domingo, 21 de dezembro de 2014

Dias melhores verão


Pode ser, e suspeito que seja, mero jogo de cena, para cedo cantarem vitória sobre os alegados indícios que, agora, levam a más expectativas para o próximo ano. Não fazem sentido as previsões negativas que repetem para jornalistas o presidente do Banco Central, os futuros ministros da Fazenda e do Planejamento, e seus companheiros nas teses de governo pró-"mercado".

"A inflação no que ano que vem vai ser maior", exemplifica uma frase de Alexandre Tombini. Ou, nas palavras de Joaquim Levy, o que precisa ser feito "será firme e rápido", o que, além de insinuar incomprovada urgência crítica, parece uma elegância ilusória para o mais conhecido "curto e grosso".

Certo é que a direção do governo importa mais, para a maneira como se pinta a situação do país, do que os números arbitrários usados na propaganda contra ou a favor de um ministro, do governo ou de quem preside.

Uma equipe econômica aliada e alinhada prioritariamente com os interesses do capital desfruta de habeas corpus. Mailson da Nóbrega levou a inflação a 84%. Ao mês. Sem ser criticado, só saiu porque o governo Sarney acabou.

Todos os números do governo Fernando Henrique são piores do que os atuais, mas Pedro Malan, como Mailson, como Marcílio Marques Moreira e tantos outros, saiu do governo para o abrigo gratificante de grandes empresários.

Guido Mantega não foi alvo solitário. O grosso da pancadaria dirigiu-se a Dilma Rousseff. E nisso se dá o primeiro efeito da troca de Mantega por Levy: a menos que queira palpitar, Dilma deixa de ser atacada em razão da política econômica, porque fazê-lo atingiria também Levy e seus parceiros.

Para Dilma, é um lucro muito grande. Ela não soube defender o seu governo, nem a si mesma e, muito menos, o atacado gasto governamental, decorrente — como disse no Congresso o secretário do Tesouro, Arno Augustin — "da estratégia de elevar os investimentos e gastos sociais, o que trará ganhos de longo prazo para o Brasil".

Por mim, quando leio um título negativo como "Sete milhões passam fome no país", prefiro saber que, por baixo dele, diz-se que em dez anos caiu de 6,9% para 3,2% o número de famílias com "insegurança alimentar grave".

Ou seja, as moradias onde possa haver fome são, hoje, menos da metade do que eram em 2003. Posta a redução em números humanos: de 15,5 milhões de pessoas para 7,2 milhões. Ou 8,3 milhões de crianças, adultos e velhos resgatados da fome ou do risco de sofrê-la.

O que sobrará para a fazer a continuidade desse avanço de vida? Por ora, as esperanças de mais vida só podem ser postas em generosidades do verão que chega hoje.

Rica promessa

Se respeitadas as proporções, "a maior corrupção da história" nem acabou de ser apurada na Lava Jato, mas seu título já passou da gigante Petrobras para o minúsculo município fluminense de Itaguaí.

Seu prefeito de apenas 32 anos, Luciano Mota, montou um bando que desviou POR MÊS, pelo apurado até agora, entre R$ 10 milhões e R$ 30 milhões da prefeitura, cuja arrecadação mensal média é de R$ 90 milhões. Os desvios incidiram sobretudo nos repasses do governo federal, por participação no pré-sal e para o SUS.

Vou falar baixinho, para o senador Aécio Neves não ouvir: Luciano Mota foi até agora um dos jovens políticos promissores, com outros integrantes da quadrilha, do PSDB.

Vale a pena

Duas convictas sugestões de leitura, que, hoje, também são de presente. "O Estado Empreendedor - desmascarando o mito do setor público versus setor privado" é uma demonstração muito interessante de que os grande avanços científicos e tecnológicos, "da internet à indústria farmacêutica" e ao iPhone de Steve Jobs, provêm de empenho do Estado.

Há casos surpreendentes na trama levantada por Mariana Mazzucato, professora na Universidade de Sussex, no Reino Unido. O livro foi sucesso na Europa e nos Estados Unidos.

"Cartas Extraordinárias" é uma seleção, por diferentes critérios, da "correspondência inesquecível de pessoas notáveis", mas, na verdade, da correspondência esquecida ou nem conhecida de pessoas, elas próprias, extraordinárias. Comecei-o sem sequer curiosidade. E não larguei mais. 

Janio de Freitas
No fAlha, via http://www.contextolivre.com.br/2014/12/dias-melhores-verao.html

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