quinta-feira, 9 de maio de 2013

Brasil carinhoso sim! Quanto rancor e preconceito D. Martha!



   
Confesso que tentei me calar ao ler a “Carta da D. Martha destinada à presidente Dilma”. Carta carregada de rancor, preconceitos e soluções mágicas para o problema da pobreza nesse país. Mas, ao ver essa carta sendo compartilhada nas redes sociais por pessoas até bem intencionadas, não consegui me calar.

Para entendermos um texto é importante saber quem é o interlocutor e a quem se destina o mesmo, portanto antes de iniciar a resposta à carta propriamente dita, vamos a alguns esclarecimentos: D. Martha é agropecuarista, proprietária da Fazenda Água Limpa, próxima a Uberlândia, que produz milho, soja, melancia e sorgo  (um cereal de origem africana que serve para alimentação animal e para a produção de farinha, amido e álcool). Produto que além de importado para todo Brasil também é exportado para vários países, principalmente, à Argentina. (dados extraídos do site:http://uipi.com.br/noticias/policia/2010/06/15/diversidade-de-fauna-e-flora-na-fazenda-agua-limpa-mg/.) . Também é professora aposentada de MG.

Sua carta está sendo amplamente divulgada no “Blog do Antero”.  Para quem não sabe o Blog pertence ao Sr. Antero Paes de Barros, é jornalista e político, atua no PSDB,  já foi vereador de Cuiabá,  Secretário-chefe da casa civil de Mato Grosso, Secretário  de Comunicação Social do Mato Grosso, deputado federal e senador da República (1999/2006).  

Eu, Mirtes Lessio Castro, 44 anos, professora de História, Pedagoga, especialista em Gestão Educacional, atuo como coordenadora pedagógica numa escola de Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública do Estado de São Paulo.
Bom, vou começar colocando a carta da D. Martha e fazendo algumas colocações pessoais que acho pertinentes à reflexão.
“Bom dia, dona Dilma!
Eu também assisti ao seu pronunciamento risonho e maternal na véspera do Dia das Mães. Como cidadã da classe média, mãe, avó e bisavó, pagadora de impostos escorchantes descontados na fonte no meu contracheque de professora aposentada da rede pública mineira e em cada Nota Fiscal Avulsa de Produtora Rural, fiquei preocupada com o anúncio do BRASIL CARINHOSO.
Brincando de mamãe Noel, dona Dilma? Em ano de eleição municipalista? Faça-me o favor, senhora presidentA! É preciso que o Brasil crie um mecanismo bastante severo de controle dos impulsos eleitoreiros dos seus executivos (presidente da república, governador e prefeito) para que as matracas de fazer voto sejam banidas da História do Brasil. 
Setenta reais per capita para as famílias miseráveis que têm filhos entre 0 a 06 anos foi um gesto bastante generoso que vai estimular o convívio familiar destas pessoas, porque elas irão, com certeza, reunir sob o mesmo teto o maior número de dependentes para engordar sua renda. Por outro lado mulheres e homens miseráveis irão correndo para a cama produzir filhos de cinco em cinco anos. Este é, sem dúvida, um plano quinquenal engenhoso de estímulo à vagabundagem, claramente expresso nas diversas bolsas-esmola do governo do PT.”

