sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O fanatismo religioso de Israel



15/11/2012, Moon of Alabama [excerto]
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


O exército de Israel mudou o nome do mais recente ataque contra Gaza, aparentemente para esconder a motivação teológica.

O ataque começou com o assassinato (“targeted assassination”, assassinato predefinido) de Ahmed al-Jaabari (...). O assassinato, na vigência de um cessar-fogo, sugere fortemente que a guerra de Israel contra Gaza não será rápida.

Ahmed al-Jaabari
Al-Jaabari era homem de contato com Israel, encarregado “da segurança de Israel em Gaza”. Poucoantes de ser assassinado, recebera o rascunho de uma primeira proposta de trégua de longo prazo com Israel. Era, provavelmente, o único homem com boas chances de influenciar outras facções militantes em Gaza e, assim, de assegurar um cessar-fogo efetivo e a paz. Assassinar o negociador que negocia uma trégua é sinal de fanatismo, não de pensamento político racional.

Nas primeiras notícias divulgadas, a operação israelense recebeu o nome, em hebraico, de “Pilar de Nuvens”, que é o significado genérico de Shekhinah – símbolo visível da presença divina – palavra que aparece várias vezes no “Êxodo”, a narrativa da fuga dos israelitas do Egito. Nesse caso, há interpretação mais específica.

Como se lê em vários versos típicos de Êxodo 14:20-21:

Então o anjo de D'us, que viajava à frente do exército de Israel, baixou e postou-se atrás deles. O pilar de nuvens também se moveu e postou-se atrás deles, plantando-se entre os exércitos do Egito e de Israel.

midrash [aprox. “explicação”] dessa sessão – citado por Rashi, o mais famoso comentador da Bíblia judaica, e que é ensinado em muitas escolas hebraicas – diz mais:

Eles [os egípcios] lançaram setas e catapultaram pedras, mas o anjo e o pilar de nuvens os desviaram.

Cerca de uma hora depois de o nome “Pilar de Nuvens” ter sido anunciado, o porta-voz do exército de Israel começou a usar, pelo Twitter, outro nome: “Pilar de Defesa”, como hashtag [#] nos tuítes em inglês. O novo nome imediatamente começou a aparecer em praticamente toda a mídia “ocidental”, e assim continua até agora.

Por que teriam mudado o nome? Talvez o exército de Israel tema que “a comunidade internacional” pense que os israelenses são fanáticos religiosos, doidos do tipo que acredita em pilares de nuvens mágicas de contos de fada, como alguma espécie de escudo divino. Nisso, o exército israelense acerta.

Eis o que é um Pilar de Nuvens:

... instanciação terrena de um D’us Todo Poderoso e vingativo, que aparece para demonstrar a primazia de seu povo escolhido, para guiá-lo nos casos mundanos e nos negócios, e para confundir seus inimigos.

Hamás (logo)
E o governo e o Estado que concebem e executam essa onda de assassinatos contra membros do Hamás e civis inocentes em Gaza atrevem-se a escolher esse nome, para encobrir seus crimes.

Se alguém ainda tinha dúvidas sobre o fanatismo religioso e o ódio racista galopantes que inspiram o atual governo de Israel, já não cabem dúvidas e há motivos, sim, para muita preocupação. Será que já não há qualquer via racional para defender a segurança de Israel e o próprio estado de Israel? Ou estará Israel, de fato, obrando numa agenda cujas raízes tocam fundo o misticismo e o fanatismo religioso?

“Pilar de Defesa” soa um pouco mais razoável a ouvidos seculares e, sim, esconde melhor o racismo israelense e o fanatismo que inspira seus ataques contra palestinos. (...) [1]

Usar ficções religiosas como motivação ou justificativa para guerras é uma espécie de salvo conduto para fazer guerra mais brutal, mais selvagem e mais mortífera. Ajuda também a esconder os motivos bem terrenos e seculares que, esses sim, empurram todas as guerras, ditas “religiosas” ou não.



Nota dos tradutores
[1]  Os tradutores optaram por não traduzir os parágrafos em que o autor demonstra que os palestinos também dão nomes “religiosos” às suas operações de defesa. Entendemos que, em guerra suja, desigual e injusta, não cabe nenhum argumento que vise a demonstrar que “os dois lados erram”. Ainda que errassem, os palestinos errariam menos que Israel, em todos os campos e em todos os sentidos. Qualquer tentativa de construir argumentos que visem a mostrar alguma isenção “jornalística” ou alguma posição de isenção pressuposta “ética” e “superior”, em guerra suja, desigual e injusta, é viciosa. Pela Palestina livre! 

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