domingo, 7 de setembro de 2014

O voto e a galinha dos ovos de ouro


Fernando Brito, Tijolaço  

"Dizem que é do grego Esopo, mas todos conhecem a fábula da galinha dos ovos de ouro, a quem todos atribuem o sentido da ambição  e, modestamente, enxergo como crítica à tolice, infantil e impaciente.

Porque, afinal, a galinha poria todos os seus dourados ovos ao camponês que era seu dono e, camponês que era, sabia que galinha vai pondo um ovo por dia – tem dias que “faia”, é verdade – e que ela era a sua garantia de prosperidade.

Mas porque, em plena efervescência eleitoral, nos vem este sujeito aqui falar de galinhas, quando o Brasil está ameaçado de voltar às mãos de um esquema de poder onde já não se disfarça a tutela da direita financista?

É que, da velha escola das metáforas de Brizola, vejo que, se revertido o crescimento de Marina Silva na classe média baixa – que só no Brasil mesmo pode ser considerada classe média, porque se trata apenas de um contingente retirado parcialmente da pobreza – a candidata do PSB reduz-se ao que é: um patético pseudomoralismo udenista  e um  fait divers de uma elite que enriqueceu materialmente e empobreceu-se intelectualmente até chegar às vias da indigência cultural, que enxerga o progresso como um gadget, o lançamento do Iphone 6,7,8…

Como eu não sou um intelectual, um sociólogo, um cientista político, deixo o aprofundamento desta análise para eles e vou é me socorrer do que o pensamento humano produz espontaneamente, como aquela fábula, e o encontro nos versos de uma antiga composição, chamada “Mundo Melhor”, do eterno parceiro de Vinícius de Morais, o Toquinho:

Você que está me escutando
É mesmo com você que estou falando agora
Você que pensa que é bem, não pensar em ninguém
E que o amor tem hora
Preste atenção meu ouvinte
O negócio é o seguinte
A coisa não demora
E se você se retrai
Você vai entrar bem, ora se vai 

Que maravilha tomar conselhos com os poetas, coisa que os sabidos acham tão ridículo!

Mas eu explico ao paciente leitor que aguenta, até aqui, minha falta de senso.

É que, entre os que considero os piores defeitos do governo Lula – que seguem, tanto quanto suas virtudes, com o de Dilma – está o de ter deixado que o progresso social de dezenas de milhões de brasileiro não fosse percebido como um fenômeno social, mas apenas pessoal.

“Minha ascensão é minha, deve-se aos meus méritos e esforços.”
E, como é, em parte, uma verdade, isto acaba, por falta de idéias e discursos que lhe ponham limites, ocupando todo o terreno do que se supõe ser verdadeiro.

Salvo em poucos momentos eleitorais, Lula não deu qualidade coletiva a este progresso, ajudando a formar uma consciência política na população. Do PT, então, nem se fala, mais preocupado em  acomodar interesses eleitorais e a se tornar palatável – eles acreditam que o leão pode se tornar herbívoro – à elite,  da qual, aliás, orbita boa parte de seus quadros.

A obra de seus governos, entretanto, foi aquém do que poderia ir, mas muito, muito além do que este país estava acostumado a viver, sob o tacão – militar, depois civil – do capital.

Ela é real e é ao mundo real que devemos nos fixar, quando se trata de mostrar a verdade, como é necessário nos momentos em que um povo escolhe seus rumos.

E, com o devido perdão pelas lucubrações,  é hora de um choque de realidade, porque ela – e nada mais – é o recipiente onde se acha a verdade.

Lula, o personagem símbolo do processo que vivemos nos últimos 12 anos, precisa usar a autoridade de que dispõe para perguntar diretamente à “classe média” (vá lá que seja) ascendente:

- Você vive melhor hoje que há dez anos?
- É mais fácil conseguir um emprego hoje que há dez anos?
- E comprar um automóvel?
- E  pensar em financiar a casa própria?
- E manter os filhos na escola?
- E fazê-los chegar à universidade?

Mostrar obras realizadas, projetos, planos, muito bem.

Necessário e imprescindível numa campanha eleitoral.

Como o é travar, corajosamente, a polêmica sobre os fatos e seu sentido na mídia, mais ainda com este momento em que ela vacila entre abrir ou não um “caso Lunus” na esperança de recolocar Aécio no páreo, o que parece impossível, embora seja desejado.

Mas é neste conjunto de confrontações diretas, objetivas, que se contêm  os fundamentos da decisão que um contingente imenso de beneficiários dos governos Lula-Dilma irá tomar, e só irá tomar por si -e não pelo que lhe dizem – se o fizermos olhar para si mesmo e sua vida, uma visão que mesmo o maior massacre de mídia não pode impedir que tenha.

A comunicação de campanha de Dilma – e de Lula, inseparável – precisa mirar nestes brasileiros.

Na empregada doméstica, que tem agora carteira profissional ou, se lhe recusaram assinar, está ganhando mais como diarista ou em outro empregos, que já não faltam.

No pedreiro, que batia de obra em obra atrás de trabalho, que não havia.
Na mocinha, que engravidou, parou de estudar, mas tem uma chance de sobreviver nas vagas que não terminam nos mercados e lojas.

A eles não se chega com estatística. Nem a grande maioria deles está em programas sociais, como o Bolsa-Família, o Pronatec , o “Minha Casa” e outros.

São muitos, milhões e milhões de outros mais.

Não há, para eles, Governo presente em suas realidades.

Embora a sua realidade esteja plena de um tempo de progresso social, que ele só enxerga como seu.

Pensam, sim, que são bem, sem pensar em ninguém.

E que precisam ouvir, como disse Toquinho, que “o negócio é o seguinte/A coisa não demora/E se você se retrai/Você vai entrar bem, ora se vai “

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