D. Martha, é importante lembrar que todos brasileiros pagam impostos, inclusive os pobres. Aqueles que não os tem retido na fonte por não terem empregos formais, pagam ao comprar um pãozinho, um arroz, ou seja lá o que for, até os cidadãos que recebem a bolsa família pagam impostos. Vale lembrar que ao diminuir o imposto pago pelos produtores e empresários dos produtos que compõem a cesta básica esperava-se que preço ao consumidor diminuísse o que não ocorreu. Todos reclamamos de pagar tantos impostos no Brasil, empresários sempre responsabilizam os impostos pelos preços exorbitantes que pagamos nos nossos produtos, quando há qualquer aumento de imposto, no dia seguinte as mercadorias já estão todas remarcadas, mas o mesmo não ocorreu ao vermos os impostos sendo reduzidos. Por que D. Martha? Por que não cobramos que empresários e produtores diminuam suas taxas de lucros para que possamos ter um país mais justo? É mais fácil responsabilizar o governo por todas as mazelas, não é mesmo?
Agora imaginar que setenta reais per capita farão com que os miseráveis corram para produzir mais filhos é um tanto quanto exagerado, não é? Sugiro até que a senhora leia um artigo publicado no site “O Globo” (http://oglobo.globo.com/pais/bolsa-familia-mais-de-16-milhao-de-casas-abriram-mao-do-beneficio-8312947) que destaca o fato de 1 milhão e 690 mil famílias terem aberto mão de receber a bolsa família. Sabemos que há falhas no sistema, mas achar que todos os beneficiados por bolsas tornam-se vagabundos crônicos é de uma falta de conhecimento da realidade da grande maioria do povo brasileiro que é trabalhadora e que quer ter condições mínimas de viver com dignidade sem precisar de esmolas de ninguém. D. Martha, temos que tomar cuidado com generalizações,  vagabundos existem em todas as classes sociais, há pobres vagabundos assim como há ricos vagabundos, ou a senhora não conhece nenhum jovem rico, ganhador da “bolsa herança” que nada faz para  manter o patrimônio da família ou para o bem da sociedade? Muitos não é mesmo? Pois é, vagabundagem não está relacionada à riqueza ou pobreza e sim a caráter. E de uma coisa eu tenho certeza, a maioria da população pobre e miserável desse país tem caráter.

 “É muito fácil dar bom dia com chapéu alheio. É muito fácil fazer gracinha, jogar para a plateia. É fácil e é um sintoma evidente de que se trabalha (que se governa, no seu caso) irresponsavelmente. Não falo pelos outros, dona Dilma. Falo por mim. Não votei na senhora. Sou bastante madura, bastante politizada, sobrevivente da ditadura militar e radicalmente nacionalista. Eu jamais votei nem votarei num petista, simplesmente porque a cartilha doutrinária do PT é raivosa e burra. E o governo é paternalista, provedor, pragmático no mau sentido, e delirante. Vocês são adeptos do quanto pior, melhor. São discricionários, praticantes do bullying mais indecente da História do Brasil. Em 1988 a Assembleia Nacional Constituinte, numa queda-de-braço espetacular, legou ao Brasil uma Carta Magna bastante democrática e moderna. No seu Art. 5º está escrito que todos são iguais perante a lei*. Aí, quando o PT foi ao paraíso, ele completou esta disposição, enfiando goela abaixo das camadas sociais pagadoras de imposto seu modus governandi a partir do qual todos são iguais perante a lei, menos os que são diferentes: os beneficiários das cotas e das bolsas-esmola. A partir de vocês. Sr. Luís Inácio e dona Dilma, negro é negro, pobre é pobre e miserável é miserável. E a Constituição que vá para a pqp.”

