segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Essa nossa democracia...


Um governador de Estado dizer que é preciso acabar com um partido político adversário deveria, numa sociedade democrática madura, causar, no mínimo perplexidade em todos os seus cidadãos.

Isso porque a base de uma democracia é justamente a pluralidade política. 

Quanto mais as diferentes visões de mundo estiverem representadas no Parlamento ou no Executivo, melhor para todos.

O contrário, como quer o governador paulista Geraldo Alckmin, segundo manifestação pública feita sábado, chama-se ditadura, o regime político mais execrável que existe. 


Uma declaração dessas, se o Brasil fosse uma democracia madura, teria repercussão imediata.

Como, porém, o país vive um momento estranho, no qual até mesmo parte das instituições se engajou numa guerra sem trégua contra o governo trabalhista, uma afirmação dessas, de uma autoridade pública do porte do governador de São Paulo, cai na vala comum das platitudes que diariamente nossos políticos vociferam.

Além disso, Alckmin, por tudo o que representa, merece da imprensa tratamento de intocável. 

Pode dizer, fazer - ou deixar de fazer, que é a sua marca registrada - a barbaridade que for, que isso soará como a mais alta expressão de uma inteligência ímpar.

O mesmo se aplica a essa imprensa que deixou de lado sua função informativa para se converter numa das mais poderosas peças da artilharia pesada dos inimigos do trabalhismo.

Seus comentaristas estão liberados para matar.

Sem cerimônia, distorcem fatos, inventam notícias, espalham boatos, ofendem e até mesmo difamam políticos e autoridades governistas.

A presidenta Dilma e o ex-presidente Lula são os alvos preferenciais, que merecem achincalhe diário.

Uma importante colunista chegou ao ponto de escrever, em tom de ameaça, que Lula não deveria concorrer à Presidência da República em 2018, porque tem "muito a perder" se fizer isso.

A revista semanal Época, das Organizações Globo, considera criminosa a atuação de Lula, já como ex-presidente, no exterior em prol das empresas brasileiras. 

Nesse cenário, portanto, o fato de o governador paulista fazer, em público, uma profissão de fé a favor da ditadura, é pouca coisa.

Como não tem nenhuma importância, para os "homens de bem" deste país, o desastre hídrico paulista, a matança indiscriminada promovida pela Polícia Militar do Estado, a suspensão da construção de várias linhas de monotrilho ou os atrasos nas obras do metrô da capital - entre várias outras façanhas do governador Alckmin.

Tudo isso merece, quando muito, notas envergonhadas nos jornalões e alguns segundos apagados nos telejornais.

Importante, mesmo, é punir quem furou o bonecão de plástico de Lula com roupa de presidiário.

Essa nossa democracia, que tristeza...


no: http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2015/08/essa-nossa-democracia.html#more

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