quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Mídia conservadora tenta desestabilizar a sociedade brasileira com discurso extremista




Gilberto de Souza, Correio do Brasil 

“O ano de 2013 tende a ser uma prova de fogo para a democracia brasileira. O governo da presidenta Dilma Rousseff, que ensaia reformas de base como o fim da miséria no país em plena crise na estrutura do sistema capitalista mundial; o Legislativo, no qual os partidos de esquerda vêem as legendas conservadoras submergir em uma série de derrotas históricas nas últimas eleições municipais; e o crescimento da mídia alternativa aos diários conservadores que, dia após dia, perdem mais leitores, assinantes e se debatem com a falta de apoio publicitário dos tradicionais parceiros, ligados a um capital internacional em via falimentar, são fatores que tensionam e tendem a radicalizar o processo político brasileiro.

Ao perceber a aceitação do discurso voltado à justiça social, ao fim da concentração de renda no país e ao abandono sistemático das fórmulas econômicas ortodoxas, os brasileiros têm mostrado, nas urnas, que o fio condutor da economia brasileira mudou e a transformação foi aprovada. No Estado de São Paulo, de longe o mais conservador do país, a proposta das esquerdas foi consagrada na eleição do ex-ministro Fernando Haddad, após uma costura de bastidores entre legendas de tendências que vão do comunismo ao obscurantismo religioso. Mas todos voltados para a derrota do então líder da legião conservadora, José Serra, ora de partida para o ostracismo. O pragmatismo político do novo centro de poder da capital paulista assegurou mais um passo na direção da realidade pretendida pelo governo da presidenta Dilma.
No Supremo Tribunal Federal (STF), um processo no qual escutas transcritas pela Justiça lançam graves suspeitas sobre os principais líderes da direita no país, entre eles o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, seu então ministro da Saúde, José Serra, o ex-governador do Estado de Minas Gerais, Aécio Neves, senadores e líderes da direita mais extremada, é o próximo na fila de julgamentos e, na nova configuração da Corte, tende a cruzar os meses do segundo semestre de 2013 até meados do ano eleitoral. A Ação Penal (AP) 536 tende a abraçar, ainda, as denúncias contidas no best seller do jornalista Amaury Ribeiro Jr., A Privataria Tucana, que esmiúça o processo de privatização realizado no governo de FHC, sobre o qual pesa uma avalanche de ações na Justiça.”