É D. Martha, lendo seu texto, dá para perceber que a senhora não votou na Dilma, nem no Lula, nem em qualquer político ligado ao PT, ideologias políticas de cada cidadão tem muito a ver com a realidade de vida de cada um. E isso deve ser respeitado, afinal esse é um dos benefícios da democracia, a existência e respeito à diversidade de idéias e posições políticas.  Só não entendo esse discurso raivoso, sim raivoso é seu discurso e não a política implantada pelo PT . Aconselho a senhora a abrir os olhos para enxergar além dos seus acres de terra . Leia este artigo “Brasil atinge menor nível de desigualdade social desde 1960” -http://economia.estadao.com.br/noticias/economia,brasil-atinge-menor-nivel-de-desigualdade-social-desde-1960,105210,0.htm.  Que mostra resultados da pesquisa realizada pela FGV , nas quais constatou-se a melhora das condições de vida de grande parte da população brasileira  e ressalta também  que apesar disso ainda estamos entre os 12 piores países no que se trata de desigualdade social, portanto D. Martha, ainda há muito o que ser feito. Outro dado importante dessa pesquisa é que  “na última década a renda dos 50% mais pobres do Brasil cresceu 68%, enquanto a dos 10% mais ricos cresceu apenas 10%. ” Deu para entender a lógica desses dados, não é D.Martha? Lhe pergunto, será que é por isso que há uma elite tão raivosa contra esse governo?
Sim, D.Martha, a Constituição de 1988 tem como um de seus princípios a igualdade de todos perante a lei, mas não foi o Lula ou a Dilma que rasgaram a Constituição e sim a realidade aviltante em que vivem milhões de brasileiros. Em que país a senhora vive? A Senhora realmente acredita que todos são iguais de fato perante a lei? Faça uma visitinha aos presídios, aos prostíbulos, às favelas, aos hospitais do SUS, abra os olhos e veja que “uns são mais iguais que outros” perante a lei, principalmente aqueles que detem o poder econômico. E mais uma vez, D.Martha a senhora fala dos beneficiários das cotas e bolsas como seres desprezíveis que estariam “mamando nas tetas” do governo com dinheiro pago pelas camadas pagadoras de impostos , não sei se é para rir ou chorar, afinal como já expus acima todos pagamos impostos, até mesmo os beneficiários das bolsas. 
“Vocês selecionaram estes brasileiros e brasileiras, colocaram-nos no tronco, como eu faço com o meu gado, e os marcaram com ferro quente, para não deixar dúvida d e que são mal-nascidos. Não fizeram propriamente uma exclusão, mas fizeram, com certeza, publicamente, uma apartação étnica e social. E o PROUNI se transformou num balcão de empréstimo pró escolas superiores particulares de qualidade bem duvidosa, convalidadas pelo Ministério de Educação. Faculdades capengas, que estavam na UTI financeira e deveriam ter sido fechadas a bem da moralidade, da ética e da saúde intelectual, empresarial, cultural e política do País. A Câmara Federal endoidou?
O Senado endoidou? O STJ endoidou? O ex-presidente e a atual presidentA endoidaram? Na década de 60 e 70 a gente lutou por uma escola de qualidade, laica, gratuita e democrática. A senhora disse que estava lá, nesta trincheira, se esqueceu disto, dona Dilma? Oi, por favor, alguém pare o trem que eu quero descer!
Uma escola pública decente, realista, sintonizada com um País empreendedor, com uma grade curricular objetiva, com professores bem remunerados, bem preparados, orgulhosos da carreira, felizes, é disto que o Brasil precisa. Para ontem. De ensino técnico, profissionalizante.
Para ontem. Nossa grade curricular é tão superficial e supérflua, que o aluno chega ao final do ensino médio incapaz de conjugar um verbo, incapaz de localizar a oração principal de um período composto por coordenação. Não sabe tabuada. Não sabe regra de três. Não sabe calcular juros. Não sabe o nome dos Estados nem de suas capitais. Em casa não sabe consertar o ferro de passar roupa. Não é capaz de
fritar um ovo. O estudante e a estudantA brasileiros só servem para prestar vestibular, para mais nada. E tomar bomba, o que é mais triste. Nossos meninos e jovens leem (quando leem), mas não compreendem o que leram. Estamos na rabeira do mundo, dona Dilma. Acorde! Digo isto com conhecimento de causa porque domino o assunto. Fui a vida toda professora regente da escola pública mineira, por opção política
e ideológica, apesar da humilhação a que Minas submete seus professores. A educação de Minas é uma vergonha, a senhora é mineira (é?), sabe disto tanto quanto eu. Meu contracheque confirma o que estou informando.”


