sexta-feira, 25 de abril de 2014

Mulheres de meia-idade não transam?


A autora Helen Walsh pede que as mulheres de meia idade desafiem o sexismo
"O sexismo e o etarismo continuarão prosperando, a menos que comecemos a contestar e a reverter o ditame cultural de que a beleza é sinônimo de juventude
Helen Walsh, The Observer  / CartaCapital

A julgar pela série de cartas que se acumulam em minha caixa de entrada, o conteúdo sexual de meu último romance, The Lemon Grove [O pomar de limões], está dividindo opiniões. Não é tanto a ideia de uma madrasta dormindo com o namorado de sua filha que eriça as plumas; é sobretudo a ideia de que um adolescente possa desejar uma mulher de cerca de 45 anos.

 "Absurdo!", exclama uma mulher furiosa. Um leitor pergunta: "Isto não é apenas a realização de um desejo seu?" Talvez seja. Desde que devorei Lolita, no final de minha adolescência, tive consciência de uma representação desequilibrada e altamente sexualizada dos relacionamentos entre gerações na ficção.

Alguns de meus romances preferidos – Desonra, de Coetzee, A Humilhação, de Philip Roth, e Memória de Minhas Putas Tristes, de Gabriel García Márquez – apresentam homens mais velhos enamorados de garotas muito mais jovens.

 Mas temos de nos esforçar para citar mais que um punhado de textos escritos por mulheres que retratem mulheres mais velhas com desejo por jovens adolescentes. A norma nessas poucas obras que invertem a tendência – o brilhante Notes on a Scandal, de Zoe Heller, por exemplo – é que a mulher aberrante seja presa e punida, enfaticamente, por sucumbir a suas obsessões.

Desnecessário dizer que nenhum destino tão draconiano aguarda os protagonistas priápicos de Coetzee ou Roth. Seus velhos lascivos são punidos não por uma sentença de prisão, mas por um trágico e profundo lembrete das iniquidades da velhice. Com as mulheres na ficção, realmente parece ser o caso da arte imitando a vida – é tudo meio indecente, meio ridículo: quando você atinge certa idade deve manter sua sexualidade -- e seu corpo, portanto – sob ataduras. A mulher de meia-idade sexualmente ativa é há muito tempo retratada como uma figura cômica ligeiramente desesperada. Seja a Sra. Robinson de A Primeira Noite de um Homem ou a quintessência da mãe desejável como a mãe de Stifler (a Sra. Stifler tem um nome?) em American Pie, suas histórias são invariavelmente contadas da perspectiva do jovem garanhão.

Onde estão as histórias que projetam luz sobre as complexidades psicológicas das mães que eles querem levar para a cama ["milf" no jargão americano, ou "mãe que eu gostaria de f..."]. Se esse termo já não fosse suficientemente detestável, existe uma expressão também para as mulheres que saem com homens mais jovens – "cougars" [onças]. O Urban Dictionary define assim essas senhoras: "Qualquer pessoa, de uma vítima de túnel de vento alterada cirurgicamente a uma absolutamente triste e inchada velha tarada até uma verdadeira gata ou milf". A reverência à onça virtualmente exala da página:

"Especialmente as verdadeiras gatas, pois os rapazes encontram não apenas um barato sexual, mas muitas vezes uma garota com a cabeça no lugar". Fico feliz ao ver que os temas de meu romance atingiram o zeitgeist do homem pensante. Mas, seriamente, onça? Estou revirando meu cérebro para pensar em um nome equivalente para um homem de 45 anos que saia com uma garota de 17, mas tenho quase certeza de que não há um pejorativo.

É revelador de nossas opiniões sobre gênero e idade o fato de a diretora Sam Taylor-Wood talvez ser mais conhecida por seu relacionamento com Aaron Johnson, um ator cerca de 20 anos mais jovem, do que por sua estreia na direção indicada para o prêmio Bafta, Nowhere Boy. Mas aqui estamos, vivendo em uma era em que cada vez mais mulheres ocupam papéis influentes como guardiãs culturais. De colunistas a editoras e diretoras de teatro, as mulheres detêm importantes poderes de veto, assim como a luz verde. Como se explica, então, que essa variedade misógina de etarismo possa florescer irrestrita na cultura popular?

Em marcante contraste com o estereotipado Donas de Casa Desesperadas, o homem mais velho equivalente é descrito como distinto. Tony Soprano foi certa vez votado como um dos homens mais sexies da TV – e, está bem, diante da opção eu teria preferido James Gandolfini a Aaron Johnson em qualquer momento. Mas pode você imaginar que uma mulher tamanho GG, suada, com os cabelos ralos e as nádegas caídas, tivesse uma aclamação semelhante? Não é coincidência que nossa sociedade constrói e vilifica o corpo feminino envelhecido com a mesma generalidade impiedosa com que comemora e objetifica sua encarnação púbere.

Fomos rápidos ao expressar ira contra o reinado de abuso de Jimmy Savile ou os motoristas de táxi que atacavam garotas vulneráveis em Rochdale, mas nossa cultura ainda está casualmente à vontade com a sexualização de corpos femininos jovens. Nossa celebração do tamanho P, nossa aversão aos pelos púbicos e até a crescente tendência às vaginoplastias são sintomáticas de um desejo de levar o corpo feminino de volta a seu estado pré-púbere.

A depilação "à brasileira" é um visual emprestado da pornografia – pode haver um endosso de estilo mais maldito? Pelo menos a pornografia tem uma justificativa: o pelo atrapalha a visão que dá dinheiro. Boa tentativa, mas talvez nosso medo do pelo tenha menos a ver com o aspecto prático e mais com uma tentativa de postergar a maturidade feminina. No entanto, 2014 será supostamente o ano do pelo. Cameron Diaz e Gwynnie já se inscreveram.

 A otimista que há em mim espera que essa tendência seja ditada menos pelos caprichos da moda e mais por um gradual despertar para o fato de que há algo seriamente esquisito em uma mulher adulta com as partes pudendas de uma menina de 8 anos. Mas será preciso muito mais que uma posição sobre a depilação para contestar a percepção negativa da mulher que envelhece.

O sexismo e o etarismo continuarão prosperando, a menos que as mulheres comecem a contestar e a reverter o ditame cultural de que a desejabilidade e a beleza são sinônimos de juventude. Resistir à convenção poderia começar com uma compreensão de que tentar moldar a jovialidade em um corpo envelhecido é bastante inútil: os ingredientes principais da juventude – exuberância, descontração e curiosidade – não podem ser concentrados em uma substância ou uma injeção.

A atração de mulheres como Kristin Scott Thomas, Tilda Swinton e Michelle Obama está, em grande medida, em seu repúdio à juventude. São mulheres que claramente têm a cabeça no lugar. Sua beleza é de um tipo tranquilo, que não insiste em fazer o tempo recuar, mas existe firmemente em cada inflexão mutável da feminilidade. Todas essas mulheres possuem uma sexualidade que não é insincera ou apologética, mas investida da sabedoria, a confiança e, em última instância, o autoconhecimento que traz a maturidade."

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