sábado, 18 de dezembro de 2010

Politicamente correto



Quem maldiz o “politicamente correto” são os que querem ter direito de espargir preconceitos. Mas há os que tentam ser politicamente corretos o tempo todo e não conseguem. São a maioria, a quase totalidade, porque o politicamente correto é impiedoso.
Publiquei um post ontem sobre o machismo e ilustrei com a capa da Playboy com a belíssima Cleo Pires. Comecei o post dizendo que o lado mais odioso do machismo é o julgamento que faz da conduta sexual da mulher, mas também disse que transformar a mulher em objeto de consumo pelo seu apelo sexual é outro tipo de machismo.
Logo apareceu quem viu machismo e julgamento de Cleo por posar nua. E talvez esteja certo. Por outro lado, por se exibir como objeto para homens, houve quem considerasse machista a própria conduta da atriz.
O equilíbrio, mais uma vez, mostra-se o melhor caminho. Uma mulher pode posar nua tanto quanto um homem, mas quando legiões de mulheres – e até de meninas – transformam em sonho dourado tirarem a roupa para que homens as consumam, alguma coisa deve estar errada.
Em qual das duas situações estarei sendo machista, então? Defendendo ou condenando a opção de Cleo de se despir para uma revista masculina?
Se eu disser que as mulheres são mais sensíveis do que o homem, estarei discriminando-as? Elas não são, na maior parte? Será que estou minimizando alguém por considerá-lo mais sensível? E se estou fazendo isso sem saber, como fazer para acertar todas as respostas?
E o pior é que os que decidem qual é a resposta certa e a errada são… Todos. Ao menos na internet. Só que cada um sob as próprias idiossincrasias. Aquele que gritar mais alto provoca o efeito manada, que, no minuto seguinte, pode mudar de lado.
Claro que há conceitos inquestionáveis. Mulher não pode ganhar menos do que homem, não pode receber acusações à sua conduta sexual sempre que discute com um homem – o primeiro insulto que se faz a uma mulher é chamá-la de “vagabunda”.
Mas há uma miríade de sutilezas que podem ser consideradas preconceitos. E algumas são tão sutis que com freqüência tanto homens quanto mulheres podem cometê-las.
Desafiar ou ridicularizar o politicamente correto não é uma boa conduta porque acaba dando possibilidade aos preconceituosos extremados para que digam suas perversões como se estivessem recitando poemas, mas a ditadura do politicamente correto me assusta um pouco.
A revolução que pode sofrer a comunicação no Brasil ainda nem começou. Pode acontecer, mas depende de que movimentos inovadores como o da blogosfera progressista sejam pilotados com competência, desprendimento e visão por seus múltiplos atores.
Para quem esqueceu, há um dragão midiático de ventas fumegantes que a blogosfera fez apenas piscar. Falta muito para que o façamos recuar ao menos um passo. E só faremos isso se estivermos à altura do poder que a internet concedeu ao homem da multidão.
Eduardo Guimarães

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