 D.Martha, não há necessidade de ferro quente a marcar os mal-nascidos nesse país. A labuta do dia a dia dessas pessoas já deixa marcas profundas no corpo e na alma dos mesmos. Sobre a proliferação de cursos superiores de qualidade duvidosa, me lembro muito bem que se iniciou na gestão do Ministro da Educação Paulo Renato de Souza, no governo FHC, com um projeto de ampliar a oferta do Ensino Superior, e concordo que ainda é um problema afinal a cada dia vemos uma “faculdade” de qualidade duvidosa  abrindo as portas. Mas, tenho que ressaltar que em 8 anos de governo Lula foram abertas 14 Universidades Federais no Brasil (nos 8 anos de FHC esse número é zero). E em relação ao Prouni, vale destacar que essas “faculdadezinhas” que abrem em cada esquina não oferecem bolsas do Prouni, a Universidade para ter direito de oferecer essa bolsa deve contemplar uma série de requisitos impostos pelo MEC, entre eles o número de professores mestres e doutores, nota mínima no ENAD etc. Além disso, posso falar com conhecimento de causa, pois trabalho em escola pública em que 80% dos concluintes de Ensino Médio vão para Universidade graças ao PROUNI, se não fosse essa bolsa  milhares de jovens encerrariam seus estudos no Ensino Médio.
Uma escola pública decente é o que todos nós queremos. Que um dia não haja necessidade de cotas e bolsas é que todos nós queremos. Mas o que fazer com essas gerações de jovens e crianças que enfrentam a realidade de um sistema educacional que continua excludente?  Deixá-los à própria sorte e responsabilizá-los pelo possível fracasso profissional?
Defendes o Ensino Técnico e profissionalizante para todos, não é? Para pobres e ricos? Ou Ensino técnico e profissionalizante para os pobres e meios acadêmicos/universitários para os filhos das classes mais abastadas? Só para refletir!
Sobre a questão da valorização do magistério e humilhação que nós professores enfrentamos no nosso dia a dia compartilho de vossa indignação, mas nossa luta tem que ser voltada para os gestores da educação nos estados, essa é uma prerrogativa de uma república federativa, os estados da federação  gerem, segundo suas próprias normas (sem ferir a LDB 9394/96)  a educação, criam suas normas e planos de carreiras e pelo que bem sei, tanto Minas quanto São Paulo são governados pelo PSDB há bastante tempo.

Seu presente para as mães miseráveis seria muito mais aplaudido se anunciasse apenas duas decisões: um programa nacional de planejamento familiar a partir do seu exemplo, como mãe de uma única filha, e uma escola de um turno só, de doze horas. Não sabe como fazer isto? Eu ajudo. Releia Josué de Castro, A GEOGRAFIA DA FOME. Releia Anísio Teixeira. Releia tudo de Darcy Ribeiro. Revisite os governos gaúcho e
fluminense de seu meio-conterrâneo e companheiro de PDT, Leonel Brizola. Convide o senador Cristovam Buarque para um café-amigo, mesmo que a Casa Civil torça o nariz. Ele tem o mapa da mina. A senhora se lembra dos CIEPs? É disto que o Brasil precisa. De escola em tempo integral, igual para as crianças e adolescentes de todas as camadas, miseráveis ou milionárias. Escola com quatro refeições
diárias, escova de dente e banho. E aulas objetivas, evidentemente. Com biblioteca, auditório e natação. Com um jardim bem cuidado, sombreado, prazeroso. Com uma baita horta, para aprendizado dos alunos e abastecimento da cantina. Escola adequada para os de zero a seis, para estudantes de ensino fundamental e para os de ensino médio, em instalações individuais para um máximo de quinhentos alunos por prédio. Escola no bairro, virando a esquina de casa. De zero a dezessete anos. Dê um pulinho na Finlândia,
dona Dilma. No aero lula dá pra chegar num piscar de olhos. Vá até lá ver como se gerencia a educação pública com responsabilidade e resultado. Enquanto os finlandeses amam a escola, os brasileiros a depredam. Lá eles permanecem. Aqui a evasão é exorbitante.
Educação custa caro? Depende do ponto de vista de quem analisa. Só que educação não é despesa. É investimento. E tem que ser feita por qualquer gestor minimamente sério e minimamente inteligente. Povo educado ganha mais, consome mais, come mais corretamente, adoece menos e recolhe mais imposto para as burras dos governos. Vale à pena investir mais em educação do que em caridade, pelo
menos assim penso eu, materialista convicta.´


