segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

A origem do Isis


Cada vez que houver um atentado, os diários ocidentais difundem logo a teoria do ataque islâmico, as vezes mesmo antes da polícia fazer qualquer declaração ou bloquear um suspeito.

Foi o caso de Berlim, onde houve 12 mortos no mercado de Natal; foi o mesmo em Nice, onde outro camião atirou-se na terrorista promenade matando 86 pessoas; é assim também no caso do mais recente ataque numa discoteca na Turquia.

Obviamente, se cair um avião russo no Mar Negro a causa é um erro do piloto. Mas este é outro discurso.

No dia 20 de Dezembro, o The Washington Post titula: "Ataque de caminhão pode ser parte da estratégia Isis para afiar divisão entre muçulmanos e outros". Pelo que, nem tinham passado 24 horas do massacre e o diário Washington Post já identificava mandantes e estratégia. Apesar da falta de provas.


A "análise" do Washington Post não explica por qual razão o Isis deveria atingir um País que até agora desempenhou apenas um papel menor nas operações anti-Califado, nem a lógica que alegadamente deveria ficar por trás dum fosso ainda maior entre muçulmanos e Ocidente. Pensamos nisso: uma vez que o tal "fosso" ficasse bem profundo, quais as consequências? O que temos até agora, no Ocidente, é uma crescente desconfiança em relação aos muçulmanos, com o eleitorado que enverga por escolhas cada vez mais nacionalistas, que vota quem promete "fechar as fronteiras" (Trump nos EUA, Marie Le Pen em França, etc.). Pelo que: qual seria a vantagem para o ISIS? Resposta: nenhuma.

Mas na propagação do mito do Isis, o Washingon Post vai mais longe: no artigo sugere que o Isis estaria a tentar bloquear o fluxo de refugiados dos seus territórios de origem para Países, como a Alemanha, que têm uma política de portas abertas para recebê-los. Pena que estas "portas abertas" não existam: e é simples verificar isso após alguns meses passados em Italia, onde a falta de cooperação por parte dos outros Países da União Europeia para "absorver" as vagas dos imigrantes é um problemas bem tangível.

Na verdade, o Washington Post e os outros "especialistas" entrevistados evitam cuidadosamente observar e comentar o óbvio: o terrorismo é a grande arma do Capitalismo (ou melhor: aquela coisa na qual vivemos e que insistimos a definir como "Capitalismo"). Alvos dos ataques nunca são os centros do poderes, as sedes dos grandes bancos ou das corporações, os lugares da política ou da Finança; pelo contrário, são atingidos elementos dispensáveis como são os cidadãos comuns.

Depois temos a cansada retórica da narrativa oficial: no caso de Berlim, só para fazer um dos mais recentes exemplos, há o terrorista que milagrosamente foge de todas as câmaras de Berlim, consegue atravessar meia Alemanha, entra na França, muda de comboio, chega em Italia, Temos o documento regularmente encontrado pelas autoridades. E temos o tiroteio final no qual o terrorista morre (e é bom lembrar que os mortos não falam). Um filme já visto várias vezes.
Os documentos

E pensar que explicar o Isis seria simples, muito simples. Seria suficiente que o Washington Post e os outros diários publicassem um par de documentos; nada de entrevistas com os grandes "especialistas", só um par de documentos.

O primeiro é um memorandum da DIA, a agência de inteligência da Defesa dos Estados Unidos, datado de 2012. Eis o texto:
Se a situação se desenvolve, há a possibilidade de estabelecer um declarado ou não declarado reino Salafista no leste da Síria (Hasaka e Der Zor), e isso é exatamente o que as potências que suportam a oposição [da Síria, ndt] querem com o fim de isolar o regime sírio, que é considerado o foco estratégico da expansão xiita (Iraque e Irão).
Quais são "as potências que suportam a oposição"? É o mesmo relatório que explica:
O Ocidente, os Países do Golfo e a Turquia apoiam a oposição, enquanto a Rússia, a China e o Irão apoiam o regime.
O segundo documento é de 2014. É um e-mail entre o Assessor do Presidente, John Podesta, e o ex-Secretário de Estado, Hillary Clinton. Eis o texto:
[...] Temos que usar os nossos meios diplomáticos e de inteligência tradicional para exercer pressão sobre os governos do Qatar e da Arábia Saudita, que estão a fornecer apoio financeiro e logístico ao Isis e aos outros grupos radicais sunitas da região de forma clandestina.
Estes dois documentos devem constituir a base de qualquer raciocínio sobre o "terrorismo islâmico", tanto no Ocidente quanto em outras partes do Mundo. Depois podemos acrescentar mais pormenores, como a Turquia que recebia o petróleo do Isis, as viaturas do Estados Islâmico fornecidas pelo Departamento da Defesa dos EUA (as famosas Toyota) e mais ainda; mas a base está toda aí, no facto dos EUA terem apoiado, de forma directa e indirecta, a formação do Califado com o fim de abater o regime sírio.

O Isis é um útil "inimigo"criado pelo Ocidente a partir do zero para atingir os seus objectivos geopolíticos: e até quando Washington e os seus aliados considerarem o Califado conveniente, irão mantê-lo em vida, para ser usado tanto como uma força mercenária em guerras onde não há intervenção directa do Ocidente, quanto como um pretexto para uma intervenção militar directa do mesmo Ocidente. A estratégia da tensão deverá ser mantida, assim os ataques "islâmicos" como os de Bruxelas, de Paris, de Nice, de Berlim, da Turquia, continuarão a ocorrer.


Ipse dixit.

Fontes: The Washington PostJudicial Watch (documento Pdf, inglês), Wikileaks
http://informacaoincorrecta.blogspot.com.br/2017/01/a-origem-do-isis.html#more

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