terça-feira, 3 de novembro de 2015

A greve dos bancários e a função do PT na luta de classes


Rosa Luxemburgo, uma das maiores teóricas e militantes que o movimento comunista já teve, nos esclareceu, em sua polêmica com a ala direitista da social-democracia, que o projeto reformista, de conciliação de classe, traz, como elemento indispensável, um rebaixamento teórico (abandono da teoria revolucionária) e de nível de consciência dos trabalhadores/as e movimentos sociais. Não à toa os principais nomes do revisionismo abandonaram a dialética (e substituíram por Kant ou o positivismo), passaram a adotar teorias econômicas não marxistas (keynesianismo, economia neoclássica etc.) e uma teoria política institucionalista e um foco de análise não-classista. Todo projeto reformista, em qualquer época histórica e formação social, com conteúdos diferentes, é claro, toma a mesma posição: a direção reformista precisa expurgar a teoria revolucionária para controlar a "base".
Com o PT não Brasil a coisa não foi diferente. No geral, a maioria das organizações e militantes de esquerda, na atualidade, têm dificuldades de operacionalizar análises marxistas. Conceitos como progressista, conservador, direita, esquerda, mídia golpista, extrema direita, classe média, etc. acabaram criando uma extrema confusão na esquerda brasileira (a "crise do marxismo" com a derrubada da URSS e o neoliberalismo ajudaram nessa tarefa da direção do PT). A pergunta fundamental na crítica marxista de qualquer projeto político, isto é, qual a função que cumpre o projeto político analisado na luta de classes, é raramente formulada e dificilmente respondida pela maioria da esquerda (prova disso é a simpatia que Ciro Gomes tem em setores da esquerda que se declaram socialista). A greve dos bancários esse ano explícita isso. 

O projeto político do PT prometia atacar o "capital financeiro", especulativo, e fortalecer o "capital produtivo" que geraria emprego, desenvolvimento e distribuição de renda. Na prática o PT fortaleceu como nunca os bancos e grupos financeiros, aumentou seu grau de controle na economia, ampliou a participação do capital privado nos bancos públicos, fortaleceu a lógica privada nos bancos públicos (terceirização, funcionamento por metas coercitivas, fracionamentos das funções para reduzir salários, etc.) e garantiu lucros astronômicos a esse setor da burguesia. Isso significa que o ciclo do PT enfraqueceu o  trabalho (os bancários) e fortaleceu o capital (os banqueiros).  

Ao mesmo tempo, a CUT, o braço sindical do PT, procura paralisar e rebaixar o nível das lutas. Transforma os sindicatos em prestadores de serviços, para de realizar a formação política e na ação reivindicativa privilegia o consenso com os patrões frente ao enfrentamento (o que só prejudica os trabalhadores/as). A atual greve dos bancários, em vários estados, foi encerrada com golpes da CUT contra a vontade dos bancários. Ou seja, o PT coloca representantes dos bancos nos principais aparelhos estatais dirigentes da economia (Banco Central, Ministério da Fazenda e do Planejamento), realizar uma política de fortalecimento dos bancos e ainda enfraquece a resistência dos trabalhadores/as. 

O Partido e a CUT realizam tudo isso e depois falam de luta progressista contra os "conservadores", reacionários e coxinhas; diz que a classe média é o pior mal da humanidade, fala da "imprensa golpista", cita dados econômicos [economicistas] sobre os milhões que saíram da pobreza, número de universidades construídas, aumento do consumo, etc. Mostra os ataques promovidos pelo capital, com a indispensável ajuda do PT, como prova do "avanço conservador" e clama para que as "bases" defendam o projeto do PT porque se ele cair tudo será muito pior (quando quem cria as condições para a regressão atual é o próprio PT). É o golpe quase perfeito. Juntam-se toda mídia governistas, o aparato ideológico do Estado, o PT e suas várias entendidas de influência (CUT, ANPG, UNE, etc.) e criam uma ideologia onde somos atacados, não percebemos bem quem nos ataca e ainda defendemos quem é parte fundamental do ataque. Nada disso seria possível sem um grande rebaixamento teórico e de nível de consciência. 

Temos milhões de desafios nos próximos anos. A recuperação da crítica marxista é um deles. Temos que voltar a conseguir fazer a pergunta certa – qual a função e o papel desse projeto político na luta de classes?  - e conseguir fornecer a resposta adequada.
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