sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Oito milhões de crianças abandonadas, de quem é a culpa?

“minha menina está aqui há dois anos já, não tenho condições de dar de comer a ela, o pai sumiu quando eu ainda estava gravida, sou catadora de papel, ganho tão pouco que não sobra nem pra mim…”
Este é o relato de uma mãe que deixou sua filha em uma casa de acolhimento no Paraná.
Sempre me deparo com grandes discussões nos centros de acolhimento onde faço voluntariado, coordenadoras furiosas com o não repasse do município, ou o pouco repasse, três freiras improvisando para atender 30 crianças em horário de almoço e voluntários chorando pelos corredores ao ouvirem uma história de tristeza quase que inimaginável.
Apesar da institucionalização de bebes e crianças ter se tornado pratica legal, não significa que é eficaz ou que soluciona os problemas do abandono. Como essas instituições apenas abrigam a criança, e são muitas crianças, elas acabam não tratando o real problema por trás das famílias que as abandonaram. A falta de uma política de planejamento familiar que atinja todos os brasileiros é latente em nossa sociedade. É natural ouvirmos pessoas que são alheias a este problema se referirem apenas a negligencia da família, sem levar em conta todos os fatores que envolvem o abandono, e que são, em sua grande maioria, gerados pela desigualdade social descarada no Brasil. A pobreza extrema, a ausência de creches e escolas em tempo integral e gratuitas, violência domestica e sexual, e carência de assistência social e psicológica gratuita, entre tantos outros fatores que demonstram nosso total despreparo em cuidar de nosso povo.
De acordo com a UNICEF, existem mais de 8 milhões de crianças abandonadas no Brasil, destas, 2 milhões estão nas ruas, sem abrigo, comida, dignidade. Dificilmente é visto discussão pública sobre esse quadro preocupante do abandono de crianças, nossos representantes políticos tapam o sol com a peneira, afinal de contas, criança sem pai nem mãe não tem poder de decisão política. O que a própria criança pode fazer para mudar a sua realidade? Nada. Ela ficará a deriva do sistema manco no Brasil, que serve apenas de abrigo, nada mais.
Negamos o direito ao aborto, um direito da mulher de decidir sobre seu corpo, seu futuro. Se esta for pobre e não tiver condições de abortar fora do país ou em clínicas de médicos conceituados, que fazem o procedimento às escondidas das autoridades cobrando entre R$10.000,00 e R$50.000,00, ela acabará em uma gestação forçada, sem estrutura financeira e emocional, e por falta de dinheiro e perspectiva de vida, abandonará seu recém-nascido em lixeiras, vielas, banheiros públicos e tantos outros lugares desumanos.
Enquanto isso, boa parte dos brasileiros que vive no seio familiar, com muito amor, ignoram a realidade da nossa sociedade e criminalizam nossas mulheres por quererem abortar, nossas crianças abandonadas por se tornarem em sua grande maioria usuário de drogas, prostitutas, ladrões, e nossas casas de acolhimento, por não “criarem” estas crianças com perspectiva de futuro.
A criminalização do aborto não é o único motivo para termos tantas crianças abandonadas, e obviamente que a quantidade de crianças abandonadas não irá mudar de um dia para o outro caso se aprove a legalização do aborto, mas sem dúvida, com um trabalho de planejamento familiar estruturado, pensado em longo prazo, diminuiríamos esses números, e poderíamos cuidar das crianças que estão hoje no sistema com mais dedicação.
 PS: Sei que falta o tema adoção no texto, mas este é tão complexo que prefiro escrever apenas sobre ele, em outra oportunidade.
 Fontes:
Autora: Poliana de Cássia
http://www.bulevoador.com.br/2014/09/oito-milhoes-de-criancas-abandonadas-de-quem-e-culpa/

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