quarta-feira, 22 de junho de 2016

A política e a mentira

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O fato de que muitos políticos de sucesso são mentirosos, não é exclusivamente reflexo da classe política, é também um reflexo do eleitorado. Quando as pessoas querem o impossível somente os mentirosos podem satisfazê-las, e unicamente à curto prazo. A atual série de revoltas na Europa mostra o que acontece quando a verdade afronta tanto os políticos quanto as pessoas no longo prazo.
Entre as maiores mentiras do Estado de Bem-Estar em ambos os lados do Atlântico é a noção de que o governo pode fornecer às pessoas coisas que desejam, mas não podem ter. Já que o governo retira seus recursos das pessoas, se as pessoas no geral não podem comprar algo, tampouco pode o governo.
Existe, é claro, a falácia recorrente de que o governo pode simplesmente aumentos os tributos sobre “os ricos” e usar tal receita adicional para pagar por coisas que a maioria das pessoas não pode comprar. O que é incrível é a hipótese implícita de que “os ricos” são todos tão idiotas que não farão nada para evitar que seu dinheiro seja tributado. A história mostra o contrário.
Depois que foi feita a emenda na Constituição dos Estados Unidos para autorizar o imposto de renda federal, em 1916, o número de pessoas informando rendas tributáveis de USD 300.000 ao ano ou mais caiu de muito mais de 1000 para menos do que 300 em 1921.
Os ricos estavam empobrecendo? De forma alguma. Eles estavam investindo muito dinheiro em títulos não-tributáveis. A quantidade de dinheiro investida foi maior do que o orçamento federal, e praticamente metade do tamanho da dívida nacional.
Não foi algo particular aos Estados Unidos  ou àquela era.  Depois que o governo britânico aumentou a alíquota do imposto de renda sobre as maiores rendas em 2010, eles descobriram que arrecadaram menos impostos do que antes. Outros países tiveram experiências similares. Aparentemente, os ricos não são todos idiotas, afinal.
Na economia globalizada atual, os ricos podem simplesmente investir seu dinheiro em países onde os alíquotas de impostos são menores.
Então, se você não pode confiar que “os ricos” irão pagar a conta (compensar), em que você pode confiar? Mentiras.
Nada é mais fácil para um político do que prometer benefícios governamentais que não podem ser entregues. Pensões tais como a Previdência Social são perfeitas para essa função. As promessas que são feitas referem-se a valores que serão pagos muitos anos a frente – sendo que outra pessoa estará no poder, com a tarefa de descobrir o que dizer e fazer quando o dinheiro acabar e as revoltas começarem.
Existem várias formas de postergar o dia do ajuste de contas. O governo pode se recusar a pagar o custo para fazer as coisas. Cortar os salários dos médicos que atendem pacientes através do Medicare é um exemplo óbvio.
Aquilo, é claro, leva alguns doutores a recusar o atendimento a pacientes do Medicare. No entanto, um tempo é necessário para que seja sentido o impacto de tal processo – e as eleições ocorrem no curto prazo. Esse é um outro problema importante que pode ser deixado para outrem tentar lidar no futuro.
Quantidades crescentes de papelada para doutores nos estados de bem-estar com sistemas de saúde públicos, e pagamentos reduzidos para os mesmos, de forma a protelar o dia da falência, significando que a profissão médica é provável que atrairá menos dos mais brilhantes jovens que visualizam outras ocupações disponíveis – pagando mais e se incomodando menos. Mas esse também é um problema de longo prazo – e as eleições ainda ocorrem no curto prazo.
Eventualmente, todos esses problemas de longo prazo podem desafiar as belas mentiras que são a força motriz da política do estado de bem-estar. Mas podem ocorrer muitas eleições de hoje até o futuro – e aqueles bons em mentiras políticas podem vencer muitas dessas eleições.
Enquanto não chega o dia do ajuste de contas, existem diversas formas de aparente superação da crise. Se estiver terminando o dinheiro, você pode imprimir mais.  Isso não torna o país mais rico, mas silenciosamente transfere parte do valor da moeda que compõe a poupança e a renda das pessoas para o governo, cuja moeda recém impressa vale tanto quanto o dinheiro que as pessoas receberam e pouparam.
A impressão de mais moeda gera a inflação – e a inflação é uma mentira discreta, por meio da qual o governo pode manter suas promessas no papel, mas com o dinheiro valendo muito menos do que quando as promessas foram feitas.
É tão surpreendente que eleitores com expectativas fantasiosas elejam políticos que mentem em relação ao cumprimento de tais expectativas?

Sobre o autor

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Thomas Sowell é um economista americano, crítico social, comentarista político e autor. Ele frenquentemente escreve como um defensor da economia laissez-faire, e sua visão política pode ser geralmente classificada como libertária.


no
http://www.libertarianismo.org/index.php/artigos/a-politica-e-a-mentira/

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