sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Em dezembro...




Chegou o mês em que eu lembro que ainda tem gente que passa fome neste País. Uma nuvem sentimental acolhe o Brasil. O que a gente deveria fazer todo ano só agora a Globo lembra: todo dia vai ter reportagens de gentes ganhando cesta básica. Muita saúde e paz (e muito dinheiro), muita saúde e paz (e bastante dinheiro), muita saúde e paz (e não se esqueça do dinheiro).
Aproveite, não perca tempo: toda a cachaça do mundo vai acabar este mês. Por isso que a gente bebe até morrer, e se não morrer bebendo, a gente se rasga em um acidente e vai parar nas estatísticas de fim de ano.
A cidade se enfeita e os caminhões mais altos batem nas lâmpadas de natal da prefeitura. Loucura nas lojas, afinal, é o fim do mundo. A cidade torra a 40° C, mas na tv cai neve no comercial. Todo mundo põe gorro vermelho, até nos supermercados as atendentes tem que cair no ridículo de trabalhar o tempo todo com aquilo na cabeça.
Ah!, as festas de fim de ano... No serviço, o chefe que te humilhou, que te zombou, que gritou contigo o ano todo, agora ele te dá tapinha nas costas e te deseja feliz natal, feliz ano novo, e que você continue o mesmo babaca. Bem que a gente podia mudar o amigo secreto para o “vai-para-o-inferno-secreto”.
Nem precisa mais ligar a tv: tem o especial do neanderthal Roberto Carlos, as finais do Brasileirão, a retrospectiva das tragédias do ano, e os filmes que a Globo anunciou o ano todo não vão passar... Os comerciais da Coca-cola com ursos comendo o papai noel, as reprises dos programas, a Missa do Galo. As enxurradas, famílias desabrigadas.
Em cada esquina tem out-door de político te dando votos de felicidade, os pedindo de volta nas urnas. Neste mês tem estreia de filme da Xuxa, pra poluir a cabeça das crianças nas férias. Tem lançamento de vários modelos de celular. São doze vezes sem juros, para que quando termine de pagar já ter outro te esperando na promoção do ano que vem. É a corrida de São Silvestre às compras.
Tem as previsões. Poderá acontecer um acidente com fulano. Saúde e muito dinheiro pra quem tem a Marte como ascendente. O time do sul vai ser campeão. O último das pesquisas será o eleito. A sorte é que a gente esquece rápido.
A criançada fica maluca! A propaganda subliminar as corroi até o fígado. Os pais enlouquecem depois – com as contas, e com os materiais escolares. É tempo de sonhar um pouco. De chorar também. Mais um ano sem pagar aquela conta. A rodoviária tá lotada, mas dessa vez não deu pra visitar meus pais, no ano que vem eu faço um esforço. Mês que vem tem IPTU, será se dessa vez eu pago?
Agora eu acho que dá pra comprar aquela televisão. Um monte de promoção, vou preencher tudo quanto é cupom que ver pela frente. Sorteios. E a viagem que prometo pra família há anos... Os fogos do Rio de Janeiro – que verei pela tv...
Panetone, nozes, ameixas, uvas, aquele monte de coisas que a gente compra depois do natal – mais barato. Só o churrascão brabo mesmo. E os espumantes de três reais. A gente se reúne não sabe pra quê, não tem muito que comemorar, foi um ano difícil, sofrido, mas tô vivo, vem outro ano aí, e agora?, será se dá pra segurar? Medos, esperanças... Enquanto isso, no lixão, o anônimo faz sopa de papelão. É assim: ele pega os papelões que ficaram em contato com comida, óleo, caldos. Fica o cheirinho de comida lá. Ele cozinha o papelão e toma a soma de cheiro.
E a nossa comilança do natal, a azia. Será se a minha tinha querida que arrumou um bico de vendedora este mês vai chegar a tempo pra festa?, ou vão sugá-la até o último minuto??!
As árvores são fáceis de achar

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