, gerar empreendorismo, e se você não aproveitar estas oportunidades para gerar renda, problema seu.
Liberais até defendem a Renda Mínima que o Senador Suplicy usurpou , e o Bolsa Família. Liberais dariam o mínimo, mas o resto é por sua conta.
"Gerar oportunidades" é uma guinada radical ao discurso tipico da esquerda que era "gerar direitos", direitos que , como todos sabem, são sempre contra alguém, o contribuidor. Oportunidades são sempre a favor de alguem, do consumidor.
Porque a grande imprensa, o Reinaldo de Azevedo não pularam de alegria?
Porque a nossa grande imprensa não é liberal, é conservadora.
Oportunidades, para os outros, é vista como uma ameaça ao status quo, especialmente aos editores que hoje beiram os seus 65 anos, e estão mais de 40 anos no poder.
Miriam Leitão está fazendo os mesmos comentários desde 1985, quando a conheci pela primeira e última vez. Fiz a gafe de lhe dar minha HP 12 C, para ela fazer uma conta, e foi muito constrangedor porque ela não sabia usar. Me colocou na sua lista negra e nunca mais pediu minha opinião. Isto sim é censura da imprensa, me considerar morto, somente porque lhe dei uma HP.
Isto explica o antagonismo de certos jornalistas que, como todos percebem, não permitem renovação e ascensão jornalística dos mais jovens.
Não são liberais, não querem dar oportunidades a vocês jornalistas mais jovens, mais bem preparados, que sabem usar uma HP 12 C, um Excel, e o Scielo.
Conheço poucos administradores que são Presidentes por 40 anos, o periodo médio é de 8 anos.
Dilma também deu ênfase a defesa da Classe Média, uma classe liberal por excelência, a classe do Profissional Liberal, que o próprio nome indica.
Foi o grande erro do PSDB, e principalmente do Serra, de não se colocar a serviço da Classe Média.
"O PT soube transformar pobres em classe média, nós do PSDB sabemos fazer a classe média ficar rica, é hora de agradecer Lula e votar no Serra" , ou algo parecido.
Enquanto o PSDB pensa em se refundar, o PT está se reformulando para ser o Partido não mais dos trabalhadores e sim da Classe Média, e assim ficar 20 anos no poder.
Lembre-se que Funcionários Públicos são Classe Média, e esta estratégia da DIlma é politicamente inteligente. Fim do PSDB, DEM, PMDB.
Me chamou a atenção que ela anunciou que iria incentivar a "grande empresa", até o pequeno agricultor. Não precisava usar o termo "grande empresa", mas usou.
O PSDB jamais usaria, mesmo dependendo dela. Nem a Dilma precisaria agradar a "grande empresa" num discurso público, isto se faz a boca pequena. Ela realmente acredita na Marfrig, Friboi, Brazil Foods.
Porque isso faz parte do conceito "empresas de classe mundial", algo que já tratei aqui, que ela reforça na hora de defender a internacionalização da empresa nacional.
Leonel Brizola deve estar revirando no seu túmulo, porque Dilma está sugerindo "imperialismo brasileiro", como forma de combater o "imperialismo e os trustes internacionais".
Em vez de destruir o imperialismo, como queria Brizola e uma ala radical do PT, vamos competir contra ele. Uma mudança de 180 graus. Dilma só esqueceu de incluir boa administração, que esta política exigirá.
Ela afirmou também que as "reservas continuarão a crescer", contrariando muitos economistas do PT, e do PSDB como Celso Pastore, que criticaram Meirelles pelo custo destas reservas. Pararam no tempo, Dilma não.
"Incentivarei fundos de pensão privados", o que significa incentivar fundos que usarm o sistema de acumulação capitalista, onde cada geração acumula os recursos necessários.
Em vez do sistema que nossos economistas criaram de "repartição socialista", onde os jovens pagam as aposentadorias dos mais velhos.
"Para cada um segundo as suas necessidades, de cada um segundo as suas capacidades".
Os liberais e neo liberais deveriam ficar contentes com o discurso, é um progresso e tanto na forma de conduzir um pais.
Infelizmente, o liberalismo como o socialismo, é o grande pavor dos jornalistas conservadores deste país. Mas o jovem de hoje é liberal, acredita no oportunidade para todos. Vamos aguardar.
Stephen Kanitz

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