Percebe-se, assim, o gradual distanciamento da maioria do eleitorado brasileiro das velhas estruturas oligárquicas que, até hoje, mantêm-se aferroadas à máquina estatal como forma de garantir os interesses das grandes corporações na economia brasileira, apesar dos esforços cada vez maiores da mídia conservadora para minar a credibilidade da proposta vitoriosa nas urnas. O nível de convencimento do eleitorado permanece em queda para os principais líderes de audiência, entre eles o Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, flagrado em um movimento escancarado de apoio ao candidato derrotado em São Paulo, durante o período do último horário eleitoral gratuito. O caso gerou uma representação contra a emissora, subscrita por Eduardo Guimarães, coordenador do Movimento dos Sem-Mídia, que segue seu curso na Justiça paulista.
Empurrados para o corner da sociedade, os velhos defensores do Estado autocrático, da mídia que apoiou a ditadura militar, da manutenção dos privilégios às castas mais ricas do país em detrimento à distribuição da riqueza nacional, estes se voltam cada vez mais raivosos contra os defensores do Estado justo, social e economicamente, em curso no Brasil desde a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. Diante das transformações inexoráveis, a mobilização dos líderes da direita em defesa de seus interesses também aumenta. Os canais de TV, os principais jornais e revistas impressos do país, as concessões de rádio que estes grupos empresariais detêm passam a transmitir mensagens cada vez mais claras aos seus aliados para que se levantem contra uma outra espécie de ‘perigo vermelho’, a exemplo do que ocorreu no golpe de 1964.
Desta vez, porém, tanto fatores externos quanto internos formam um caldo de cultura completamente toxico às quarteladas do século passado ou aos golpes patrocinados por setores ínfimos, e riquíssimos, da sociedade brasileira, com apoio de uns Estados Unidos de outrora que, hoje, lutam para se manter acima da linha d’água no panorama geopolítico mundial. O capitalismo em crise, por sua vez, também deixa a ver navios os segmentos mais reacionários em atividade no Brasil, como o da mídia, embora instituições como o Instituto Millennium, destinadas à sobrevivência do ideário capitalista a qualquer preço, monitorem as reações ao surgimento de um novo modelo social no Brasil e na América Latina, onde países como Argentina, Bolívia, Equador, Peru, Uruguai e Venezuela caminham a passos largos na direção do socialismo.
Tais reações, espelhadas nas páginas dos meios conservadores de comunicação ou nas telas das redes de TV ligadas aos setores mais retrógrados do pensamento brasileiro, no entanto, têm o poder de esticar a corda da paciência de cada cidadão, a ponto de levar a sérias rupturas nos meios familiares e mesmo em certas relações de trabalho ou de amizade. O radicalismo da mídia conservadora se exacerba, por exemplo, em um dos programas do canal fechado de jornalismoGlobonews, no qual o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega explica porque é importante pagar uma conta de luz mais cara e de que forma uma medida de alto impacto econômico, como a redução no preço da energia elétrica, seria quase um ato terrorista praticado pela presidenta do país.
Em certas circunstâncias, a agenda da direita brasileira volta-se muito mais à queda do modelo social em curso do que para o fim de uma gestão, em certos aspectos, simpática ao empresariado, como é o caso da atual. Assim, o discurso pseudo-moralista que vigora nas principais colunas dos diários ou nos programas da TV ligados aos conservadores espraia-se para a sociedade de forma a provocar reações cada vez mais extremadas. É o próprio Eduardo Guimarães que relata, a seguir, ser vítima de ameaças por conta de suas posições políticas de apoio ao presidente Lula e à presidenta Dilma.
Segundo Guimarães, há um processo que se materializa no país e que ele já viu “ocorrer em países sul-americanos (…) com destaque para a Venezuela”.
“Não foi uma só vez em que fui ameaçado de espancamento ou de morte tanto via comentários aqui no Blog (da Cidadania) quanto no Twitter”, relata Guimarães.
“Nunca dei maior importância a esses psicopatas. Apesar de achar que só fazem tais bravatas por trás de um computador, um deles foi munido de cartazes me caluniando ao encontro de blogueiros em Brasília, em 2010, e, em dado momento, fez menção de me agredir. O mais grave é que um maluco é uma coisa, mas, naquela oportunidade, o pirado estava com um irmão tão pirado quanto ele. Ou seja, se eram doentes, a doença atingiu a ambos. Claro que, tanto quanto as outras ameaças que recebi, esta também será enviada às autoridades devido à gravidade, pois o indivíduo, obviamente que oculto sob um pseudônimo, ameaçou me matar a tiros”, afirma.
Em uma das ameaças, devidamente comunicada à polícia, o leitor identificado apenas como Galeão Cumbica, em comentário a um de seus artigos, promete atirar no redator
“Só de pensar que esse tipo de animal com nome de gente, Eduardo Guimarães, financiado com dinheiro publico escreve um lixo desse calibre, dá vontade de encontrar o sujeito e meter-lhe um balaço no meio da cara!!! (…)”, afirma o comentarista. Para Guimarães, a afirmativa não passa de “uma bravata”.
“Nem acho que quis me intimidar. Apenas externou seu ódio, um ódio que não nasceu em si, mas que foi instilado pela mídia, pelos Reinaldos Azevedos, Augustos Nunes, Elianes Cantanhêdes e congêneres. O problema, portanto, não sou eu ou esse pirado – nem os outros tantos que há por aí. O problema é que a direita midiática está desencadeando, no Brasil, um processo que vi, recentemente, em países vizinhos. Até alguns poucos anos atrás eu viajava bastante à Venezuela e, lá, vi várias cenas de batalha campal. Certa vez, chavistas e antichavistas quebraram uma lanchonete em que eu estava. Cheguei a levar um murro no estômago ao tentar proteger uma moça empurrada por um dos brigões. Vi essas coisas acontecerem, também, na Bolívia e no Equador. No Brasil, tudo tem se resumido, salvo exceções, à internet, com os valentões bem escondidinhos por trás do computador, inclusive usando codinomes”, escreveu Guimarães.

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