Sim, D. Martha. Uma política de planejamento familiar é uma boa, as políticas públicas de vários municípios que fazem atendimento em domicílios juntamente com os postos de saúde devem ter essa preocupação de orientação e ajuda às famílias no que se trata de planejamento familiar. Mais uma vez devemos cobrar daqueles que devem ser cobrados, a senhora já participou de alguma reunião dos Conselhos Municipais de Saúde do seu Município? Aqui em Ubatuba (SP) na atual gestão,  que é do PT, conselhos são formados e a população é chamada para debater e opinar e também cobrar, por que não, políticas públicas de seu interesse.
Sim, mais uma vez voltamos no que trata a questão da educação que nos é tão carente. O projeto dos CIEP’s do Sr. Leonel Brizola foi duramente criticado como proposta populista pelos opositores do mesmo, que aliás são os mesmos que hoje gostam de “bater” em Lula. Os CEU’s implantados em São Paulo na gestão Marta Suplicy tinham esse mesmo formato, esse mesmo projeto que a senhora tão bem defende no seu texto. Mas, também sofreu forte oposição daqueles que perceberam que o sucesso desse projeto significaria a permanência dela no poder. Então, percebemos que infelizmente, nesse nosso Brasil, muitos políticos fazem apenas politicagem, lutam apenas pela manutenção do poder e não pelo interesse da população. Por isso, é tão urgente uma reforma política nesse país, reforma esta que já havia sido prometida por João Goulart antes do Golpe e que ficou engavetada até o governo Lula que ao tentar  retomar essa pauta de discussão  foi rejeitada  pelos nobres congressistas.
Ah! D. Martha, comparar o Brasil com a Finlândia é covardia, não é? A Finlândia tem 5,5 milhões de habitantes, nós temos mais de 200 milhões. A Finlândia possui um dos mais altos índices de IDH (índice de desenvolvimento humano) do mundo, a renda per capita é de 35.400 dólares, nossa média de renda per capita é de 10.300 dólares.  A educação na Finlândia é pública, embora não sejam proibidas as escolas particulares lá não conseguem se sustentar, pois as escolas públicas são de qualidade extrema, inclusive todas as 20 (!!) universidades do país são públicas. Sugestão a todos que pesquisem a política social na Finlândia antes de compará-la ao Brasil . É uma comparação tão desproposital. Fica a sugestão de pesquisa:    http://www.europarl.europa.eu/workingpapers/soci/w9/default_pt.htm.   D. Martha tenho certeza que a presidente Dilma também sabe da importância de se investir em educação, aliás, é dela o projeto para que o dinheiro dos Royalties do petróleo sejam todos investidos em educação, o que nosso congresso também está barrando. Mas, um cidadão sem comida no prato,  não consegue estudar, não consegue trabalhar, não consegue nada. A senhora sabe o que é fome? Eu nunca senti, no máximo tive apetite, mas fome de não ter o que comer, de ir para escola somente para comer merenda como vejo muitos de meus alunos fazerem, isso nunca senti, e acredito que a senhora também não. Gosto daquele ditado popular “é preciso ensinar a pescar e não dar o peixe” com o qual concordo, mas temos que levar em conta que uma pessoa em estado de miséria não tem forças para pescar, primeiro tem que saciar a fome e depois dar as condições para que ela pesque seu peixe sozinha, esse é o cerne das políticas assistencialistas tão criticadas pela senhora.

