sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Política não se discute?



Política é a essência das relações inter-humanas. Mesmo quando estas relações parecem afetadas pela contrariedade de opiniões. A contrariedade é factível, ou melhor, é intransigente nas relações políticas.

Política não se discute. Esta afirmativa é tão repetitiva e entranhada no imaginário popular brasileiro quanto aquela que diz: política e religião não se discute. Evidente que a frase expressa uma rejeição ao debate, ao conflito e à discussão. Estes três conceitos são mal vistos pela turbulência gerada dos seus diversos significados. Mas quando o conceito de ideia é aplicado a eles, temos então uma nova visualização do que é debater, conflitar e discutir a política. Porque então tudo será definido no campo das ideias, da ideologia, do entendimento que absorvo dos adversários e do que os repele de mim.
Política é a essência das relações inter-humanas. Mesmo quando estas relações parecem afetadas pela contrariedade de opiniões. A contrariedade é factível, ou melhor, é intransigente nas relações políticas. Não significa que o debate seja feito sempre de maneira acirrada e incontestável por cada parte. Então surge a possibilidade mais um conceito formador da identidade política de um sujeito: o diálogo. A comunicação é essencial na política. Saber explorar ideias e ater-se à coordenação dos fatos define uma característica elementar do bom político.
Vivemos numa sociedade onde a diminuição das necessidades dos cidadãos está atrelada a diretrizes definidas por políticas institucionalizadas pelos poderes do Estado. O Estado provém ao cidadão as melhorias das condições de vida através de políticas quase sempre condicionadas pelos acordos, diálogos e definições dos políticos com a sociedade. Muitas vezes esta relação se torna desgastada pelas constantes recriações negativas da imagem do homem público. E se desgasta ainda mais pela constatação de que a negatividade é sempre originada de denúncias verdadeiras de corrupção, entre outras mazelas.
Mas mesmo a corrupção, a falta de decoro e os esquemas de lavagem devem ser debatidos não com a pequenez dos desejos partidários. A política abrange muito mais aspectos do que uma simples legenda, homens públicos ou desejos unificados de uma bancada. Desta maneira tem se tornado mesquinha aos olhos da população porque não se consegue interpretar a grandeza dos gestos, a firmeza de ideologias populares e não populistas, o cerne social e não capitalista das políticas públicas.
Para além deste discurso inaugural do site Nossa Política, uma reflexão superficial sobre se devemos ou não discutir sobre política. Devemos discutir como se discute futebol, religião, sociedade. Porque somente assim a história pode resguardar um futuro brilhante para o Brasil e todos os seus filhos. Que tenhamos a capacidade de mostrar aos nossos compatriotas que política é discutível no campo das ideias e inclusive no campo das ações. E que é digno ver um jovem escolher seus candidatos, brigar por suas propostas, discuti-las e abrigar sob seu senso uma ideologia voltada ao diálogo.
Dialogar e sentir-se pertencente à política, a minha, a sua, a nossa política.
*Mailson Ramos é escritor, profissional de Relações Públicas e autor do blog Nossa Política. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político.
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