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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Ah, o relógio

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...
Mario Quintana

domingo, 8 de agosto de 2010

As Mãos do Meu Pai

poemas de mario quintana para o dia dos pais

As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
— como são belas as tuas mãos —
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos...
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...
Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah, Como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.
E é, ainda, a vida
que transfigura das tuas mãos nodosas...
essa chama de vida — que transcende a própria vida...
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma...
(Mario Quintana)

terça-feira, 20 de julho de 2010

Reflexões do caderno H




Selecionei alguns textos que Quintana publicou no CADERNO H . Cada um deles nos leva a viajar por  muitas reflexões. Boa viagem.
COISAS DO TEMPO
Com o tempo, não vamos ficando sozinhos apenas pelos que se foram: vamos ficando sozinhos uns dos outros.

CUIDADO! 
A nossa própria alma apanha-nos em flagrante nos espelhos que olhamos sem querer.

TENHO PENA DA MORTE
Tenho pena da morte – cadela faminta – a que deixamos a carne doente e finalmente os ossos, miseráveis que somos... O resto é indevorável

MAS TUDO É NOVO DEBAIXO DO SOL
Resmungam os velhos – “Não há nada de novo debaixo do sol” – e nem se lembram dos que, neste momento, estão recriando o mundo: os poetas, as artistas, os recém-nascidos.

DA SAUDADE
A saudade que dói mais fundo – e irremediavelmente – é a saudade que temos de nós.

DO CONHECIMENTO
Tudo já está nas enciclopédias e todas dizem as mesmas coisas. Nenhuma delas nos podem dar uma visão inédita do mundo. Por isso é que leio os poetas. Só com os poetas se pode aprender algo novo.
NADA SOBROU
As pessoas sem imaginação podem ter tido as mais imprevistas aventuras, podem ter visitado as terras mais estranhas...Nada lhes ficou. Nada lhes sobrou.  Uma vida não basta apenas ser vivida: também precisa ser sonhada.
Mario Quintana in: CADERNO H
Foto: Liane Neves
By: Quintana Etern, via Com textolivre