Senhora PresidentA, mesmo não tendo votado na senhora, torço pelo sucesso do seu governo como mulher e como cidadã. Mas a maior torcida é para que não lhe falte discernimento, saúde nem coragem para empunhar o chicote e bater forte, se for preciso.
A primeira chibatada é o seu veto a este Código Florestal, que ainda está muito ruim, precisado de muito amadurecimento e aprendizado. O planeta terra é muito mais importante do que o lucro do agronegócio e a histeria da reforma agrária fajuta que vocês estão promovendo.
Sou fazendeira e ao mesmo tempo educadora ambiental. Exatamente por isto não perco a sensatez. Deixe o Congresso pensar um pouco mais, afinal, pensar não dói e eles estão em Brasília, bem instalados e bem remunerados, para isto mesmo. E acautele-se durante o processo eleitoral que se aproxima. Pega mal quando um político usa a máquina para beneficiar seu partido e sua base aliada.
Outros usaram? E daí? A senhora não é os outros. A senhora á a senhora, eleita pelo povo brasileiro para ser a presidentA do Brasil, e não a presidentA de um partidinho de aluguel, qualquer. Se conselho fosse bom a gente não dava, vendia. Sei disto, é claro.
Assim mesmo vou aconselhá-la a pedir desculpas às outras mães excluídas do seu presente: as mães da classe média baixa, da classe média média, da classe média alta, e da classe dominante, sabe por quê? Porque somos nós, com marido ou sem marido, que, junto com os homens produtivos, geradores de empregos, pagadores de impostos, sustentamos a carruagem milionária e a corte
perdulária do seu governo tendencioso, refém do PT e da base aliada oportunista e voraz. 
A senhora, confinada no seu palácio, conhece ao vivo os beneficiários da Bolsa-família? Os muitos que eu conheço se recusam a aceitar qualquer trabalho de carteira assinada, por medo de perder o benefício. Estou firmemente convencida de que este novo programa, BRASIL CARINHOSO, além de não solucionar o problema de ninguém, ainda tem o condão de produzir uma casta inoperante, parasita social, sem qualificação profissional, que não levará nosso País a lugar nenhum. E, o que é mais grave, com o excesso de propaganda institucional feita incessantemente pelo governo petista na última década, o Brasil está na mira dos desempregados do mundo inteiro, a maioria qualificada, que entrarão por todas as portas e ocuparão todos os empregos disponíveis, se contentando até mesmo com a informalidade. E aí os brasileiros e brasileira vão ficar chupando prego, entregues ao deus-dará, na ociosidade que os levará à delinquência e às drogas.”

D. Martha, sobre o veto ao código florestal, concordo que deve haver mais esclarecimento e debate sobre o assunto.
Peço licença para  chamar-lhe a atenção D. Martha, mas a senhora fez uma alusão em sua carta que a nossa presidente governa para um “partidinho de aluguel”, esse é discurso amargurado de quem não tem argumentos para defender suas teorias. Não precisa gostar das propostas do PT, pode discordar e debater seus projetos de governo, aliás, é  na diversidade que aprendemos, que crescemos, mas chamar um dos maiores e mais importantes partidos de nossa história de “partidinho de aluguel” mostra todo o preconceito arraigado na senhora em relação ao partido. Preconceito nunca é positivo. Coisa Feia!
Não me senti excluída do presente do dia das mães, confesso que fiquei emocionada com o discurso de nossa presidente, senti que ali havia uma grande estadista e grande mulher que olha com carinho e discernimento necessário para aqueles que mais sofrem nesse país. E confesso que, como assalariada que sou, fiquei esperançosa de ver os preços da cesta básica caírem, isso faria uma grande diferença no meu orçamento familiar, mas como já relatei acima isso não aconteceu e não foi por má vontade do governo, não é?
Ah! D. Martha, mais uma vez o ataque voraz aos programas sociais do governo. Eu particularmente conheço muitos beneficiados do bolsa-família, são pais e mães de meus alunos, e são trabalhadores, pessoas honestas e batalhadoras, mas que ainda precisam da ajuda do bolsa-família para dar uma vida um pouco mais digna a seus filhos. Mas , para ajudá-la a refletir sobre os projetos sociais do governo, com base em dados concretos e não em visões preconceituosas ou maniqueístas sugiro a leitura deste artigo produzido após relatório da ONU que elogia as ações sociais brasileiras e sugerem que elas sejam seguidas por outros países em igual ou pior situação de miséria. Entenda D. Martha, que não são para Finlândia.http://www.valor.com.br/brasil/3045518/acoes-sociais-fazem-relevancia-do-brasil-crescer-no-exterior-diz-onu


