quarta-feira, 2 de maio de 2012

The Economist Intelligence Unit - O sucesso de Dilma


A presidenta foi hábil ao desacelerar a economia e demitir funcionários acusados de corrupção Foto: Wilson Dias/ABr
A presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, desfruta de um nível de aprovação extraordinário para uma presidente em seu segundo ano de governo. Ela é mais popular que seus antecessores eram nessa fase de seus mandatos, apesar de uma série de escândalos de corrupção e da crescente oposição de membros de sua própria coalizão multipartidária, que se frustraram com sua relutância em distribuir suficientes cargos no governo e favores políticos. Rousseff também tentou realçar seu perfil no cenário internacional, mas os resultados foram mistos.
A popularidade da presidenta pode ser atribuída a sua hábil condução de uma desaceleração econômica (à qual seu governo reagiu com uma série de medidas de estímulo) e sua disposição a investigar e demitir ministros e assessores acusados de corrupção (seis de seus ministros renunciaram em seu primeiro ano no cargo). Seus índices de aprovação estão não apenas no nível mais alto desde que ela tomou posse, em janeiro de 2011, como também entre os melhores registrados para qualquer líder eleito democraticamente no mundo.
Segundo uma pesquisa de opinião do instituto Ibope feita em março, o índice de aprovação de Rousseff ficou em 77%, 5 pontos percentuais a mais que em dezembro de 2011. Isto se compara com 54% de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, na mesma fase de sua presidência (15 meses), e 57% para o presidente anterior, Fernando Henrique Cardoso. O apoio a Dilma é maior no nordeste (82%), mas também é alto no sudeste (75%), região que com frequência apoia a oposição. Isso mostra que sua base de apoio é mais extensa que a de Lula (cujos seguidores se concentravam no nordeste e entre os eleitores de baixa renda), e também reflete sua crescente popularidade entre as classes média em expansão, juntamente com um apoio ainda forte entre os brasileiros mais pobres.
 Governo firme mas flexível
Os eleitores parecem aprovar o estilo de governo firme de Rousseff, incluindo sua atitude decidida em relação ao Congresso. Ela recentemente conseguiu apagar outra rebelião do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB, de centro) e outros partidos menores de sua ampla coalizão. Também conseguiu a aprovação no Legislativo de algumas leis importantes, incluindo a reforma da aposentadoria dos funcionários públicos (Funpresp) e a Lei da Copa (que fornece a estrutura jurídica para os próximos jogos da Copa do Mundo de Futebol).
Mas enfrentou alguns reveses. Em 26 de abril os legisladores aprovaram um polêmico Código Florestal que põe em confronto ambientalistas e proprietários de terras sem os compromissos que o governo havia negociado cuidadosamente. Rousseff pode vetar a lei, mas esse veto pode ser derrubado por uma maioria simples dos legisladores. A lei atenua as regras destinadas a reduzir o desflorestamento, definindo a área de terras que os agricultores devem preservar.
De modo geral, porém, Rousseff demonstrou que seu estilo firme não significa necessariamente um estado de confronto e impasse permanentes com o Congresso. Ela se mostrou flexível e, quando precisou da aprovação de projetos específicos (como o do Funpresp), prontamente liberou algumas verbas para agradar a partidos aliados. As próximas eleições municipais em outubro de 2012 serão um teste importante da popularidade de Rousseff e do atual equilíbrio de poder dentro da aliança governante (especialmente entre o PMDB e o Partido dos Trabalhadores, no governo) e entre outras forças políticas antes da eleição presidencial de 2014. Supõe-se de modo geral que Rousseff disputará outro mandato.
 Política externa vacilante
As recentes incursões da presidente no cenário internacional também demonstraram sua firmeza, embora os resultados tenham sido variáveis. Ela intensificou suas atividades diplomáticas nos últimos meses, demonstrando um estilo firme em suas negociações com homólogos estrangeiros, incluindo os Estados Unidos. Em menos de dois meses Rousseff se reuniu com a chanceler alemã, Angela Merkel, e com os líderes de Rússia, Índia, China e África do Sul durante uma cúpula dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) na capital indiana, Nova Déli. Ela também teve uma reunião separada com o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, antes de se encontrar com o presidente norte-americano, Barack Obama, em Washington e participar da Cúpula das Américas na Colômbia em meados de abril.
Essas viagens ajudaram a elevar o perfil de Rousseff no plano internacional, mas não fizeram avançar de modo substancial as metas de política externa do Brasil. A começar pela visita aos EUA: Rousseff conseguiu incluir nas discussões a suspensão de um contrato militar que a Embraer (fabricante de brasileira de aviões) havia ganho com a Força Aérea dos EUA, e que mais tarde foi cancelado, exigindo que os EUA o honre. No entanto, a questão mais importante — o desejo do Brasil de ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (um objetivo da política externa do país há pelo menos duas décadas) — quase não foi mencionada. Rousseff não foi recebida como chefe de Estado e não recebeu o mesmo apoio que Obama deu ao primeiro-ministro indiano, que também quer um lugar no Conselho de Segurança.
Além disso, os repetidos ataques de Rousseff à “guerra monetária” causam incômodo na Europa e nos EUA há algum tempo, e o fato de ela ter insistido na questão durante suas reuniões com Merkel e Obama (assim como na Cúpula das Américas, mais tarde) causou certa irritação, especialmente na Alemanha. O fato de o Brasil culpar os países desenvolvidos pela guerra monetária, mas evitar cuidadosamente qualquer crítica à China (hoje o principal parceiro comercial do Brasil), não ajuda o argumento de Rousseff.
Com relação ao esforço do Brasil para consolidar sua liderança entre as economias emergentes, iniciativas como o comércio em moedas locais (descartando o dólar americano) ou a criação de um banco de desenvolvimento entre as economias dos BRICs (que funcionaria como um contrapeso ao Banco Mundial) têm pouca probabilidade de avançar em curto e médio prazo. O Brasil e outros países em desenvolvimento não conseguiram chegar a um acordo sobre um candidato comum para a presidência do Banco Mundial como alternativa ao candidato dos EUA, que afinal conseguiu o cargo.

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