sábado, 20 de abril de 2013

Maiorias silenciosas



É preciso provocar nosso reportariado, reafirmando o princípio da liberdade / Foto: Arquivo Agência Estado

Mesmo com a democratização e a abertura política alcançadas, ainda cabe perguntar: e a ética dos jornalistas? Não basta dizer que são obrigados por seus patrões a deixarem de lado os preceitos da profissão. Parece que esses profissionais assumiram, nem que paulatinamente, a ideologia neoliberal, com todas as suas consequências


Será necessária a ação política (no sentido estrito) para que se possa falar de “partido político”? (...) Muitas vezes o Estado-Maior intelectual do partido orgânico não pertence a nenhuma das frações, mas opera como se fosse uma força dirigente superior aos  partidos e às vezes reconhecida como tal pelo público. Essa função pode ser estudada com maior precisão se se parte do ponto de vista de que um jornal (ou um grupo de jornais), uma revista (ou um grupo de revistas) são também eles “partidos”, “frações de partido” ou “funções de um determinado partido”. Veja-se a função do Times na Inglaterra, a que teve o Corriere della Sera na Itália e também a função da chamada “imprensa de informação”, supostamente “apolítica”, e até a função da imprensa esportiva e da imprensa técnica.”
(GRAMSCI, Antonio. Maquiavel, a Política e o Estado Moderno. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1976, pp. 22-23.)  

Com o fim da ditadura, a imprensa brasileira, que vivera confortavelmente sob aquele regime e não se importava tanto com o Estado forte, inclusive na economia, passa à defesa do Estado mínimo, mudança que, naturalmente, não se dá de súbito, como num passe de mágica. Um novo ideário vai se constituindo no final dos anos 1970, início dos 1980, no momento da afirmação de uma conformação empresarial jornalística claramente fundada no mercado – conformação que, por certo, influencia decididamente os jornalistas do ponto de vista de sua ideologia, de sua compreensão do mundo. Isso terá consequências de longo curso. Queremos tratar desse aspecto neste texto.

A burguesia brasileira, intimamente associada ao capital internacional, compreende nesse imediato pós-ditadura que já é hora de modificar aspectos do Estado montado no Brasil após os anos 30 do século 20, destituindo-o de suas funções econômicas diretas tanto quanto pudesse. Os proprietários dos meios de comunicação, que compõem então um setor econômico dinâmico, que integram a burguesia brasileira, não são, obviamente, indiferentes a esse movimento, e incorporam-se a ele, particularmente a partir da Constituinte. O Estado mínimo passa a ser um dos objetivos da velha mídia, e ganha maior consistência com a afirmação do neoliberalismo em escala mundial.

O neoliberalismo, como se sabe, foi a resposta a uma crise do capitalismo, modo de produção que tem uma incrível capacidade de responder a crises. Não se aceitava mais a receita keynesiana. Chega com sua visão de que ao Estado cabe tão-somente assegurar a espontaneidade do mercado, verdadeira matriz revolucionária de todo desenvolvimento – ou, se quisermos ser mais precisos, matriz essencial da acumulação capitalista. O Welfare State soçobrava nessa nova fase. Não era mais funcional ao sistema, embora funcional, aqui, possa parecer inadequado, porque ele é resultado da luta dos trabalhadores, também.
O neoliberalismo reclamava, ao contrário do que se diz, um Estado forte. Mas forte em sua capacidade de reprimir os trabalhadores, diminuir o poder dos sindicatos, forte na contenção dos gastos sociais e na restrição às intervenções diretas do Estado na economia, generoso no socorro ao mercado quando necessário, capaz de promover reformas fiscais indispensáveis aos investimentos capitalistas e, muito importante, um Estado que considerasse a desigualdade algo muito saudável, útil ao desenvolvimento capitalista. Do ângulo de quem pensasse ao menos o Welfare State, para não nos referirmos ao pensamento socialista, uma fórmula profundamente cruel para todas as populações, e em especial para os trabalhadores.”

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