domingo, 26 de novembro de 2017

HÁ UM CHEIRO DE 1989 NO AR. TEMOS DE EVITAR QUE BOLSONARO REPITA COLLOR!


Presidente saído de um caldeirão? Não colou...
As escaramuças da eleição presidencial de 2018 já estão em curso. A disputa é pela posição de candidato da centro-direita, o provável vencedor.

Sei que esta afirmação chocará os sebastianistas das redes sociais, que sonham com a volta de Lula. Paciência. Não escrevo artigos para torcer por um ou outro candidato, mas sim para mostrar aos meus leitores o que está por trás daquilo que a grande imprensa induz seus públicos a tomarem como verdadeiro.

P. ex., quando vejo pesquisas de opinião que apontam favoritismo do Lula, logo me pergunto por que estão sendo feitas e divulgadas agora. Pois, pela experiência de outros carnavais, sei que as pesquisas são trombeteadas quando convém e ocultadas quando convém. Neste momento, interessa aos donos do PIB e da mídia erguerem o espantalho do Lula. Por quê?

Talvez para que se defina logo quem será o anti-Lula, pois essa gente não gosta de correr riscos. De preferência, prefere saber logo em qual cavalo apostará.

Evidentemente, a sensação de alarmismo que se tenta insuflar tem mais a ver com manobras em curso do que com verdadeira apreensão com relação a uma possível vitória de Lula, até porque os poderosos sabem que dele só têm a esperar que acenda uma vela para os exploradores e outra para os explorados, como sempre fez. Quem ainda hoje associa sua imagem à dos Sarneys e Renans da vida não leva jeito de se haver tornado um perigoso radical...   
Esperança do Bolsonaro é impor-se como o anti-Lula

Ademais, muita água passará por baixo da ponte até outubro e o balão Lula poderá ser esvaziado de várias maneiras. Eis algumas:
  1. a melhora da situação econômica (prevê-se crescimento do PIB no próximo ano, algo em torno de 4%) é sempre favorável aos candidatos do sistema, pois o povo passa a temer que os candidatos contrários ou aparentemente contrários ao sistema tragam de volta a recessão);
  2. na reta final do 1º turno a mídia pode mudar a tendência do eleitorado com um esforço concentrado contra Lula, reavivando a lembrança de todas as maracutaias denunciadas nos últimos anos;
  3. e, claro, ele pode ser tirado da disputa pela via judicial.
A terceira possibilidade já poderia ter ocorrido. Por que a protelação? Talvez estejam esperando para ver se precisarão mesmo recorrer a algo tão drástico. Pegaria mal e provocaria reações, embora não apocalípticas como os petistas supõem. De qualquer forma, creio tratar-se de um cartucho que eles não queiram queimar sem extrema necessidade. 

O quadro atual me lembra muito a campanha sucessória de 1989. Assim como está sendo feito agora, havia ações concertadas da grande imprensa (entrevistas simultâneas nas várias mídias, pesquisas favoráveis, matérias de capa nas revistas semanais, etc.) para levantarem candidaturas mais apetecíveis para o sistema: tentaram com Aureliano Chaves, com Mário Covas, com Guilherme Afif Domingos, mas nenhum deles colou, assim como acaba de não colar a levantada de bola para o Luciano Huck.
O pesadelo que mais nos aflige: uma repetição da História.

Fernando Collor não era o candidato preferido pelo sistema, pelos mesmos motivos que Jair Bolsonaro não o é: grandes empresários são conservadores e temem radicalismos, mesmo os de direita, porque causam instabilidade no mercado e atrapalham sua faina principal, a de ganharem mais e mais dinheiro.

No entanto, quando todo o mais não resultou, o sistema engoliu o Collor e passou a trabalhar com força total em seu favor. 

[Mesmo assim, ainda foi tentada uma jogada alternativa de última hora com Sílvio Santos, mas sua candidatura foi impugnada pela Justiça Eleitoral porque o PMB não fizera convenções eleitorais em pelo menos nove estados.] 

E os poderosos tiveram de engolir o Collor; de tão indigesto, acabaram  sendo depois obrigados a cuspi-lo...

Temo muito uma repetição da História, ou seja, que a desmoralização do sistema e dos candidatos que a ele servem habitualmente dê ensejo à eleição de um outsider: um pretenso salvador da Pátria, que também não passa de uma criatura do sistema, mas não é visto pelo povo como tal.
Tudo de que não precisamos: um discípulo dele na Presidência.

E Bolsonaro, o herdeiro espiritual do Brilhante Ustra, é muito pior do que Collor! 

Ademais, sabe-se lá como reagiria o Trump se o Brasil elegesse um sub-Trump (fico me lembrando de quando os EUA eram amigos desde criancinhas da ditadura brasileira, "para onde se inclinar o Brasil se inclinará toda a América Latina", etc.).

E o que deveria fazer a esquerda, para afastar tal pesadelo? A receita eu dou, mas sem a mínima esperança de que os atores políticos decidam com realismo e desprendimento desta vez (já deixaram de fazê-lo tantas e tantas vezes!):
  • desistirem da candidatura do Lula, não só porque o sistema tem como neutralizá-la, mas também porque o cenário mudou radicalmente desde a década passada e já não existe lugar para a conciliação de classes e o reformismo (um terceiro mandato do Lula seria tão desastroso quanto o segundo da Dilma);
  • lançarem uma candidatura única da esquerda (de preferência escolhendo uma nova liderança, um nome não identificado com os erros do passado, como o Guilherme Boulos), que não mais se propusesse a gerenciar o capitalismo para os capitalistas, mas sim a lutar contra o capitalismo, a única postura cabível neste momento em que a crise capitalista se agrava no mundo inteiro; e
  • havendo 2º turno, apoiarem o adversário do Bolsonaro, seja quem for (pior é impossível!).

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