quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O ANTIPETISMO E O NAZI-FASCISMO



I0pt_suasticamaginem um cidadão ordinário alemão do final dos anos 30 ou um cidadão ordinário brasileiro de classe média dos anos 2000. Sua situação é, falando de um modo abstrato, bastante parecida, a mesma de uma criança pequena: está totalmente perplexo. As autoridades sociais, autoridades simbólicas (ou seja, a mídia, os jornais, a televisão, a Rede Globo, e seus “especialistas”), estão dizendo: você é um brasileiro, um trabalhador, dá duro o dia inteiro, mas nada está funcionando.
O que a sociedade quer de ti? Por que está tudo dando errado? O modo como este cidadão percebe a situação é que os políticos mentem para ele, grande parte de seu salário vai para os impostos, a economia está uma porcaria, os serviços públicos não funcionam, há muita violência, drogas, a sociedade está se degradando moralmente; enfim, a corrupção assola o país, etc.
Qual é o significado de tudo isso? Como foi freqüentemente mostrado, o nazi-fascismo e a direita política no Brasil compartilham algo bem elementar, ou seja, sonham em fazer uma revolução conservadora. Por revolução, entendam o fomento ao desenvolvimento econômico, o ideário da indústria moderna. Entretanto, está é uma revolução que, ao final das contas, busca manter ou reassegurar a hierarquia tradicional da sociedade. Seu ideal é de uma sociedade moderna, eficiente, mas que ao mesmo tempo é controlada pelos valores hierárquicos, dispensando conflitos de classe e outros antagonismos.
Mas os nazi-fascistas e a direita possuem um problema: antagonismos, lutas de classes e outros perigos, são inerentes ao capitalismo. Modernização, industrialização, como sabemos da história do capitalismo, significam desintegração das antigas relações estáveis, significam conflitos sociais. Instabilidade é o modo como o capitalismo funciona.
Então, como resolver este problema? É fácil: Você precisa criar uma narrativa ideológica que explique porque as coisas deram errado na sociedade, não como resultado das tensões inerentes ao desenvolvimento desta sociedade, mas como resultado de um intruso, alguém que veio de fora e trouxe os problemas sociais. Então, tudo ia bem até que os judeus penetraram no nosso corpo social. Tudo ia bem até os nordestinos votarem. Tudo ia bem até os petistas chegarem ao poder.
A maneira de restaurar o corpo social é eliminando os judeus, eliminando os nordestinos, eliminando os petistas. É o mesmo mecanismo que ocorre no filme Tubarão (Jaws, 1975): você tem uma multiplicidade de medos que lhe confundem, como se você simplesmente não soubesse o que quer dizer essa confusão toda. E você substitui essa enorme bagunça por uma figura clara: o judeu, o petista, o nordestino.
E então tudo fica claro. Você achou o culpado! Reduz-se a complexidade que poucos conseguem entender – os estamentos burocráticos, a corrupção crônica, a cultura do jeitinho brasileiro, as profundas desigualdades sociais, o sistema político que precisa ser reformado, a estrutura desigual da carga tributária, entre outros – a um único inimigo, fonte de todo o mal.
As semelhanças no âmbito simbólico são imensas: representa-se os estereótipos de todos os grupos acima citados como ratos, vermes, fazem caricaturas onde seus narizes e cabeças são grandes, corpos desengonçados, dinheiro nas cuecas, dizendo que vivem uma vida de luxo e riqueza, que seus filhos são donos de meio mundo e enriqueceram nas costas do povo.
É óbvio que estamos vivendo no Brasil um momento histórico diferente do nazi-fascismo europeu. As diferenças práticas são gritantes: o Brasil está dividido ideologicamente, não vivemos uma sociedade militarizada, nem uma crise econômica, pelo menos não como pintado pela mídia. A direita não possui um líder, um führer, que tenha carisma suficiente para levar o país a tal regime totalitário.
Claro que aqui no Brasil não se que mandar os petistas para os campos de concentração, mas para as prisões. Claro que o sonho da direita brasileira não é matar os judeus, mas é um sonho separatista com relação ao Nordeste. Mas o antipetismo assume a forma da ideologia de um nazi-fascismo, com sua simplificação do mundo e a sua cooptação do cidadão-de-bem, do trabalhador. O modo como ele opera ideologicamente possui os mesmos mecanismos, a mesma lógica.
*Texto baseado na análise do nazi-fascismo de Slavoj Zizek e no filme O Guia Pervertido do Cinema (The Pervert’s Guide to Cinema, 2006).
Sugado do: http://www.sociedadepolitica.com.br/o-antipetismo-e-o-nazi-fascismo/

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