“Quem cala, consente. Eu não me calo. Aos setenta e quatro anos, o que eu mais queria era poder envelhecer despreocupada, apesar da pancadaria de 1964. Isto não está sendo possível. Apesar de ter lutado a vida toda para criar meus cinco filhos, de ter educado milhares de alunos na rede pública, o País que eu vou legar aos meus descendentes ainda está na estaca zero, com uma legislação
que deu a todos a obrigação de votar e o direito de votar e ser votado, mas gostou da sacanagem de manter a maioria silenciosa no ostracismo social, alienada e desinteressada de enfrentar o desafio de lutar por um lugar ao sol, de ganhar o pão com o suor do seu rosto. Sem dignidade, mas com um título de eleitor na mão, pronto para depositar um voto na urna, a favor do político paizão/mãezona que lhe dá alguma coisa. Dar o peixe, ao invés de ensinar a pescar, est a foi a escolha de vocês. 
A senhora não pediu minha opinião, mas vai mandar a fatura para eu pagar. Vai. Tomou esta decisão sem me consultar. Num país com taxa de crescimento industrial abaixo de zero, eu, agropecuarista, burro-de-carga brasileiro, me dou o direito de pensar em voz alta e o dever de me colocar publicamente contra este cafuné na cabeça dos miseráveis. Vocês não chegaram ao poder agora. Já faz nove anos, pense bem! Torraram uma grana preta com o FOME ZERO, o bolsa-escola, o bolsa-família, o vale-gás, as ONGs fajutas e outras esmolas que tais. Esta sangria nos cofres públicos não salvou ninguém? Não refrescou niente? Gostaria que a senhora me mandasse o mapeamento do Brasil miserável e uma cópia dos estudos feitos para avaliar o quantitativo de miseráveis apurado pelo Palácio do Planalto antes do anúncio do BRASIL CARINHOSO. Quero fazer uma continha de multiplicar e outra de dividir, só para saber qual a parte que me toca nesta chamada de capital. Democracia é isto, minha cara. Transparência.   Não ofende. Não dói.”

Mais do mesmo, não é D. Martha? Novamente um discurso raivoso, preconceituoso e baseado no achismo e senso comum de uma elite que vive longe dos rincões desse país. Não vou cometer o mesmo erro e usar os mesmos argumentos já apresentados anteriormente. Só quero ressaltar que há uma crise mundial e o Brasil tem conseguido enfrentá-la muito bem, aliás, não foi à toa a escolha de um brasileiro para presidir a OMC, fato inédito na história dessa instituição. As taxas de crescimento do país e da produção industrial apresentam boas perspectivas, veja as projeções feitas a partir dos índices apresentados até o momento no sitehttp://economia.estadao.com.br/noticias/economia-brasil,analistas-mantem-projecao-para-crescimento-em-2013,149035,0.htm.

 Ah, antes que eu me esqueça, a palavra certa é PRESIDENTE. Não sou impertinente nem desrespeitosa, sou apenas professora de latim, francês e português. Por favor, corrija esta informação. Se eu mandar esta correspondência pelo correio, talvez ela pare na Casa Civil ou nas mãos de algum assessor censor e a senhora nunca saberá que desagradou alguém em algum lugar. Então vai pela internet. Com pessoas públicas a gente fala publicamente para que alguém, ciente, discorde ou concorde. O contraditório é muito saudável. Não gostei e desaprovo o BRASIL CARINHOSO. Até o nome me incomoda. R$2,00 (dois reais) por dia para cada familiar de quem tem em casa uma criança de zero a seis anos, é uma esmolinha bem insignificante, bem insultuosa, não é não, dona Dilma? Carinho de presidentA da república do Brasil neste momento, no meu conceito, é uma campanha institucional a favor da vasectomia e da laqueadura em quem já produziu dois filhos. É mais creche institucional e laica. Mais escola pública e laica em tempo integral com quatro refeições diárias. É professor dentro da sala de aula, do laboratório, competente e bem remunerado. É ensino profissionalizante e gente capacitada para o mercado de trabalho.”


