quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

A política é o convencimento


Fernando Brito, Tijolaço 

"Os jornais estão cheios de especulações sobre o fato de que os círculos do governo Dilma estão “chocados” com os resultados da pesquisa Datafolha  que registra uma queda vertiginosa em sua popularidade.

E nos blogs, como aqui se fez e faz hoje o Nassif, sucedem-se as análises pelos descaminhos da comunicação do governo, inerme diante da ofensiva da mídia – já não direi mídia conservadora, porque o conservadorismo tem como face a própria mídia.

Não creio que exista, dentro de nossas consciências, dúvidas maiores sobre a fidelidade de Dilma a um projeto de emancipação do país e de elevação da qualidade da vida dos brasileiros. Muito menos, ainda, sobre sua honradez pessoal e  retidão de caráter.

O que acontece, então, para que estejamos vivendo este quadro de desagregação e pessimismo (justificado) quanto ao futuro do projeto nacional-popular que só depois de 40 anos conseguimos retomar para o Brasil?

Afinal, não se mudou de programa e, salvo este ou aquele ajuste na política econômica, seja em preços, impostos e juros (que também ocorreram com Lula em algumas ocasiões), o que há de diferente para chegarmos a esta situação?

Não é possível que, nem mesmo por vício profissional, reduza-se o problema à comunicação, até porque a comunicação é apenas um meio.

O problema está, infelizmente, nos métodos.

O poder se exerce, além do cargo, por uma mistura entre mando e convencimento.

Dilma é muito ciosa do primeiro, por sua formação.

Poucos conseguem se aproximar dela e menos ainda o fazem sem certo temor.
Uma e outra coisa são inevitáveis no exercício da Presidência.

Mas é aí que as diferenças entre ela e Lula são mais intensas e, pelo zelo do mando, a Presidenta não tem permitido que ambos funcionem de forma complementar.

Lula é o conversador, o cativante, o orador ou interlocutor que deixa platéia e ouvinte arrastados pela argumentação.

Dilma, talvez, não compreenda que seus inimigos – aliás, menos dela do que do Brasil e do povo brasileiro – praticam, pela mídia, a arte do convencimento todos os dias, pelo método possível a quem tem a hegemonia da comunicação: a criação do “senso-comum”.

É por isso que a mídia desprestigia e, agora, até criminaliza a política.

Porque  é a política quem disputa com ela o convencimento e a construção de um pensamento coletivo.

É tarde, talvez inviavelmente tarde , para que Dilma entregue a Lula o comando da política.

E certamente passou o momento em que este poderia assumir sem reservas esta missão.

Mas cabe, como sempre coube, a Dilma eliminar estas reservas e pedir-lhe que o faça, assegurando-lhe que o governo seguirá o que a articulação política ainda puder compromissar, a esta altura.

Não é, embora a mídia vá fazer tudo para que se creia, uma abdicação do poder, ou de parte dele.

Até porque – e isso não é um demérito – a maior fonte de legitimidade da presidência de Dilma é… o próprio Lula.

Quem terá de renunciar a muito, por isso, é o próprio Lula, porque se expõe diretamente às consequências de que não se reverta o processo de hoje e o governo Dilma naufrague.

Só ele, um sobrevivente político de tantas décadas, pode comandar este processo."

Nenhum comentário:

Postar um comentário