quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O buraco é mais embaixo

Skaf, sem a roupa de socialista: imposto, não!

Já sem a fantasia de socialista que vestiu na campanha eleitoral, Paulo Skaf, o presidente da toda poderosa Fiesp, retomou, para uma plateia formada por empresários os mais variados, o seu velho discurso neoliberal.
No seu cardápio, o prato mais trivial é o combate a qualquer coisa que se assemelhe a imposto.
Como se sabe, empresários detestam os impostos, não porque, como falam, ele "trava os investimentos", mas simplesmente porque refreia os lucros. E, mais uma vez, a fúria de Skaf voltou-se à CPMF, que vários novos governadores querem recriar e que ele, numa campanha violenta, ajudou a derrubar em 2007.
"Há algumas pessoas sonhando que o R$ 1 trilhão previsto para ser arrecadado para os cofres do governo federal em 2011 talvez seja pouco e andam sonhando com a criação de impostos ou contribuições. O recado que dou a elas é que tenham cuidado porque nós vamos fazer com que esses sonhos virem pesadelos", disse um entusiasmado Skaf segunda-feira na abertura do Congresso Indústria 2010, em São Paulo.
Skaf, que apesar de dirigir a Fiesp é um "sem-indústria" (a empresa têxtil que tinha fechou as portas em 2001, afundada em dívidas com a Previdência, que ele tentou quitar por meio dos generosos programas de parcelamento de débitos lançados tanto pelo governo FHC quanto pelo de Lula), talvez tenha carregado na oratória ainda sob os efeitos da adrenalina acumulada na campanha eleitoral. O fato é que foi entusiasticamente aplaudido por seus pares, o que demonstra o quão difícil será recriar algum imposto para a saúde.
É que nessas questões tributárias não há espaço para socialismo de nenhum tipo em Skaf. E não é apenas com a CPMF a sua briga.
A insuspeita colunista Monica Bergamo registrou em sua coluna da Folha, em 2007, uma cena envolvendo esse nosso líder empresarial e o médico Adib Jatene, que, quando ministro da Saúde no governo FHC, teve a ideia de criar o imposto para a saúde. Vamos ao seu didático relato:
"Dedo em riste, falando alto, o cardiologista Adib Jatene, “pai” da CPMF e um dos maiores defensores da contribuição, diz a Paulo Skaf, presidente da Fiesp e que defende o fim do imposto: 'No dia em que a riqueza e a herança forem taxadas, nós concordamos com o fim da CPMF. Enquanto vocês não toparem, não concordamos. Os ricos não pagam imposto e por isso o Brasil é tão desigual. Têm que pagar! Os ricos têm que pagar para distribuir renda.'
Numa das rodas formadas no jantar beneficente para arrecadar fundos para o Incor, no restaurante A Figueira Rubaiyat, Skaf, cercado por médicos e políticos do PT que apóiam o imposto do cheque, tenta rebater: 'Mas, doutor Jatene, a carga no Brasil é muito alta!'. E Jatene: 'Não é, não! É baixa. Têm que pagar mais.' Skaf continua: 'A CPMF foi criada para financiar a saúde e o governo tirou o dinheiro da saúde. O senhor não se sente enganado?' E Jatene: 'Eu, não! Por que vocês não combatem a Cofins (contribuição para financiamento da seguridade social), que tem alíquota de 9% e arrecada R$ 100 bilhões? A CPMF tem alíquota de 0,38% e arrecada só R$ 30 bilhões.' Skaf diz: 'A Cofins não está em pauta. O que está em discussão é a CPMF.' 'É que a CPMF não dá para sonegar!,' diz Jatene."
Pois é, o doutor Jatene sabe das coisas. Com a CPMF não dá para sonegar. E isso é muito, muito ruim para os nossos empresários.
By: Crônicas do Motta

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