D. Martha, a senhora tem toda razão, o correto é PRESIDENTE e não Presidenta, mas peço liberdade poética para a senhora e para outros doutos da Língua Portuguesa para chamar minha presidente de Presidenta, ela merece esse carinho meu.
Campanha Institucional a favor da vasectomia e laqueadura? Em todos os lares ou só nos dos pobres? A senhora teve cinco filhos, não é mesmo? Minha mãe também, aliás,  sou a 4ª filha, se isso já existisse em 1969 eu não estaria te respondendo essa carta, seria uma alívio para muitos não? Tudo bem,  acho que compreendi que a senhora se refere ao projeto de planejamento familiar, não é mesmo? Nisso ambas concordamos, é necessária política pública séria nesse sentido, mas propor vasectomia e laqueadura me remete a soluções fascistas para resolver questões sociais.
Mais creches, mais escolas, todas públicas, laicas e com qualidade é o que todos queremos. Concordo com a senhora!

Eu podia vociferar contra os descalabros do poder público, fazer da corrupção escandalosa o meu assunto para esta catilinária. Mas não. Prefiro me ocupar de algo mais grave, muitíssimo mais grave, que é um desvio de conduta de líderes políticos desonestos chamado populismo, utilizado para destruir a dignidade da massa ignara. Aliciar as classes sociais menos favorecidas é indecente e profundamente desonesto. Eles são ingênuos, pobres de espírito, analfabetos, excluídos? Os miseráveis são. Mas votam, como
qualquer cidadão produtivo, pagador de impostos. Esta é a jogada. Suja. 
A televisão mostra ininterruptamente imagens de desespero social. Neste momento em todos os países, pobres, emergentes ou ricos, a população luta, grita, protesta, mata, morre, reivindicando oportunidade de trabalho. Enquanto isto, aqui no País das Maravilhas, a presidente risonha e ricamente produzida anuncia um programa de estímulo à vagabundagem. Estamos na contramão da História, dona Dilma!
Pode ter certeza de que a senhora conseguiu agredir a inteligência da minoria de brasileiros e brasileiras que mourejam dia após dia para sustentar a máquina extraviada do governo petista.
Último lembrete: a pobreza é uma consequência da esmola. Corta a esmola que a pobreza acaba, como dois mais dois são quatro. Não me leve a mal por este protesto público. Tenho obrigação de protestar, sabe por quê? Porque, de cada delírio seu, quem paga a conta sou eu.”

Esta catilinária deveria sim ser para denunciar a corrupção desse país que é uma das maiores do mundo. Mas não! A senhora prefere responsabilizar os projetos de inclusão social como a verdadeira mazela desse país. Minha senhora, seu discurso todo culpa o pobre pela pobreza, culpa a esmola pela pobreza. Desculpe-me, com todo o respeito pela sua idade e sua trajetória de vida, sinto lhe dizer que, ou a senhora é mal intencionada, o que não quero acreditar, ou falta-lhe visão de mundo e conhecimento histórico. Sua frase “corta a esmola que a pobreza acaba” me fez rir, afinal há 500 anos o Brasil tem pobreza, desde o início de nossa colonização já se formaram os grupos sociais bem nítidos de exploradores e explorados o que só tendeu a crescer no decorrer dos séculos. A pobreza no Brasil não é fruto do Lula ou da Dilma, nem do FHC, é histórica e deve ser combatida com políticas sérias de inclusão social e um primeiro passo, que deverá vir acompanhado de investimentos em educação, saúde, cultura etc., são as políticas assistencialistas, é emergencial. Aliás, proponho uma reflexão em sua frase: se é a esmola que gera a pobreza, alguns países da África, ou o Haiti,  são como são por que recebem esmolas?
Pesquise mais sobre o assunto, fica a dica!
 Hoje li um artigo num blog sobre a questão da desigualdade social na  Holanda e a questão da violência que sugiro que a senhora leia, vale a penahttp://blog.daniduc.net/2009/09/14/da-relacao-direta-entre-ter-de-limpar-seu-banheiro-voce-mesmo-e-poder-abrir-sem-medo-um-mac-book-no-onibus/
D. Martha, não leve a mal minha resposta pública. Sei que sua carta não é endereçada a mim, mas ao partilhá-la na internet ela se torna um documento público, portanto passível de contestação.


Professora Mirtes L. Castro

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