segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Salvar os banqueiros e assassinar os pobres

Os governos da União Europeia se preparam para, uma vez mais, salvar os bancos da crise financeira, sob o pre­texto de que isso é necessário, a fim de salvar a economia. Prevê-se uma injeção de capi­tal da ordem de seiscentos bi­lhões de euros. Com esse di­nheiro, aplicado em progra­mas de desenvolvimento eco­nômico e de assistência urgen­te contra a fome e as endemias e epidemias nos países pobres (como é o caso mais dramático, o do Haiti), seria possível im­pedir a morte prematura de milhões e milhões de pessoas, sobretudo de crianças. Os ban­queiros enriquecem-se com o dinheiro dos depositantes e devedores; distribuem grandes lucros a si mesmos, como representantes dos acionistas, cometem crimes calculados, certos de que os governos os salvarão. É o que ocorre, quase sempre: em lugar de serem punidos, são salvos pelos Esta­dos, que deveriam defender os interesses dos cidadãos que trabalham e produzem bens. Nos últimos tempos globalizantes e neoliberais,o que vem ocorrendo é a mais brutal transferência de renda dos produtores (trabalhadores e empresários industriais) ao sistema financeiro, e a cres­cente irresponsabilidade dos principais bancos do mundo.
Também ontem se soube que, em Kosovo, na guerra que conduziu à independên­cia, houve a matança organi­zada e coordenada de sérvios e kosovos-albaneses, para que de seus cadáveres se re­tirassem os rins, destinados ao mercado negro europeu de órgãos. De acordo com a in­vestigação, realizada por Di­ck Marty, ex-juiz suíço e atual membro do Conselho da Eu­ropa, pelo menos 500 pes­soas, presas durante o confli­to, foram retiradas das celas improvisadas, conduzidas a locais escolhidos e equipa­dos de instrumental adequa­do. Ali, uma a uma, recebiam um tiro na cabeça e, ato contínuo.eram estripadas. Os rins imediatamente se destinavam a hospitais e cirurgiões privados que os aguardavam, para atender à demanda dos pacientes na Europa rica.
Os pobres sempre foram vistos como servidores da vi­da dos ricos, como escravos formais ou sob contratos leo­ninos de trabalho. O avanço da ciência médica, em lugar de servir para dar-lhes mais tempo de vida saudável, con­dena-os, em determinadas circunstâncias, a se tornarem vítimas de brutal canibalis­mo. A eventual doação de ór­gãos deve ser decidida pelas pessoas enquanto vivas, me­diante documentos claros e precisos de sua livre vontade. Como sempre se denuncia - e em alguns casos há indícios fortes, como nessa denúncia de uma pessoa idônea e res­peitável, o suíço Marty - os po­bres têm servido de conjuntos desmontáveis, como os auto­móveis roubados, a fim de ofe­recer peças de reposição aos que podem pagar bem a fim de adiar a própria morte.
E temos outras informa­ções chocantes, como a do surgimento de uma organiza­ção de moradores do tradicio­nal bairro da alta classe mé­dia de São Paulo, Higienópolis, em defesa de seus cães. Como informou a Folha de S. Paulo, exigem que a prefei­tura cuide das praças do bair­ro elegante, onde seus cães passeiam todos os dias, leva­dos por empregados ou pelos próprios donos, de forma a dar dignidade aos animais. Entre outros benefícios, rei­vindicam tanques de água fria, para o banho refrescan­te de seus animais, além da higiene cuidadosa do chão onde transitam.
Como pagam seus impostos municipais, talvez em dia, é provável que a prefeitura os atenda, concedendo existên­cia digna aos cães de raça no­bre, como os labradores, são-bernardos, huskies sibe­rianos e pastores belgas, sem esquecer os diminutos lhassas e pequineses.
Quanto às crianças, perambulames pelas ruas, que tra­tem de ser astutas, para não serem mortas pelos que que­rem sanear as metrópoles, co­mo ocorreu na Candelária e em outros lugares. Elas e os moradores de rua – mais odiados ainda do que os cães sem dono - não têm tanques onde banhar-se e exalam o odor dos desprezados.
Mauro Santayana
By: Gilson Sampaio

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